Fraternidade, Fraternidade!
Léon Denis
por Divaldo Franco
Reformador
(FEB) Julho 1971
No
momento em que o homem terreno realiza uma pausa na corrida armamentista para sondar os espaços infinitos; no instante em
que as experiências espaciais coletam dados antes imensuráveis e informações preciosas;
na hora em que a Terra experimenta, sofregamente, a dissolução dos costumes e uma dor
angustiante se espalha por todos os quadrantes, conclamando as personalidades
esquizóides ao suicídio e a posições inomináveis no campo da personalidade; no
período em que as guerras calamitosas abrem as fauces hiantes, dilacerando as estruturas
sociais da Civilização e exaurindo as inesgotáveis fontes de confiança do
espírito humano; quando a Ciência atinge as mais elevadas manifestações do
conhecimento tecnológico e o homem, simultaneamente, caminha obumbrado pelos
corredores da amargura, retido ainda nos bastiões da ignorância e da loucura,
merece que façamos uma análise dos acontecimentos da História Universal e
fazendo-a, recordemos as epopeias que se desenrolaram às margens dos rios que
foram matrizes das nobres culturas da antiguidade
oriental: o Nilo, o Tigre, o Eufrates, que prosseguem no ritmo multimilenário das suas
águas, lambendo os alicerces das cidades do passado, que pareciam fadadas à Eternidade e
sucumbiram, seguindo modorrentas, lavando as pedras que se desconjuntaram das
grandes construções ou que mergulharam no hoje fantástico açude, em Assuan, quase não mais
evocando a memória semimorta dos povos pretéritos que, então, retornam à nossa
mente indagadora: assírios e babilônios, os que viveram na opulência de Nínive
ou na grandeza da Média, da Pérsia, como nos colossos do Egito, com suas cidades faustosas, sejam
Alexandria ou Menfis, caracterizadas pelo poder e pela abundância,
transformadas em metrópoles que pareciam desafiar a posteridade dos tempos e o
suceder dos espaços...
E
com elas lembramos os construtores de impérios e os vencedores de exércitos que comandaram tropas sanguinárias, para serem
vitimados logo após pela própria irracionalidade de propósitos, como sucedeu a
Dario I e Assurbanipal, a Salmanazar e a Baltazar, a Nabucodonosor e Hamurabi,
aos dois Sargãos e aos gloriosos dominadores das semi-eternas dinastias
egípcias, que duraram um dia, mas de cuja glória somente as pedras talhadas guardam descoloridas impressões,
refletidas nas gastas efígies que o passar ininterrupto dos tempos, em vendavais contínuos,
como o atritar incessante das areias em convulsões no intérmino das eras
modificaram profundamente.
*
Recordamos
as glórias dos seus estados títeres e depois o desertar dos povos que os abandonaram, transformando-os em cidades mortas,
- advertências graves à história do futuro nos seus fundamentos inabordáveis e
raramente aproveitados! - Atingimos, pelo pensamento, as civilizações mediterrâneas da
Europa, alcançamos o Egeu e evocamos a grandeza da Hélade, para logo após revermos Roma
diante do Tirreno, recém-saída do Lácio, e sentir lhe as conquistas fabulosas
que da Península Itálica à Ibérica se transformaram em matrizes de novas
culturas dando origem a cidades que se converteram em amontoados tristes, com
as vidas fanadas sejam originadas nas imensas e longínquas estepes nevadas ou hajam descido das cordilheiras
quase inacessíveis, como consequência dos exércitos de Alexandre, o macedônio,
ou. remanescentes de Cambises, o persa, ou hajam surgido com os grandes conquistadores
mongóis e bárbaros, rastreadas de sangue, cobertas de cinzas, sepultadas em
lama ou afogadas pelos rios das lágrimas, vítimas dos Impulsos, sob cujo guante
caíram, no furor das loucuras dominadoras de um momento, passando a intérminas
aflições de muitas gerações.
Rememoramos,
também, o esforço da Cultura, tentando libertar-se da ignorância medieval, para estabelecer o empirismo indagador,
a espocar, logo depois, no renascimento das ideias e das artes abrindo à
História novos fastos e novas glórias que culminaram na Revolução da França,
quando se pretendeu estabelecer os “direitos do homem” e proclamar os ideais
consubstanciados na liberdade, que é a lei da Vida, na igualdade, que é a
materialização daqueles Direitos humanos,
e na fraternidade, que é o corifeu das duas outras, a fim de sentir o eclodir
das paixões que gritavam nas turbas vitoriosas de Napoleão e foram desmoralizadas pelo
Carbonário, mais tarde ao trair os ideais da República através do restabelecimento
da decaída Monarquia ...
