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‘Rimas do
Além Túmulo’
Versos Mediúnicos de
Guerra Junqueiro
Grupo Espírita Roustaing
Belém do Pará 1929
Casa Editora Guajarina
Os
Tempos são Chegados
Ao irmão Cornélio de Barros
Os tempos são
chegados; mesmo os passarinhos
parecem murmurar
uma canção gentil,
mais pura e mais
suave, em torno de seus ninhos,
que têm por teto a
luz do Sol e o céu de anil.
A Natureza é casta
e linda como outrora;
os astros continuam
a brilhar nos céus;
não vedes, meu
irmão, na luz, na flor, na aurora
a mesma vibração
falando-vos em Deus?
No murmúrio grácil (delicado, fino,
delgado)
das auras perfumadas,
que embalam
mansamente as rosas em botão,
eu julgo perceber,
em místicas baladas,
o nome do Autor de
toda a Criação...
Os montes
altaneiros, píncaros erguidos
na esfíngica mudez
que não tem expressão,
quem sabe se não
soltam tristes ais, gemidos,
por verem as
estrelas brilhar na amplidão?
Oh, sim, porque o
Silêncio é uma linguagem bela
exprime ideias mil
de um modo diferente:
a onda que balança
a pequenina vela
segreda ao frágil
barco uma canção plangente...
Até a tempestade,
quando brusca freme,
quebrando desalmada
as arvores gigantes,
plátano que cai, ao
carvalho que treme
parece balbuciar
estrofes coruscantes...
Em tudo está a
grandeza do Senhor latente,
mostrando a sapiência
de um Ser soberano:
na vaga que se forma
e eleva de repente,
na voz do rouxinol,
no pensamento humano.
Se vedes o bom Deus
na vasta Natureza,
vibrando em tudo
quanto existe a se agitar.
seguindo esta doutrina,
irmão, tende a certeza
em vosso coração Ele
há de palpitar.
Os tempos são
chegados: bem felizes são
quantos a luz
recebem já regenerados;
os homens,
despertando aos brados da Razão,
compreendem
claramente: os tempos são chegados.
Se o campo cultivardes,
sem largar o arado,
cumprindo o que o
Evangelho dita santamente,
o vosso lar será um
templo abençoado
onde vereis brilhar
a paz eternamente.
2 de Fevereiro de 1928.
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