Tiago fala de Kardec
Reformador(FEB) 16.10.1921
Comunicação recebida na FEB,
em sessão pública de 3.10.1921,
comemorativa do aniversário de Allan Kardec.
“Paz convosco, amados irmãos meus,
É grande o meu prazer de estar convosco neste momento, por ver o interesse que tomais em recordar as coisas santas, porque é santa a obra do Espiritismo.
Procurai edificar-vos relembrando os fatos passados com aquele que foi o Codificador da doutrina espírita; sois gratos a esse espírito trabalhador, que baixou no cumprimento de uma nobre missão. Sabei, no entanto, filhos meus, que a principal virtude desse espírito foi a de não falir na missão que aqui o trouxe, pois muitos outros têm baixado à terra no cumprimento de um dever, dever que, como não ignorais, é sempre sagrado e têm falido. Quantos tem falido ao cumprimento desse dever!
Ninguém jamais baixou a este mundo sem um motivo para isso. Esta não é a vossa pátria verdadeira. Por aqui passais e repassais grande número de vezes e, todavia, esta não é a vossa pátria. Aqui vindes por diferentes motivos, aqui vos trazem as provações, compromissos tomados no Além para o desempenho de tarefas, muitas vezes sublimes. Mas, quantas vezes, ao baixardes a este mundo, da vossa memória se varrem as recordações do dever a cumprir e caminhais por estrada bem diversa da que deveis percorrer. Quantos amaldiçoam as provações, as dores e os sofrimentos, que, no seio do infinito, tomaram o compromisso solene que suportariam com paciência e resignação!
Deus a ninguém faz sofrer em vão; ninguém sofre dor física ou moral, ninguém é acicatado no corpo ou no espírito por acaso. Há motivo para isso e grave motivo.
Ao deixardes essa vida temporal, transpondo os umbrais da eternidade, sabereis o por que desses sofrimentos, pois a memória vos será avivada, o passado se desdobrará diante dos vossos olhos e podereis ver, certamente com tristeza, que não soubestes de tais provações tirar o proveito necessário ao vosso progresso espiritual.
Há, entretanto, espíritos de escol, almas de têmpera rija, dispostos ao serviço do seu Deus, que, tomando altos compromissos no Além, descem à Terra em missão e conservam a noção clara do dever que tem a cumprir e que consideram sagrado, porque de fato o é, sem vacilações, dão conta, jubilosos, do desempenho de sua tarefa.
Para as muitas provações, os muitos tormentos e as muitas dores, que os vão assaltando, eles encontram em si lenitivo na certeza que tem da necessidade do bom desempenho da sua missão e isto é o bastante para lhes dar alegria.
Allan Kardec não entrou em dúvida sobre o que lhe foi prescrito a respeito da sua missão, não viu nela utopia, não se encheu de vanglória, não se supôs criatura diferente de todas as outras.
Como servo humilde de seu Senhor, dispôs-se a executar as ordens recebidas, fiel ao cumprimento dos seus deveres. Considerando a obra que o Senhor lhe confiara e de que não se achava digno, humilde e com fervor, no recôndito de sua alma, no íntimo da sua consciência, elevando o seu coração a Deus, dizia: Senhor, dá forças ao teu servo para que ele possa cumprir a tarefa de que o encarregaste; dá-me alento e coragem, para que possa carregar dignamente o fardo que trago sobre os ombros.
Pois bem, meus filhos, é este exemplo que todos vós deveis imitar. Se a todos não cabe missão tão sublime, todavia a cada um de vós Deus tem confiado um dever e de todos vós espera alguma coisa.
Este edifício do Espiritismo Cristão vós o tendes de edificar pedra por pedra. Aquele sobre cujos ombros pese esse encargo que o faça leve, dando desempenho a tão grandiosa missão com humildade e com amor.
Pois bem, meus amigos, esse espírito cujo advento rememorais não está mais no seio da imortalidade, já se encontra de novo nesta oficina de trabalho. Ele ora e espera levar avante a sua obra. Kardec trabalha e trabalha com atividade e do alto do espaço baixam as bênçãos para fortalecê-lo e ampará-lo na continuação de sua tarefa. Auxiliai-o vós também na sua grande obra, ajudai-o na sua excelsa missão. De que forma?
Orando, pedindo a Deus a sua bênção para aquele que novamente trabalha na oficina santa, elevando as vossas almas até o trono do Criador, suplicando as graças do Senhor para que ele, sem falir, possa levar a cabo a sua pesadíssima missão.
Bendito seja Deus que abençoará o seu servo e glória a Nosso Senhor Jesus Cristo que amparará a mísera criatura, para que lhe não faltem as forças necessárias.
Deus os abençoe na intenção que tendes de praticar os ensinos do Cristo, pois desta forma é que o Espiritismo cristão progredirá nas almas.
A bênção do Senhor seja com todos vós. Tiago
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