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entimos, por vezes, necessidade de render culto aos nossos queridos
que nos precederam na jornada para o Além. É o reconhecimento
das qualidades que os distinguem; qualidades essas que nem sempre
soubemos apreciar devidamente, quando os tivemos ao nosso lado.
Os maus, quando partem, deixam no meio em que viveram
uma impressão de alívio; os bons, uma sensação de vácuo.
Esse vácuo é a saudade.
A saudade tem gamas e tonalidades como o som,
nuanças como as cores refletidas pela luz.
A saudade é um sentimento agridoce, isto é,
um misto de doçura e amargor.
Entre essas duas propriedades, ela oscila como o fiel da balança.
A saudade pode compor-se de amargor e doçura nas mesmas proporções.
Isto se dá, quando jamais ofendemos aqueles que ora se encontram no Além.
A saudade é mais amarga que doce, sempre que a consciência nos acusa
de termos sido injustos com aqueles que hoje se acham separados de nós,
no outro plano da vida.
A saudade, finalmente, será muito mais cheia de doçura que de amargor,
quando fizermos todo o bem ao nosso alcance aos seres ora ausentes;
quando, em suma, realmente, lhes dermos o nosso amor,
reconhecendo suas aptidões e relevando seus senões.
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Por que havemos de reservar o melhor do nosso afeto àqueles
que o destino colocou ao nosso lado, para depois de sua partida?
Membros das famílias terrenas - estes ou aqueles - amai-vos uns
aos outros, desde já, aqui na terra, para que o vosso amor continue no céu.
Assim procedendo, a saudade que vierdes a experimentar um dia,
será doce e suave; será um sentimento que contribuirá para aumentar
a vossa ventura quando, de novo, vos reunirdes aqueles que vos
são caros e cuja ausência tanto lamentais.
Jamais alguém se arrependeu de amar e de haver perdoado.
Das injustiças e do desamor resultam as lágrimas que se choram
na Terra e os lamentos que ecoam nos profundos recôncavos do espaço.
Vinícius
Pág. 199 ano 1934 Reformador (FEB
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