Relembramos
os colossos e aflições das lutas intérminas pela hegemonia dos Estados Italianos, pela reorganização da Prússia, pelas
ambições dos Estados Latinos e Anglo-Saxônicos, para, nesta atualidade, rever a
Humanidade dividida novamente em 3 grandes blocos, decorrentes do egoísmo
dominador: subdesenvolvida, desenvolvida e terceiro mundo, na vã quão louca
correria da dominação totalitária para estabelecer na Terra o estágio da posse
bélica, tão transitória quanto as expressões da vaidade que perpassa como quadra primaveril e morre entanguido da realidade
do Tempo.
Somos,
então, impelidos a recordar Jesus, o Esteta da Fraternidade legítima, sulcando o solo dos corações e plantando na terra do amor
os pilotis do santuário da compreensão humana, instaurando de logo o Reino da
Tolerância, tendo como alicerce a Manjedoura de humildade e como ápice os
braços rasgados de uma cruz de infâmia, formando todo um cendal de estrelas
para aqueles que aspiram à imortalidade e à vida.
Ainda
aí, todavia, evocamos mil disputas humanas, as “guerras de Religião” que
ocultavam, nas suas manifestações intestinas, as ambições cruéis da política
ultramontana dos homens, sempre ávidos pelas posições de destaque e do relevo
mentiroso que se esfumam e convertem em cinzas da ilusão, como resultado do
fogo desaparecido, ora reminiscências amargas...
Despertamos
hoje, porém, em pleno fastígio do Espiritismo cristianizante, que recoloca as
balizas do período da fraternidade ideal no mundo de angústias, dando início à era do amor precioso para a elaboração verdadeira
da felicidade no país desconhecido dos corações.
Diante
das conquistas inabordáveis do homem, homem que já se fez hóspede inusitado do
satélite pardo-acinzentado da Terra, somos constrangidos a reconhecer a vitória
do engenho humano sobre as barreiras antes intransponíveis do seu habitat e simultaneamente verificamos a
inexequibilidade das suas conquistas face às ambições desvairadas que o
governam e as pretensões de transformar, talvez, Selene dantes sonhadora em
base míssil, para atacar os países ditos adversários, que se anteponham às
ambições totalitárias dos governos arbitrários e loucos que sempre sonham com
Estados Moloques, cujas rédeas desejam reter nas mãos inábeis e nos espíritos
furiosos.
Repetimos:
Fraternidade, Fraternidade!
Disputavam
antes o teu nome qirondinos jacobinos e
proclamavam-te Robespierre e Danton, Marat e Condorcet, nos dias da loucura e
do Terror; fazendo que silenciasses a voz sob o caudal de sangue que corria da arma de
José Guilhotin. Sobreviveste, porém, e cantas aos ouvidos do mundo a epopeia idealista
dos dias de amanhã. Quando, cansado e sofrido, o espírito humano compreender que é
necessário amar, que a evolução depende do conhecimento mas também de ti, então
voltarás triunfalmente à Terra de todos, para abraçares os homens numa só família. Nessa hora,
o Rei Apoteótico e Singular, vencedor da sepultura vazia e da morte, cantará aos
ouvidos do mundo a melodia do gozo decorrente da paz em pleno milênio de luz,
que já agora amanhece, não obstante o crepúsculo profundo que experimentamos
através de dores ásperas.
...E
para que não tardem as primeiras claridades do empreendimento sublime e do entendimento entre os homens, demo-nos as mãos
como elos preciosos da corrente da vida, onde quer que estejamos, vivendo a
Fraternidade de agora: na célula da família ou no organismo da sociedade onde mourejamos, para que
ela possa agigantar-se por toda a Terra partindo de nós, os cristãos novos que,
acreditando na Imortalidade, vivemo-la desde hoje, mediante o intercâmbio puro e santo entre
as duas esferas da vida, bendizendo o nome - Fraternidade, Fraternidade! - e esparzindo
amor.
Léon Denis
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