“Roustaing”
– Legado de Bezerra
Tobias Mirco (Indalício Mendes)
Reformador (FEB) Dezembro 1966
Desde que comecei a compreender “Os
Quatro Evangelhos” e sua alta importância para a interpretação correta dos
livros de Mateus, Marcos, Lucas e João, passei a considerar essa notável obra que Jean-Baptiste Roustaing divulgou, sem dúvida inspirado
pelo Alto, como um complemento da outra monumental obra, subscrita por nosso amado mestre
Allan Kardec. O fato de ter sido a mesma estudada e recomendada pelo Dr. Adolfo
Bezerra de Menezes, então presidente da Federação Espírita Brasileira, e
prestigiada por homens da mais alta envergadura moral, como Bittencourt Sampaio,
Antônio Luiz Sayão, Pedro Richard, Leopoldo Cirne, Aristides Spínola, GuilIon
Ribeiro, Manuel Quintão e outros, me deu a segurança de que “Os Quatro
Evangelhos” nada tem que justifique a estranha repulsa de alguns poucos
confrades, os quais, afinal, têm o direito de conservar sua opinião, como nós
conservamos a nossa. De qualquer maneira, de nada adianta polemizar. Os
argumentos contra Roustaing são sempre os mesmos e já foram pulverizados.
Se a obra “Os Quatro Evangelhos”
contivesse o que quer que fosse incompatível com a Doutrina Espírita, certo que Bezerra de Menezes a deixaria de lado.
Entretanto, com a sua autoridade moral, doutrinária e evangélica, decidiu publicá-la nesta revista, a
partir de 15 de Janeiro de 1898, e depois em livro.
Tem havido injustiça dos que repelem
Roustaing, como se ele fora não um espírita, mas um inimigo do Espiritismo. No
entanto, não lhe apontam deficiências morais, por impossível, nem possuem
outros recursos, além do estafado tema do “corpo fluídico”, para impugnarem a
obra. Os que realmente a leram e lhe entenderam a substância, não a recusam. Os
que a leram, sem a compreender em espírito e verdade, negam a obra inteira
apenas porque não concordam com o “corpo fluídico”, como se isto fosse uma
extravagância dentro do vasto campo da fenomenologia espírita. Lá existe um
mundo de revelações magníficas por sua lógica irrespondível e edificantes
consequências, revelações devidas aos Espíritos dos Apóstolos e dos
Evangelistas. Roustaing não foi sequer o médium, mas o coordenador do trabalho.
tal como sucedeu com Kardec em relação aos livros que constituem o corpo
doutrinário do Espiritismo.
Não se pode aceitar a errônea
suposição de que desconhecem a Codificação, a Doutrina, enfim, os que aceitam
Roustaing. Isto constitui falso e precipitado julgamento, que envolve até
eminentes vultos do Espiritismo brasileiro, conforme os que acima mencionamos,
além de constituir negação aos princípios de esclarecida tolerância
aconselhados por Allan Kardec.
Ora, quando surgiu a obra “Os Quatro
Evangelhos”, de Roustaing, Kardec lhe noticiou o aparecimento em sua revista, às páginas 190-192, do mês de Junho de 1866,
apresentando-a como obra considerável,
com o mérito de não estar em contradição
com a Doutrina ensinada em “O Livro dos Espíritos”, em “O Livro dos Médiuns” e
em “O Evangelho segundo o Espiritismo” (únicas obras até então transmitidas ao
Codificador), ressaltando que ela
continha ensinamentos incontestavelmente bons e verdadeiros e que merecia
consultada com proveito pelos espíritas conscienciosos” (“Elos Doutrinários”
- Ismael Gomes Braga).
Quando se diz ser de Roustaing “Os
Quatro Evangelhos” e de Kardec as obras da Codificação, não significa isso que
sejam um e outro os autores reais das mesmas. É uma maneira de dizer,
simplesmente.
