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quinta-feira, 11 de julho de 2013

A igreja ensina...


          "A igreja ensina, caríssimo Dr. .... , que toda a geração humana, aqui e além - durante a vida e depois da morte, sofre a pena do pecado original, de que nasce contaminada.
            Se ela é infalível, este ensino é pura verdade.                                               
            Mas, diga-nos, bom amigo, se este ensino é pura verdade, o que ficam valendo as palavras do Senhor, repetidas por Jesus: nem o pai paga pelo filho, nem o filho pelo pai, mas cada um paga por suas próprias obras? (2)                                        
           
            Confesse que este dente é difícil de arrancar!                                              
           
            A simples razão, não obsecrada pelo fanatismo, julga impossível que a justiça indefectível responsabiliza o filho pela culpa do pai. É coisa que não exalta a Suprema Perfeição - e que, portanto, não confere com o critério absoluto da verdade.                                          
            Mas, enfim, a simples razão não faz prova contra esses decretos da igreja infalível, embora antinômico do infalível critério.    
           
            O conceito, porém, tão claro, positivo e categórico, que acima deixamos grifado, corta toda a dúvida entre a razão e a decretaI romana.             
           
            Ou existe a culpa original - e Deus não disse a verdade pela boca do profeta e de Jesus, ou é verdade o que disseram estes - o pecado original é um desses ensinos humanos, de envolta com as verdades divinas, necessárias no tempo em que a humanidade não podia suportar a luz da verdade pura.        

            Se quiserdes, consideramos autênticas uma e outra versão, certos, porém, de que, visto se contradizem, uma é de origem divina e a outra de origem humana.                              
            Como, então, reconheceremos o caráter de cada uma? Submetendo-as ao critério para vermos qual exalta e qual deprime as infinitas perfeições.
                                                
            Ora, dizei-vos, com a razão desprevenida e com a mão na consciência: o que exalta a suma perfeição: responsabilizar cada um por suas obras, ou responsabilizar o filho pelas obras do pai?                                        
           
            Aí tem bem discernidas, caro amigo, as origens divinas e humanas, das duas versões.             
                                                                                     
            Além disto que é ‘tranchant’(absoluto, categórico) temos ainda melhor prova da falsidade do dogma romano.                 

            O pecado é do espírito e não do corpo - e o espírito é criado por Deus e só o corpo é criado pelo pai terrestre.

            Assim, pois, se os espíritos, que são quem delinque e sofre a pena do delito, não são criados pelo pai terreno, como passará o deste ao de seu filho a sua mácula?    
       
             Compreende-se a transmissão dos vícios orgânicos, pois que o organismo do pai é que gera o do filho; a transmissão do pecado do espírito, ninguém poderá compreender, pois que o espírito do pai não gera o do filho.

            Bom amigo. Encare esta questão pela face que bem lhe parecer - e será sempre levado fatalmente a esta conclusão? A igreja sustenta uma doutrina falsa, porque deprecia a justiça indefectível, ao passo que a sua oposta exalta essa justiça.

            E, se a igreja sustenta e propaga doutrinas falsas, uma que seja, a igreja não pode ser infalível.

            Se o pecado original fosse uma verdade, todos os homens, antes de pecarem na vida; isto é, antes de terem a consciência de seus atos, na primeira infância, teriam igual responsabilidade pela culpa do primeiro par humano.  

            Se não for assim, onde a justiça igual de Deus?

            Mas, se for assim, na hipótese da transmissão da culpa original, onde a justiça igual de Deus à vista da infinita desigualdade de condições físicas - morais e intelectuais, com que vimos à vida?

            Pois, se somos todos criados por Deus para esta vida - e somos todos igualmente contaminados da culpa original, como e porque não nascemos em identidade de condições, se Deus é justo?                   
                                              
            A igreja estaca diante desta esfinge, cuja palavra não pode traduzir, sem ferir a justiça soberana.                                                                                                             
           
            Porque? Porque a igreja não conhece ainda a sublime lei que o Espiritismo veio revelar ao mundo: a lei das múltiplas existências corporais.

            Submeta o fato à esta lei - e reconhecerá, pela glória que daí resulta para a Infinita Perfeição, que ela confere com o infalível critério da verdade, embora derribe o dogma tacanho e impossível da vida única.                             
                                  
            A desigualdade que se observa na primeira infância dos seres humanos, e portanto, no tempo em que eles não podem ajuntar pecado seu ao pecado original; essa desigualdade procede da desigualdade de provas', que fizeram estes seres em vidas anteriores, na idade em que exercitam a liberdade, nessas tais vidas.    

            Uns vêm assim adiantados moralmente - outros intelectualmente - no geral, perfeitos fisicamente.      
                                  
            Vice-versa, vêm uns atrasados moral e intelectualmente e alguns imperfeitos fisicamente: cegos, surdos, mudos, aleijados e idiotas".     
           
            A escala é infinita, porque infinito foi o modo porque exerceram o livre arbítrio.        
             Não entra isto pela razão? Não resulta disto a justiça igual, que pune cada um segundo suas obras? Não é impossível conciliar esta variedade com a justiça igual, mesmo admitindo o pecado original, permanecendo o princípio da vida única?          

            Deixemos entretanto o tradicionalismo e reconheçamos que a fé raciocinada sobrepuja a fé passiva, que sopita a razão, lume que Deus nos deu.

            Crer, porque nos mandam crer é tão indigno da criatura e do Criador como exalta-os: crer porque nossa razão se conforma com tal crença.            
                       
            Crer em Deus pelo impulso de nossa alma, baseado no testemunho de nossa razão, é o verdadeiro ato de fé, que nunca será: crer em Deus, porque ensinam que Ele existe e mandam que creiam n'Ele.          
                       
            Ora, se a igreja romana conserva no arquivo de suas verdades todos estes absurdos impossíveis infalibilidade, vida única, morte eterna, e fé passiva, como submeter o Espiritismo a suas decretais, quando ele é o enviado de Jesus, embora desconhecido do mundo, como foi o próprio Jesus?                              
           
            Bom amigo, repetimos: nossa autoridade é igual, assim foram nossos merecimentos iguais aos seus."     MAX          
           
Artigo de autoria de MAX ,
nome fantasia adotado por Adolpho Bezerra de Menezes

 Livro:  ‘Jesus não é Deus’
 série de artigos publicados no ‘Jornal do Brasil’ em 1895.
Coordenação e Notas: Jorge Damas Martins

AEFA – Associação Espírita Francisco de Assis
Rio de Janeiro – RJ

1995

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