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AS PENAS ETERNAS (C)
Diz ele: “Num artigo estampado no “Correio da Manhã”, seção F. E. Brasileira, acha-se a seguinte doutrina: “A alma é feliz ou infeliz depois da morte, segundo o bem ou o mal que fez na vida”.
“No mesmo jornal do dia 22/01/1918 esta outra: “Não há penas eternas: a salvação é universal; mas a culpa jamais ficará impune, o castigo é puramente moral”.
“Podemos resumir as duas doutrinas assim: A alma é feliz eternamente
Depois da morte, e é infeliz temporariamente, segundo o bem ou o mal que fez na vida.
“O mal é a antítese do bem. Se o bem produz a felicidade eterna, por que o mal que é a antítese do bem não produz a infelicidade também eterna?”
O meu amigo resumiu mal, misto é, não compreendeu o alcance da doutrina exarada nas teses dos dois artigos.
O progresso do Espírito é infinito e o articulista não disse, nem podia dizer que o Espírito é feliz eternamente por ter numa existência praticado o bem, pois é possível que na seguinte encarnação, em que ele tenha que voltar à Terra para continuar o seu progresso moral e científico, possa de novo transgredir a Lei.
A doutrina é esta: Quando o Espírito atingiu um ponto de progresso em que lhe é impossível a prática do mal, começa então a gozar definitivamente a paz e a tranqüilidade da consciência, o que constitui a felicidade relativa ao seu estado moral, felicidade, porém, diferente daquela que o amigo resume na palavra paraíso.
Nada adianta à tese a citação de opiniões de Tácito, Homer, Strabão, Valério, Máximo, Virgílio, etc. Contra a opinião destes pode-se citar a de centenares de outros que conheciam a lei da reencarnação, doutrina afirmada nos Vedas, a mais antiga tradição conhecida; doutrina que destrói por completo a das penas eternas.
E se o amigo observa a variedade dos sofrimentos da Humanidade, de certo há de dizer, consigo, que este sofrimento deve ter uma razão de ser, pois os que sofrem, na maioria dos casos, não têm, na sua presente existência, culpas que justifiquem as provações por que passam. E, se Deus criasse a alma para cada corpo que nasce, todos deveriam, pelo menos, ter saúde.
É bom que o meu nobre interlocutor estude sistematicamente o Evangelho e verá que nele Jesus prega a doutrina da reencarnação. Começando por João Batista, dele Jesus diz: “É este o Elias que havia de vir”, referindo-se Jesus ao penúltimo versículo do Velho Testamento, no qual o profeta Malaquias diz: “E eu vos enviarei o profeta Elias que venha o grande dia do Senhor”.
A Nicodemos, sem que este o interrogasse a este respeito, Jesus diz “que ninguém verá o reino de Deus sem nascer de novo”.
E quando Nicodemos lhe pergunta “como pode um homem velho entrar no ventre de sua mãe para nascer outra vez?”, Jesus responde: “Não te maravilhes de eu te dizer: importa-vos nascer outra vez”.
Repare bem esta frase: não te maravilhes Nicodemos que a ti te diga: É-vos (todos) necessário nascer de novo, sem o que não vereis o reino de Deus. Jesus deixou bem nítido a necessidade de reencarnação no ânimo de Nicodemos.
Renascendo as criaturas na Terra, para reparação e expiação das suas faltas passadas, cai por terra toda a sua lógica, a qual, aliás, é ilógica, visto que para um indivíduo merecer a eternidade das penas deveria com elas pagar eternidade de faltas, o que é impossível cometer-se em uma existência.
E dá-se mais: a criatura não pode ofender o Criador, pode tão somente ofender um ser igual a ela, e, segundo a doutrina dos Espíritos, isto só dentro da lei de Justiça Divina e de acordo com o que Jesus ensinou: “quem com ferro fere com ferro será ferido”. O pecador serve assim de instrumento voluntário e responsável da justiça, sem que Deus, no entanto, precise dele para que a sua justiça se cumpra.
E se o amigo se interessa de fato, para resolver para si, ao menos, o problema, recomendo-lhe a leitura da novela “Na Sombra e na Luz”, editada pela Federação Espírita Brasileira, novela ditada do Além por Victor Hugo e aí verá como se executa a lei da reparação e reconciliação dos Espíritos.
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