O Encontro de Públio Lentulus[1] com Jesus
Páginas 78/79 do livro ‘Há 2000 anos...’
de Emmanuel por Chico Xavier (4ªEd especial FEB)
...“ Dando curso às idéias que lhe fluíam da mente incendiada e abatida, Públio Lentulus considerou dificílima a hipótese do seu encontro com o mestre de Nazaré. Como se entenderiam?
Não lhe interessara o conhecimento minucioso dos dialetos do povo e, certamente, Jesus lhe falaria no aramaico comumente usado na baia de Tiberíades.
Profundas cismas entornavam-lhe do cérebro para o coração, como as sombras do crepúsculo que precediam a noite.
O céu, porém, àquela hora, era de um azul maravilhoso, enquanto as claridades do luar não haviam esperado o fechamento absoluto do leque imenso da noite.
O senador sentiu o coração perdido num abismo de cogitações infinitas, ouvindo-lhe o palpitar descompassado no peito opresso. Dolorosa emoção lhe compungia agora as fibras mais íntimas do espírito. Apoiara-se, insensivelmente, num banco de pedras enfeitado de silvas[2], e deixara-se ali ficar, sondando o ilimitado do pensamento. Nunca experimentara sensação idêntica, senão no sonho memorável, relatado unicamente a Flamínio[3].
Recordava-se dos menores feitos de sua vida terrestre, afigurando-se haver abandonado, temporariamente, o cárcere do corpo material. Sentia profundo êxtase, diante da Natureza e das suas maravilhas, sem saber como expressar a admiração e reconhecimento aos poderes celestes, tal a clausura em que sempre mantivera o coração insubmisso e orgulhoso.
Das águas mansas do lago de Genesaré parecia-lhe emanarem suavíssimos perfumes, casando-se deliciosamente ao aroma agreste da folhagem.
Foi nesse instante que, com o espírito como se estivesse sob o império de estranho e suave magnetismo, ouviu passos brandos de alguém que buscava aquele sítio.
Diante de seus olhos ansiosos, estacara personalidade inconfundível e única. Tratava-se de um homem ainda moço, que deixava transparecer nos olhos, profundamente misericordiosos, uma beleza suave e indefinível. Longos e sedosos cabelos molduravam-lhe o semblante compassivo, como se fossem fios castanhos, levemente dourados por luz desconhecida. Sorriso divino, revelando ao mesmo tempo bondade e imensa e singular energia, irradiava da sua melancólica e majestosa figura uma fascinação irressistível.
Públio Lentulus não teve dificuldade em identificar aquela criatura impressionante, mas no seu coração, maravilhavam ondas de sentimentos que, até então, lhe eram ignorados. Nem a sua apresentação a Tibério[4], nas magnificências de Capri[5], lhe havia imprimido tal emotividade ao coração. Lágrimas ardentes rolavam-lhe dos olhos, que raras vezes haviam chorados, e força misteriosa e invencível fê-lo ajoelhar-se na relva lavada em luar. Desejou falar, mas tinha o peito sufocado e opresso. Foi quando, então, num gesto de doce e soberana bondade, o meigo Nazareno caminhou para ele, qual visão concretizada de um dos deuses de suas antigas crenças,e, pousando carinhosamente a destra em sua fronte, exclamou em linguagem encantadora, que Públio entendeu perfeitamente, como se ouvisse o idioma patrício, dando-lhe a inesquecível impressão de que a palavra era de espírito para espírito, de coração para coração:
- Senador, por que me procuras? .......
Nenhum comentário:
Postar um comentário