Trecho de um artigo sob título ‘Lendo e
Comentando’
publicado em Reformador (FEB) Março 1962
...não vemos como possa
haver tanta oposição à ideia de um Espiritismo cristão. A palavra cristão, no
transcorrer dos séculos, parece ter adquirido uma nova acepção,
transformando-se em rótulo de certas formas de religião ortodoxa, em vez de
conservar a sua significação primitiva envolta em doces harmonias espirituais.
Ser cristão, hoje, não é o mesmo que foi ser cristão no primeiro século do
Cristianismo. O cristão de nossos dias é aquele que aceita determinados
conjuntos de ideias mais dogmáticas ou menos dogmáticas e pratica certas formas
de ritos rigidamente prescritos e dos quais não se pode desviar, se quer
permanecer no seio de sua comunidade religiosa. O primitivo cristão, muito
antes de quaisquer dogmas e ritos, era uma criatura de coração simples, aberto
às verdades superiores do espírito. O Cristianismo era todo um programa de
vida, 24 horas por dia e não meia hora por semana, nos serviços religiosos aos
domingos. Com o perpassar dos séculos, burocratizou-se e estiolou-se uma bela
forma de culto religioso. Ainda há pouco um amigo, pertencente aos quadros de
uma das religiões ortodoxas, me dizia que vai à igreja aos domingos como se fosse
ao seu escritório, "bater o ponto" semanal, cumprir uma obrigação
burocrática, na qual certamente não põe o seu coração. Poderão dizer-me que, do
ponto de vista estritamente ortodoxo, esse amigo é um verdadeiro cristão, com o
que não poderei concordar, pois que uma religião que não oferece aos seus
adeptos uma satisfação profunda e uma serena tranquilidade espiritual, deixou
de cumprir sua finalidade. No entanto, ele aceita e admira os ensinamentos do
Cristo...
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