O
Perdão Impossível
Antônio Túlio (Ismael Gomes Braga)
Reformador
(FEB) Junho 1964
O
perdão é o ponto final na cadeia do ódio.
A
vingança de uma ofensa é uma nova ofensa que por seu turno reclama vingança, e
assim se estabelece um encadeado de ofensas que alimentam o ódio e este
atravessa gerações em sucessivas encarnações de sofrimentos incalculáveis.
A
Lei sabiamente exige que se rompa essa cadeia e se passe ao amor, que é
colaboração e vida, evolução eterna das faculdades do Espírito pela solidariedade.
O
vingativo supõe que está praticando justiça, mas está sendo injusto, porque,
como ofendido, ele é parte no pleito e não pode ser juiz. Ninguém pode ser juiz
em causa própria, porque desconhece o passado e se supõe credor quando já é
devedor e está perdendo oportunidade de pagar sua dívida de outros tempos.
Felizmente
a Lei possui recursos para romper a cadeia de ódio e estabelecer o amor, porque
ela dispõe do esquecimento que reina em nova encarnação e põe juntos os
adversários no mesmo lar como pai e filho, irmãos, esposos, dependentes uns dos
outros, até que o amor vença o ódio e restabeleça o equilíbrio.
No
curso longo de uma série de encarnações, por vezes muito penosas e até de novas
quedas desastrosas, finalmente é a Lei quem vence, porque a Lei é a vontade
onipotente de Deus e tem a eternidade para agir.
A
sabedoria eterna ensinou:
“Concilia-te
depressa com teu adversário, enquanto estás no caminho com ele, para que não aconteça
que o adversário te entregue ao juiz e o juiz te entregue ao oficial de
Justiça, e sejas lançado na prisão. Em verdade te digo que de maneira nenhuma
sairás dali enquanto não pagares o último ceitil." (Mat., 5:25 e
26.)
Nesta
bela figura de Jesus fica ensinada a engrenagem da Lei para recuperar o culpado
que não soube perdoar logo as ofensas. Ele é lançado na prisão das encarnações
expiatórias e terá que sofrer muito, até se refazer e pairar acima das ofensas.
Só
há um perdão impossível: é nos perdoarmos nossos próprios pecados e
esquecê-los, porque eles voltam sempre à nossa consciência endividada, reclamando
reparação.
Podemos
facilmente perdoar a quem nos ofende e até agradecer-lhe como instrumento de
nossa redenção, porque nos forneceu o ensejo de pagar alguma dívida antiga,
contribuiu involuntariamente para nossa felicidade; mas não podemos esquecer nossas próprias faltas, porque elas estão
dentro de nós, acusando-nos sempre, por mais que tentemos esquecê-las. "Dentro
de nós reside toda a sanção penal: evitam-se as galés, evita-se a prisão, mas não
se pode evitar esse imortal clarão de nossa consciência, a lâmpada sagrada"
- assim ensinou Guerra Junqueiro, o mais brilhante moralista de nossa língua.
"Todo aquele que comete pecado é
escravo do pecado." (João, 8:34)
Como
não podemos perdoar nossos próprios pecados, dos quais ficamos escravos, só nos
cumpre esforçar por libertar-nos deles, reparando-os quanto antes. Esta tarefa
é difícil, mas a Lei nos ajuda, pondo-nos de novo em contato com aqueles contra
quem pecamos e oferecendo-nos o ensejo de servi-los humildemente, porque "o
maior dentre vós há de ser vosso servo" (Mat. 23:11).
Como
é sublime a Doutrina da Salvação Universal que nos foi ensinada por Jesus,
referindo-se ao pagamento até o último ceitil, para nos libertarmos do pecado,
Doutrina hoje mais amplamente explicada pelos seus Enviados!
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