A filosofia
da dor, segundo o Espiritismo
Rodolfo Calligaris
Reformador (FEB)
Janeiro 1970
Estudando-se atentamente a
transformação progressiva das espécies em nosso planeta, vê--se claramente que
um dos mais altos objetivos da Vida é o desenvolvimento da sensibilidade,
faculdade primordial do espírito.
É pela sensibilidade que o princípio
anímico se põe em relação com o Universo, pois, sem ela, impossível seria
qualquer adiantamento intelectual e moral.
Nos corpos minerais, tal faculdade é
mínima e manifesta-se em fenômenos muito simples, quais a compressão, a
dilatação e as mudanças de estado, determinadas por variações térmicas, etc.·
Nos espécimes vegetais a reação às
influências externas já se faz notar de forma mais acentuada. Delas dependem a
germinação, o crescimento, a floração, a frutificação e o amadurecimento dos
frutos, etc.
Subindo um pouco mais na escala
evolutiva, vamos encontrar, nos primeiros degraus do reino animal, uma
variedade enorme de animálculos, esboços rudimentares da vida orgânica, bem
mais sensíveis, naturalmente, nos quais, entretanto, a dor é ainda quase nula.
Certas espécies inferiores, por exemplo, quando mutiladas, continuam a viver e
a funcionar, sendo que seus membros, arrancados, rebrotam, como no vegetal.
Outras há que, reduzidas a fragmentos, cada pedaço reproduz um ser semelhante
ao primitivo.
À medida que o ser se vai tornando
mais elevado, que seu organismo se torna mais complexo, principalmente seu
sistema nervoso, mais se torna ele apto a perceber sensações e, quanto mais
estas crescem, mais aumenta sua dor física.
Destarte, os vermes que servem de
alimento às avezinhas não sofrem senão a milésima parte do que estas sofrem,
quando são apanhadas por gaviões que lhes rasgam as carnes palpitantes; as
aves, por sua vez, estão muito longe de sentir aquilo que sentem os cães,
quando repreendidos, maltratados ou abandonados por aqueles a quem se
afeiçoaram.
A observação diuturna dos fatos nos
mostra que os animais superiores não só demonstram maior intensidade de
sofrimento físico, como também uma dor moral incipiente, indício certo e seguro
de que o sentimento e a inteligência estão a desabrochar neles. Mais um passo e
ei-los adentrando as lindes do reino hominal.
Não podendo escapar à Lei que
preside à Evolução, o homem, igualmente, quanto mais se adianta, mais chora, e
quanto mais ama, mais sofre.
Mais chora e mais sofre porque,
possuindo sensibilidade mais perfeita, não só está mais apto a sentir as
feridas do próprio coração, como também porque, interessando-se por seus
irmãos, partilha as dores e aflições que os atingem.
A Vida, porém, sempre repara os
danos que causa e, na luta que o homem empreende para eliminar o sofrimento do
mundo, cresce em inteligência e vê aumentadas suas forças morais.
Benditas sejam, pois, essas lágrimas
e esse sofrimento, pois são os fatores de sua ascensão.
Sim, essa maior capacidade de
sofrer, consequência que é da maior capacidade de amar, constitui o preço de
sua perfectibilidade, o que vale dizer, é o meio pelo qual há de chegar a Deus,
fonte perene das alegrias mais puras e das mais inefáveis delícias.
O sofrimento é, pois, uma
necessidade (temporária) à formação de nossa consciência espiritual e, tal como
nosso planeta, que, com o decorrer dos séculos, saiu do caos, da desordem dos
elementos, e caminha para a harmonia, também a Humanidade que o habita, através
das existências sucessivas, sairá da ignorância, deixará o mal e vencerá a dor,
para saborear, com o mérito de seus próprios esforços, um estado de paz e de
felicidade que compensará fartamente todos os sacrifícios feitos e todas as
vicissitudes suportadas para obtê-lo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário