Bezerra e o Pacto Áureo
por Indalício Mendes
Reformador
(FEB) Dezembro 1970
Quanto mais se agrava a situação moral do
mundo, mais crescem as responsabilidades dos espíritas. A pregação da Doutrina
assume, por isso mesmo, maior importância, pela necessidade de desfazer o
nevoeiro materialista, destinado a encobrir a Verdade, disseminando teorias
falsas, enganadoras e nocivas, que levam o homem desprevenido à violência, à
indisciplina e ao ateísmo. A seriedade dos preceitos do Espiritismo Evangélico
não admite, evidentemente, o lirismo piegas e sem substância, que pode levar ao
desinteresse.
Nem
o fato de se tratar de uma doutrina perfumada pelo Evangelho, significa seu
desligamento do Espiritismo experimental. A clareza e a objetividade são
virtudes inerentes à Doutrina codificada por Allan Kardec, pois no Espiritismo
Cristão nada há que não seja evidente, simples, positivo e racional.
Vivemos dias agitados, em que a violência,
a pornografia e a mentira atuam de mãos dadas, ao estímulo de uma demagogia
oculta sob o manto de Proteu. A juventude tem sido o alvo predileto dos que
empunham a bandeira negra do negativismo. Os jovens são iludidos e explorados
de muitas maneiras. Adulam-nos para melhor desencaminhá-los, neles inoculando o
vírus da rebeldia, dentro e fora do lar, com o fim de corromper e destruir a
família, a pretexto de se estabelecer uma liberdade diferente, cujas
consequências serão tristíssimas, a começar pela escravização ideológica, muito
pior do que os jovens podem imaginar.
Pregar
e interpretar a Doutrina espírita é trabalho delicado, pois exige seguro
conhecimento do Espiritismo codificado por Allan Kardec. Mas a melhor pregação
está no exemplo, no comportamento espírita, em quaisquer circunstâncias. Kardec
adverte: “Pode-se ser enganado pelas aparências, donde resulta que a qualificação
de espírita, não comportando mais que uma aplicação falha, não constitui
recomendação absoluta e essa incerteza lança nos espíritas uma espécie de desconfiança,
que impede se estabeleça entre os adeptos um laço sério de confraternização”.
É o comportamento que situa a posição do homem no mundo moral. É o
comportamento que define o espírita. Todos nós - principalmente os que escrevem
ou falam sobre o Espiritismo - estamos sujeitos também a sofrer injustiças, a
ser julgados com excessiva severidade, não raro por quem não possui legítima
autoridade para fazê-lo. Muitos desses, vivendo à margem do comportamento
espírita, se transformam em julgadores implacáveis e impenitentes. Devemos
torná-Ios à conta de obstáculos que nos cumpre superar com paciência, coragem e
fé.
Isso
é muito comum. Portanto, devemos
reforçar a preocupação constante de resguardar o Espiritismo de juízos
temerários, mantendo-nos vigilantes quanto ao nosso próprio comportamento. A
Doutrina não admite interpretações fantasiosas nem a adoção de meios-termos. O
que for feito em conflito com os princípios doutrinários e evangélicos,
constituirá ajuda aos adversários da Terceira Revelação, muitas vezes
empenhados em se mostrarem mais kardequianos que o próprio Kardec.
Tais
recomendações foram feitas várias vezes por Bezerra de Menezes, que lamentava
ver, cada qual, espírita a seu jeito, conforme as circunstâncias ou
conveniências. Bezerra preocupava-se com a unificação do Espiritismo, através
da interpretação única da Doutrina. Teve, assim, a intuição clara do “Pacto
Áureo”, pois não concordava - repitamos suas palavras - que “cada
um fizesse doutrina a seu modo”, “sem ordem, sem disciplina, sem união,
produzindo sem proveito, esterilizando a melhor vontade”.
Sua
palavra mansa, mas enérgica, reprovou o procedimento antagônico dos
recalcitrantes. que perturbavam o esforço espírita, “em vez de realizarem um trabalho
uniforme, sujeito a regras invariáveis, tendendo ao mesmo fim: o alto fim posto
pela doutrina”, mas realizando “um trabalho disforme, disparatado, sem nexo,
e às vezes, felizmente raras, em diametral oposição às regras da doutrina.
Compreende-se que isso é um mal para os que o fazem, e um mal para os que
vêm observá-los para se orientarem. Compreende-se que já é tempo de se ligarem todos
os esforços dos espíritas para que se cumpra nesta parte do planeta a tarefa
que lhes foi distribuída. Compreende-se, finalmente, que é pela união dos
espíritas que se pode dar a ligação, a harmonia de seus esforços, sem a qual,
diz o Mestre, cada um cavará o sulco por onde hão de correr as lágrimas do seu
arrependimento” (Max).
O
“Pacto Áureo”, portanto, veio satisfazer essa aspiração de Bezerra de Menezes,
parecendo-nos lícito dizer que tão notável cometimento deve ter-se originado na
Espiritualidade, que encontrou espíritas preparados para concretizá-lo. Os
resultados do “Pacto Áureo” vêm sendo excelentes, ultrapassando mesmo as
melhores previsões. Das importantes realizações da administração de Antônio
Wantuil de Freitas, foi a mais significativa. As dificuldades vencidas com
admirável pertinácia marcaram singular vitória sobre a Treva. Todavia,
continuemos todos vigilantes, para que a obra de unificação se aperfeiçoe e
consolide cada vez mais, de modo a barrar qualquer ação subterrânea, pois são
justamente os terrenos cultivados os preferidos pelas ervas daninhas. A
instituição do “Pacto Áureo” foi obra agradável a Jesus, mas cumpre aos espíritas
que a sustentam o dever de resguardá-lo de infiltrações incompatíveis com a sua
alta e benemérita finalidade.
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