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quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

A Verdade nos libertará...


A Verdade nos Libertará
Djalma de Matos
Reformador (FEB) Agosto 1955

            Para o espírita cônscio dos deveres que tem de cumprir, e da grandiosidade do destino que o espera, todos os esforços e preocupações devem tender a um fim último e primordial - a conquista da verdade.

            Jesus disse: "Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará."

            A verdade, porém, para nós habitantes da Terra, míseros calcetas dum mundo de imperfeições é assaz rudimentar e precária. Está condicionada ao grau de evolução mental de cada um de nós.

            O que parece verdade para uma criatura humana, rústica e boçal, já não o é para o civilizado. É o que pode ser considerado como tal para um civilizado comum, já deixou de ser para o intelectual que perquire, estuda e raciocina.

            Para cada indivíduo, como para cada geração, muitas coisas que ontem foram tidas por verdade, hoje já não o são - e muita verdade de hoje, não o será amanhã.

            O Universo, para os nossos antepassados não muito remotos, se circunscrevia à face do planeta na qual viviam, no chão que pisavam, com o mar, o céu a lua e as estrelas. Essa era para eles, há quatrocentos anos, a verdade em relação à Terra, que tinham por achatada e fixa, e no alto, sob a abóboda celeste, o Sol descrevia diariamente o seu giro circular.

            E quando o sábio matemático Galileu, no princípio do século décimo sétimo,  confirmando e ampliando a teoria de Copérnico, com dados seguros extraídos de seus estudos e investigações científicas, revelou ao mundo que a Terra é redonda, gira sobre si mesma e se move em torno do Sol, foi, pelos julgadores infalíveis da época, obrigado a abjurar de joelhos, na avançada idade de setenta anos, essa verdade hoje corrente e incontestável, classificada por eles de heresia, sob pena de ser queimado vivo nas fogueiras da Inquisição.  

            Em face do exposto, ninguém na Terra se poderá presumir de detentor da verdade absoluta. Quando muito, o será de aspectos fragmentários da verdade, que o habilitem ao título de sábio entre os homens.

            Quem se tenha por senhor absoluto da verdade, neste mundo contingente de aparências e ilusões, seja embora muito instruído, não passará dum pobre pretensioso com fumaças de sábio, a quem o orgulho e o amor-próprio impedem de perceber que, se muito sabe e muito aprendeu, muitíssimo mais lhe falta aprender e saber.

            Há muitos que se presumem de sábios e infalíveis, sem que tenham sequer o conhecimento de verdades elementares, como a da compreensão da existência de Deus e da imortalidade da alma, - conhecimento este que é comum até mesmo entre as criaturas humanas de mentalidade rudimentar.

            Para a Humanidade terrena, por conseguinte, a verdade é sempre incompleta e relativa, mas os espíritas sabemos que a vida não começa com o nascimento e nem termina no túmulo. Outras existências já temos passado na face do Planeta; nele já temos encarnado e desencarnado muitas vezes, e muitas outras vezes havemos de encarnar e desencarnar na sua superfície, para o fim de nos purificarmos e aperfeiçoarmos em espírito. E, depois de chegarmos a um certo grau de adiantamento, passaremos a viver noutro planeta mais evoluído, encarnando em corpos de matéria menos pesada, menos grosseira, para, completado o ciclo de evolução correspondente, passarmos a outro planeta ainda mais avançado em progresso, tomando corpos cada vez mais leves, mais sutis, de acordo com o grau de aperfeiçoamento que tivermos atingido, até alcançar-mos a condição de espírito puro.      

            Sabemos, assim, que, após cada encarnação e correspondente período de vida livre no plano espiritual, mais nos aproximaremos da verdade - da verdade que um dia nos libertará. E isto há de acontecer quando, purificados, deixarmos de ser escravos do pecado, pois Jesus, tendo dito que a verdade nos libertará, respondendo a uma objeção dos fariseus, elucidou: "- Em verdade, em verdade vos digo - todo o que comete pecado é escravo do pecado. O escravo não fica na casa para sempre; o filho é que fica para sempre. Se, pois, o filho vos libertar, sereis realmente livres." (João VIII, vers. 32 a 36.)

            Para Jesus, portanto, o pecado, que é a cegueira da maldade, da ignorância e do fanatismo, é, como a mentira, a antítese da verdade. Mas, dizendo ele que o escravo não fica para sempre na casa, e sim o filho, quis expressar que nem sempre o homem ficará pecador. O filho, ou seja ele próprio, Jesus, ou o seu Evangelho de sabedoria e amor, com o qual se identifica, está sempre na casa, isto é, está sempre presente para aquele que o queira procurar para libertar-se pela luz do conhecimento - pois que, noutra oportunidade, explicou claramente: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida”.

            Eis porque o espírita consciente e esclarecido, sabendo embora que a verdade para ele será aqui incompleta e relativa, que jamais a alcançará íntegra e pura sobre a Terra, age sempre, se esforça e luta, no sentido de conquistá-la.

            Sabe que, se não a pode alcançar neste mundo de expiação e provas, onde ainda reinam as paixões e predominam as ilusões da matéria, um dia, depois de passar pela experiência de múltiplas encarnações, aqui e noutros planetas mais evoluídos, há de adquiri-la e tornar-se livre inteiramente da escravidão do pecado.




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