Os Originais
(comentários sobre o Cristianismo primitivo)
Ao folhear exemplares diversos do Evangelho de Jesus, conforme edições de distintas igrejas, sempre me deparei com a afirmação taxativa:
“A tradução foi feita a partir dos textos originais.”
Ora, onde estariam esses originais, perguntava eu. Teriam sido eles preservados desde os tempos de Jesus? De que material precioso estariam escrevendo, documentos embebidos do mesmo ar que respirou Jesus em sua caridosa estada na Terra e com as mesmas vibrações de amor que seus discípulos multiplicaram ao longo de seus apostolados, quase todos banhados de muita dor e sofrimento mas também de muito amor e dedicação.
Bem, grande foi minha decepção ao cientificar-me que os “originais” a que se referiam eram, na realidade, cópias datadas de longos e obscuros períodos quando nossos irmãos enfardados de soldados do Senhor se permitiram inúmeros erros de dolorosíssima reparação. Assaltou-me a dúvida: Teriam esses irmãos fraudado o registro histórico da mensagem de Jesus?
Sem resposta, silenciei-me até a releitura de “Paulo e Estevão”, obra mediúnica de Emmanuel em psicografia do não menos querido Chico Xavier. Ali, encontrei a chave para muitas dúvidas, não no vibrante relato sobre Estevão, o primeiro mártir do Cristianismo, nem na conversão de Paulo em Damasco, nem nas suas lutas contra o farisaísmo dominante, nem mesmo nas duras viagens do Apóstolo por toda a antigüidade quando levou a palavra de Jesus aos rincões mais distantes mas, sim, em seus detalhes mais sutis que tentarei destacar, no que se refere à origem dos Evangelhos.
Até a forma de apresentação de “Paulo e Estevão” suaviza a aceitação de seu conteúdo. Modestíssimo, Emmanuel não nos impõe a verdade histórica mas, apenas, a apresenta sob a forma de um romance de conteúdo de amor impossível de negar-se-lhe veracidade.
Somos todos reencarnacionistas e, como tal, como negar a palavra daquele que, com sua obra literária calcada no amor e na esperança, nos mantém de pé nas provas desta encarnação?
Retomemos a história em Jerusalém, no ano 34 de nossa era ou seja, pouco após o martírio imposto a Jesus Cristo. Toda a igreja de Cristo se resumia numa casa humilde, onde Simão Pedro; João, filho de Zebedeu; Tiago, filho de Alfeu e irmão de Levi, o ex-coletor de impostos e que ficou para a história como Mateus; Filipe e suas duas filhas e outros irmãos se revezavam no atendimento a coxos, cegos, mendigos, leprosos, órfãos, idosos e demais sofredores. Era o evangelho vivo, praticado em caridade e amor ao próximo, todos numa grande família em Jesus Cristo.
Já nessa época, os textos novos de Mateus estavam disponíveis sob a forma de simples anotações. Após lê-las pela primeira vez, Estevão assim as descreveu:
“Encontrei o tesouro da vida, preciso examiná-lo com mais vagar, quero saturar-me da sua luz, pois aqui pressinto a chave dos enigmas humanos.”
Corria o ano de 35. Estevão, Simão Pedro, João e Filipe estavam já agora diante do Sinédrio em julgamento por suas atividades religiosas no Caminho. Dentre os rabinos que compunham o Sinédrio havia um, de nome Gamaliel, já entrado nos anos, pessoa de grande sabedoria e dotado de muita moderação.
Para seu melhor julgamento, resolveu Gamaliel visitar o Caminho. Lá estando, “...recebeu e levou consigo, para estudo, de Simão Pedro, uma cópia, em pergaminho, de todas as anotações de Mateus sobre a personalidade de Cristo e seus gloriosos ensinamentos.”
O julgamento termina e por apelo de Gamaliel, conseguiu-se que Pedro Simão e Filipe permanecessem em Jerusalém. João, porém, seria banido e Estevão, lapidado.
Paulo de Tarso, cego quanto à interpretação das leis de Deus, chefia dura repressão aos judeus e aos frequentadores do Caminho. Decide, inclusive, estender sua ação até Damasco, na perseguição de Ananias, outro pregador cristão. A caminho de Damasco, Paulo recebe a dádiva da presença de Jesus Cristo, se converte e perde a visão. Seus velhos amigos de Damasco o tomam como louco e é Ananias que lhe impõe as mãos e, por vontade do Pai, lhe restitui a visão. Segundo a pena de Emmanuel, era a ovelha perseguida que vinha buscar o lobo voraz...
“Na oportunidade, Paulo de Tarso pede a Ananias cópia do Evangelho. Ananias lhe responde que, a íntegra do documento estaria depositada no Caminho mas que ele dispunha, ali, de suas anotações pessoais. Paulo as retém e as copia para estudo.”
Para Paulo, chegava o momento de profundas meditações sobre seus novos rumos, ainda por recomendação do velho pastor de almas: Ananias. Foram 3 anos no deserto, subsistindo como tecelão, num oásis próximo a Palmira. Trabalhava para o comerciante Ezequias, irmão de Gamaliel, o rabino.
“Antes de partir, recebe, de Gamaliel, cópia integral das anotações de Mateus (Levi) que Gamaliel, por sua vez, havia recebido de Simão Pedro quando da visita ao Caminho”.
A posse destas anotações como que certificavam a conversão de Paulo ao Cristianismo. Estevão e sua irmã Abigail, noiva de Paulo, desencarnados, permaneciam como mentores de Paulo. Gamaliel parte para o plano espiritual no período de permanência de Paulo no deserto.
Paulo retorna de Damasco para Jerusalém. Estamos, aproximadamente, no ano 38. O diácono Prócoro o recebe no Caminho. Como antecipado, Paulo como que comprova sua conversão apresentando as cópias de Mateus.
Chegamos a 42, quando Paulo é visitado por Barnabé que pede seu concurso junto a Igreja de Antióquia. Grande era a presença dos rejeitados do mundo às reuniões daquela igreja. De Antióquia para Selêucia, para Panfília, para Pisídia, Perge, Antióquia de Pisídia, Listra etc, e, mais adiante no tempo, para Roma, Espanha e França onde a palavra do Senhor se espargia lenta mas seguramente por toda a antiguidade.
Junto, seguia, o Evangelho de Mateus, do qual foram feitas cópias e cópias.
“Foi também Paulo de Tarso que estimulou aos seus pares que iniciassem outras versões do Evangelho de Jesus pois, notava ele, que Mateus desconhecera algumas passagens importantes acontecidas durante a peregrinação do amado Jesus à Terra.”
Por 300 anos, os cristãos muito sofreram por sua fé. Com isso, muitas cópias dos Evangelhos foram perdidas. Porém, algumas dessas cópias resistiram ao tempo e à ação do poderosos até o 4º século, (anos 300) quando Jerônimo, feito santo pelos seus pares, a pedido de Damaso, papa, uniformizou as versões então existentes, mediante estudo comparativo, vertendo-as para o latim e dando a esse trabalho, de consolidação, o nome de Vulgata, trabalho até hoje preservado. Jerônimo, segundo seu próprio testemunho, firmado em “Obras”, de sua autoria, diz:
“ -Corrigi unicamente o que parecia alterar o sentido, conservando, o resto tal qual estava.”
Assim, de retoque em retoque, chegamos ao Evangelho de Mateus como é conhecido hoje.
Não importa.
Nós, espíritas, buscamos apenas o espírito que vivifica e assim, seguimos desfrutando da mais bela mensagem de amor jamais recebida pela Humanidade.
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