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quarta-feira, 20 de abril de 2011

Os Ricos

Ricos

 “Contam que antes de encerrar o colóquio com o Mestre, o moço rico inquiriu:

   -Senhor, que galardão será oferecido àqueles que, embora pobres, sem terem a que renunciar, seguirão contigo?

   -Ser-lhes-á concedido o Reino dos Céus.

    -Terão eles, porventura, o mérito que reivindicam os ricos que tudo abandonaram para te seguir? Estes trocaram os tesouros do mundo pelas excelências do Paraíso. E eles, que deram, se nada possuíam?    

   -Enganas-te! Ricos não são somente os detentores das moedas guardadas em cofres da usura sombria que o tempo gasta. A mocidade é também valioso tesouro de inapreciável valor. 
Enquanto alguns a gastam impensadamente, usando-a no prazer, para despertarem na velhice prematura, eles ofereceram a renúncia pelos gozos terrenos. A saúde é igualmente um poderosa fortuna que não pode ser comparada a jóias saídas da terra nem às peças de ourivesaria. Muitos a utilizam no jogo ilusório da carne, em antros de sedução, para serem surpreendidos pela enfermidade e o desgaste orgânico. Eles, porém, permutaram-na pelo dever puro e nobre de construírem uma felicidade imperecível. A pureza é inestimável posse. Enquanto alguns a aplicam na volúpia da vida carnal, eles lutaram para conservá-la, sofrendo múltiplos embates por amor ao Evangelho. A austeridade é valor insuperável. Nas refregas comuns, para granjearem posição, muitos se fazem comparsas no crime, enquanto eles tudo perderam para tudo ganharem depois.

   Com vês, é muito mais fácil renunciar às moedas do que às concessões da juventude; trocar as arcas abarrotadas de ouro pela saúde. Muita gente, na Terra, ofereceria todos os poderes para retornar à pureza e à inocência, guardando a austeridade nos cofres da honradez...

            A juventude que labora pode armazenar haveres; a saúde que se aplica pode entesourar poderes; a pureza que se conduz adquire prestígio e a austeridade que se irradia comanda homens. Todavia, ninguém soube de qualquer valor amoedado que restituísse a alvorada dos anos nem recuperasse totalmente a saúde perdida. Nenhum prestígio, no mundo, retribui a inocência que se corrompeu, nem servidor algum repôs, no íntimo dalma, o caráter que se poluiu...

            Ricos, de verdade, não são os mordomos do dinheiro e das terras, senhores de escravos e animais que morrem ou passam de mãos. A maioria deles têm muito e são escravos do que têm, encarcerados nas paredes frias do poder que se desvaria e entenebrece. Rico, porém, é todo aquele que tem a alma livre de compromissos sombrios sendo senhor de si mesmo; que, nada possuindo, é feliz sem ter coisa alguma, e, dispondo da saúde e do amor no coração, entrega-se ao serviço do bem, por amor ao bem.

          De tais é, sem contestação, o Reino da Alegria Perene, ou daqueles que, dispondo de outros recursos em títulos e moedas, distribuam-nos aos pobres para a alegria de todos e a felicidade própria.

          -Compreendo...

           E como se afastasse o moço, irresoluto e sombrio, o Mestre enunciou, e o apóstolo Marcos registrou no Capítulo 10, versículo 23: “-Quão dificilmente entrarão no reino do Deus os que têm riquezas!”

                                                                      Pe. Natividade
por Divaldo Franco
em 9-4-1961 (Salvador, Bahia.)



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