-III-
‘Escravidão sempre...’
por Alberto de Souza Rocha
Reformador (FEB) Fevereiro 1988
De vez em quando a imprensa expõe situações dolorosas em que ainda hoje vive considerável parcela da Humanidade em diferentes pontos do Planeta. Em página dominical de 13/9/1987, ‘O Globo’ afirma em títulos avantajados: ‘Mundo tem 200 milhões vivendo como escravos’. A nota é de um correspondente em Londres, jornalista Jader de Oliveira, e dá conta de uma sociedade anti escravatura ainda lutando por esses ideais e de sua estatística, que justifica o título. Reporta-se a uma afirmação do porta-voz dessa sociedade, Sr. Alan Whitaker: ‘Embora não exista uma legislação, em qualquer país, que aprove a escravidão, ela ocorre em muitos pontos do mundo. Enfatiza especialmente a exploração do trabalho das crianças. Textualmente se lê: ‘Em Bangkok, até hoje, é possível comprar uma criança em frente à principal estação ferroviária da cidade por pouco mais de 100 dólares. E adita: ‘Esta é uma tragédia que tem de acabar’.
Ora, ‘O Livro dos Espíritos (1857), um monumento ao bom senso, adianta-se em conquistas de índole social sem descer ao chão dos conceitos político-partidários. Nele podemos ler hoje aquilo que, à época de seu lançamento, representava um avanço conceitual notável. Na Questão 54 está dito:
‘Todos os homens são irmãos em Deus, porque são animados pelo espírito e tendem para o mesmo fim’.
E na Questão 803 (comentário de Kardec):
”Todos nascem igualmente fracos, acham-se sujeitos às mesmas dores e o corpo do rico se destrói como o do pobre.”
A Questão 806 reconhece que as desigualdades sociais são obra do homem e não de Deus. Logo a seguir, na Questão 807 pergunta:
P.: Que se deve pensar dos que abusam da superioridade de suas posições sociais, para, em proveito próprio, oprimir os fracos?
R.: “Merecem anátema! Ai deles! Serão, a seu turno, oprimidos: renascerão num existência em que terão de sofrer tudo o que tiverem feito sofrer aos outros.”
Quanto ao problema do trabalho, a Questão 674 define-o como lei natural a que estão todos sujeitos; uma necessidade para todos. Longe, naturalmente, aqui, o sentido de castigo subentendido na expressão bíblica: “Comerás o pão com o suor do teu rosto.” E prossegue o estudo: Questão 684:
P.: Que se deve pensar dos que abusam de sua autoridade, impondo a seus inferiores excessivo trabalho?
R.: “Isso é uma das piores ações (...).”
Não seriam precisas outras palavras.
E, concordemos, ainda em nossos dias, aqui em nossa Pátria, com as melhores leis sociais, massas humanas ainda são aliciadas por empresas, em condições equivalentes ás de animais de carga, reunidas aos magotes e transportadas para áreas de produção pouco mais que a pão e água. São os chamados bóias-frias.
Naturalmente que, sem a chave da Reencarnação, a própria história da Humanidade permaneceria recheada de incógnitas relacionadas à Justiça Divina. Em verdade, como nos lembra Humberto de Campos (Espírito) na obra, que citamos enfaticamente, “Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho” (Pág. 202):
“Os Espíritos em prova no cárcere da carne têm a sua bagagem de sofrimentos expiatórios e depuradores, mas tem igualmente a possibilidade necessária para o cumprimento de deveres meritórios, aos olhos misericordiosos do Altíssimo.”
E Léon Denis, em “O Problema do Ser, do Destino e da Dor” (Págs 374 e 375, da 14ª ed. FEB:
“O gênio não é somente o resultado de trabalhos seculares; é também a apoteose,
a coroação de sofrimento (...). Sua elevação mede-se pela soma dos sofrimentos que passaram (...) Há como uma esteira luminosa que segue, no Espaço, os Espíritos dos heróis e dos mártires.”
Vem a pelo trazer a palavra do abolicionista Luís Gama (Espírito) em “Falando à Terra’, pelo médium F. C. Xavier:
“Escravidão! Escravidão! Quantos contrastes surpreendentes encerras! Não raro, o homem que se vale dos semelhantes para fins inconfessáveis, simplesmente estaciona, desditoso, na estrada, para favorecer o engrandecimento íntimo dos que o servem, quando não se impõe sobre os demais, arrojando-se, então, no desfiladeiro da miserabilidade.”
Recordemos ainda a palavra autorizada do grande José do Patrocínio, em “Parnaso de Além-Túmulo”, médium F.C. Xavier:
“Nova Abolição
Prossegue a escravidão implacável e crua...
Não mais senzala hostil, escura e desumana.
A incompreensão do amor, no entanto, continua
Em domínio cruel de que a treva se ufana.
Mas a luz do Senhor não teme, nem recua,
Na ansiedade e na dor, sublime, se engalana,
E, das graças do templo aos sarcasmos da rua,
Erige a liberdade augusta e soberana...
Irmãos do meu Brasil, encantado e divino,
Do Amazonas ao Prata ergue-se a Deus um hino
Que exalça no Evangelho a grandeza de um povo!
Fustiguemos o mal, combatendo a descrença,
Descortinando, além da noite que se adensa,
A alvorada feliz de um mundo livre e novo.”
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