‘A Doutrina Espírita’
por Luciano dos Anjos
Reformador (FEB) Setembro- Outubro 1970
Das obras de Allan Kardec e outras subsidiárias recolho a seguinte síntese da Doutrina Espírita:
- Deus é a inteligência suprema do universo, causa primária de todas as coisas. Deus é eterno, imutável, único, uno, todo poderoso, soberanamente justo e bom. Deus cria sem cessar e de toda a eternidade.
- Adora-se a Deus por meio da prece e pelo cumprimento de todos os deveres que nos são impostos pela moral cristã.
- A prece só é útil quando parte do coração. É ineficaz quando pronunciada apenas pelos lábios.
- Não existem fórmulas mais ou menos convenientes para se orar. Seria o mesmo que admitir conveniência boa ou má em orar neste ou naquele idioma.
- Jesus é o ser mais puro que até hoje se manifestou na Terra. Jesus não é Deus.
- A moral espírita é a moral do Cristianismo.
- Os maiores inimigos do homem são o rogulho, a vaidade, o egoísmo, a inveja e a ignorância.
- O mérito nosso está no sacrifício e praticamente deixa de existir quando o bem nada custa ou é feito sem trabalho.
- O trabalho é uma lei natural de Deus e o meio imposto ao homem para aperfeiçoar a sua inteligência, assegurar o seu progresso, o seu bem estar e a sua felicidade.
- Infringe a lei de Deus quem usa de sua autoridade para impor aos seus inferiores um trabalho excessivo.
- O matrimônio monogâmico é Eli natural de Deus e representa progresso da sociedade.
- Não tem mérito o celibato voluntário, pois não aproveita a ninguém.
- As mutilações do corpo do homem e dos animais é inútil. Para dominar a matéria terrestre basta praticar a caridade.
- Todos os homens têm igualmente o direito de usar os bens da Terra. Quem os amontoa para conseguir o supérfluo, em prejuízo dos que carecem do necessário, é egoísta e responderá pelas privações que fez sofrer.
- Deus pôs no homem o instinto de conservação para que o sustivesse nas provas, pois sem isso ele descuidaria da vida.
- O predomínio das paixões ou da natureza animal sobre a espiritual é que induz o homem à guerra.
- Quem tira a vida a outrem corta uma existência de expiação ou de missão e é culpado perante Deus.
- Duelar é crime, sendo costume digno somente de povos bárbaros. O chamado ponto de honra, com o que o querem justificar, não passa de orgulho e vaidade.
- A pena de morte é contrária à lei de Deus e um dia desaparecerá da legislação humana.
- Todos os homens devem concorrer para o progresso, ajudando-se mutuamente. O homem pode às vezes retardar, mas jamais impedir a marcha do progresso.
- Todos os homens são iguais perante Deus, têm um mesmo princípio e um mesmo destino.
- É impossível estabelecer a igualdade absoluta das riquezas. A diversidade das faculdades e dos caracteres opõe-se a isso.
- O home e a mulher são iguais perante Deus e têm os mesmos direitos. A Natureza dotou o homem com mais força para que ele a proteja e não para que a escravize.
- Uma legislação para ser justa deve consagrar a igualdade de direitos ao homem e à mulher, mas não a igualdade de funções, pois é preciso que cada qual tenha as operações que lhe são próprias e segundo as suas aptidões.
- O desejo do próprio morto de perpetuar com monumentos fúnebres a sua memória é o seu último ato de orgulho.
- Toda e qualquer crença é respeitável quando é sincera e conduz à prática do bem. Mas a melhor doutrina é a que faz mais homens de bem e menos hipócritas.
- A base da justiça fundada na lei natural está na afirmativa do Cristo: ‘Desejai para os outros o que desejardes para vós mesmos’.
- O primeiro de todos os direitos naturais do homem é o direito à vida.
- Somente é legítima a propriedade que se adquire por meio de trabalho e sem prejuízo de outrem.
- A melhor das virtudes é a que estiver fundada na caridade mais desinteressada.
- O homem não pode, na Terra, gozar a perfeita felicidade; mas depende dele dulcificar os seus males.
- Não há motivo para se ter medo da morte. A morte não existe. A doutrina materialista é a sanção do egoísmo, fonte de todos os vícios.
- O homem não tem direito de dispor da sua vida. O suicídio é o maior crime contar si próprio e contra Deus.
- Coexistem no homem 3 princípios: o corpo ou soma, animado pelo fluido vital; a alma ou Espírito encarnado, de natureza indefinível; e o perispírito, laço fluídico intermediário (espécie de invólucro semimaterial) que liga o corpo à alma.
- Alma é um Espírito que encarnou.
- O Espírito nunca perde a sua individualidade, quer antes d eencarnar, quer estando encarnado, quer depois de sua encarnação.
A alma manifesta a sua individualidade, no mundo dos Espíritos, por meio do perispírito que se modifica de acordo com o progresso de cada um.
- No momento da morte a alma experimenta sensação agradável ou desagradável, conforme houver sido a sua conduta durante a vida material.
- O conhecimento do Espiritismo influi sensivelmente na duração e extensão da crise da morte.
- Os pais transmitem aos filhos apenas caracteres morfológicos e hereditários, pois a alma é indivisível.
- A paternidade é uma missão. Os filhos são colocados sob a tutela dos pais para que estes os guiem no caminho do bem.
- Os animais também possuem uma alma, que se manifesta principalmente através dos instintos e do raciocínio elementar.
- Espírito é o princípio inteligente do Universo. Os Espíritos estão em toda parte e nada de natureza física lhes obsta a movimentação. Exceção feita daqueles que, involuídos, se supõem ainda sujeitos as contingências da materialidade.
- Todos os Espíritos foram criados por Deus simples e perfectíveis.
- O inferno e o paraíso não existem como lugares de castigo e de recompensa. É contrária a Deus a noção das penas eternas. O milagre também não existe.
- O demônio, no sentido que se liga a essa palavra, é pura fantasia. Se existisse seria obra de deus e, assim, Deus não teria procedido com justiça e bondade, criando seres consagrados eternamente ao mal.
- Os Espíritos podem permanecer estacionários na sua evolução, mas nunca retrocedem. A metempsicose (transmigração da alma dum ser humano para um animal irracional) não tem fundamento.
- Todos os Espíritos possuem livre-arbítrio para seguir o bem ou o mal. A idéia do fatalismo é falsa; existe porém um determinismo decorrente dos nossos próprios atos e da nossa própria liberdade de agir.
- Todas as percepções são atributos do Espírito e dele são parte integrante.
- O corpo material é sempre um obstáculo à livre manifestação das faculdades do Espírito, mas no Espaço ele recorda, se assim o desejar, as suas existências passadas.
- Anjo de guarda nada mais é que um Espírito de ordem elevada que nos assiste a permanência como encarnados na Terra e que nos aconselha através da nossa consciência.
- A vida espiritual é uma atividade constante. A ociosidade angelical seria um contra senso diante da incessante dinâmica universal.
- Nenhum sofrimento é eterno. Por isso Jesus afirmou que nenhuma das ovelhas se perderia.
(Ext. do Diário de Notícias de 9/8/1970)
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