Não é admissível se silencie a
verdade para não desgostar os que não a entendem ou dela se desinteressem.
Disse Helvetius que “a verdade não pode ser nociva” e não o é mesmo. Demais, Kardec, ao receber a obra de
Roustaing, escreveu na Revue Spirite (1866), aludindo ao “corpo fluídico”, à
materialização de Jesus: “Nada há nisso
de materialmente impossível, para quem conhece as propriedades do envoltório
perispiritual” (“O Cristo de Deus” - Manuel Quintão). Tanto
este raciocínio é correto que, em “Obras Póstumas”, pág. 20. n. 19 (Manuel
Quintão, ob. cit.) , o Codificador assim explicou: “O Espírito que quer ou pode aparecer, reveste algumas vezes forma ainda
mais clara; toma as aparências de um corpo sólido, a ponto de produzir perfeita
ilusão fazendo crer que é um ser corpóreo. Em alguns casos, em dadas
circunstâncias, a tangibilidade pode tornar-se real, isto é: podemos tocá-los,
apalpá-los, sentir a mesma resistência e o mesmo calor, como se fora um corpo
vivo, o que não o priva de desfazer-se com a rapidez do relâmpago. Pode, pois,
estar-se em presença de um Espírito, conversando com ele, e crente de se tratar
com um homem” (o grifo é nosso ).
A propósito, temos aí “O Livro de Tobias”
editado pela Federação Espírita Brasileira e dedicado “à querida memória de Ewerton Quadros, Bittencourt Sampaio, Antônio
Luiz Sayão, Bezerra de Menezes, Pedro Richard, Leopoldo Cirne, Aristides
Spínola e Guillon Ribeiro”, todos rustenistas”. Esse livro “relata o caso da materialização de um
Espírito superior que para cumprir sua missão na Terra, formou um corpo em tudo
semelhante aos nossos, substancial e duradouro, mas que se desfez diante dos
olhos de dois homens, assim como o de Jesus se desfez diante dos judeus que o
queriam apedrejar”.
Se tal Espírito e se outros
Espíritos de menor elevação, como o de Katie King, por exemplo, puderam e podem materializar-se por longo tempo e apresentar a
tangibilidade e outras características comuns ao corpo vivo, porque Jesus,
Governador do Planeta, Espírito da mais alta grandeza, senhor de todos os
segredos espirituais e de toda a gama de fluídos, além de um poder tão grande
que escapa à nossa avaliação, não poderia tê-lo feito, numa época em que a
Humanidade, ainda muito atrasada, necessitava de revelações importantes e de
uma orientação enérgica para sua vida moral? Como essa Humanidade ainda não
estava preparada para suportar a realidade espírita e tinha precisão das lições
deixadas pelo Mestre, a aparência perfeita do corpo carnal supriria, como
supriu, as necessidades impostas pela época, pelos preconceitos, pela
incompreensão, pelo sectarismo e pela ignorância. Hoje, há quase dois milênios
da vinda do Cristo, parece que não houve muito progresso ...
O que deve caracterizar o espírita é
a serenidade, a tolerância lúcida, a ausência de sectarismo. Roustaing é o legado de Bezerra de Menezes. Quando dizemos
Roustaing, claro está - que dizemos “Os Quatro Evangelhos”, a chave de que o mundo precisava
para verdadeiramente interpretar com precisão as preciosidades do Novo
Testamento, muitas vezes ocultas sob o véu da letra. Bezerra de Menezes, que
deixou em sua passagem pela Terra um rastro de luz, no caminho sacrossanto da
caridade, ainda hoje nos manda, do Além, sempre a serviço de Jesus, as suas
vibrações benéficas, em favor de quantos sofrem de males da carne e da alma.
E não nos esqueçamos de que Kardec
nos traçou a trajetória, ao nos deixar o lema: Trabalho - Solidariedade - Tolerância.
Obs.:
1 Grifos do Blog.
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