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sexta-feira, 12 de julho de 2013

A Dor


Um só exemplar de Reformador (FEB) – Abril de 1959
e três lindas mensagens sobre a Dor.
Valerá a pena apreciá-las.
Pausadamente.
Do Blog


Dor
A Grande Educadora
(Balada aos que sofrem)

Reformador (FEB) Abril 1959

            Chama-se Dor.

            Revela-se na desventura do amante, na desolação da orfandade, na angústia da miséria, no alquebramento da saúde, no esquife do ser querido que se foi deixando atrás de si a lágrima e o luto, no opróbrio da desonra, na humilhação do cárcere, no aviltamento dos prostíbulos, na tragédia dos cadafalsos, na insatisfação dos ideais, na tortura das impossibilidades, no acervo das desilusões contra que se contunde e se decepciona o coração da Humanidade.

            Não obstante, a Dor é a grande amiga a zelar pela espécie humana, junto dela exercendo missão elevada e santa. 

            Estendendo sobre a criatura as suas asas, húmidas sempre do orvalho regenerador das lágrimas, a Dor corrige, educa, aperfeiçoa, exalta, redime e glorifica o sentimento humano a cada vibração que lhe extrai através do sofrimento.

            O diamante escravizado em sua ganga sofre inimagináveis dilacerações sob o buril do lapidário até poder ostentar toda a real pureza do grande valor que encerra. Assim também será a nossa alma, que precisará provar o amargor das desventuras para se recobrir dos esplendores das virtudes imortais cujos germens o Sempiterno lhe decalcou no ser desde os longínquos dias do seu princípio!

            A alma humana é o diamante raro que a Natureza - Deus - criou para, por si mesmo, aperfeiçoar-se no desdobrar dos milênios, até atingir a plenitude do inimaginável valor que representa, como imagem e semelhança d' Aquele mesmo Foco que a concebeu. Mas o diamante - Homem - acha-se envolvido nas brutezas das paixões inferiores. É um diamante bruto! Chega o dia, porém, em que os germens da Imortalidade, nele decalcados, se revolucionam nos refolhos da sua consciência, nele palpitando, então, as ânsias por aquela perfeição que o aguarda, num destino glorificador: - Foi criado para as belezas do Espírito e vê-se bruto e inferior! Destinado a fulgir nos mostruários de esferas redimidas, reconhece-se imperfeito e tardo nas sombras da matéria! Sonha com a sublimação das alegrias em pátrias divinais, onde suas ânsias pelo Ideal serão plenamente saciadas, mas se confessa verme, porquanto não aprendeu ainda sequer a dominar os instintos primitivos!

            Então o diamante - Homem - inicia, por sua vontade própria, a trajetória indispensável ao aperfeiçoamento dos valores que consigo traz em estado ignorado, e entra a sacudir de si a crosta das paixões que o entravam e entenebrecem.

            E essa marcha para o Melhor, essa trajetória para o Alto denomina-se Evolução! A luta, então, apresenta-se rude! É dolorosa, e lenta, e fatigante, e terrível! Dele requer todas as reservas de energias morais, físicas e mentais. Dilacera lhe o coração, tortura lhe a alma, e o martirológio quase sempre segue com ele, rondando-lhe os passos!

            Mas seu destino é imortal e ele prossegue!

            E prosseguindo vence! ...

            Então, já não é o bruto de antanho ...

            O diamante tornou-se joia preciosa e refulge agora, pleno de méritos e satisfações eternas, nos grandes mostruários da Espiritualidade - esferas de luz que bordam o Infinito do Eterno Artista, que é Deus!

            A Dor, pois, é para o Espírito humano o que o Sol é para as trevas da noite tempestuosa: - Ressurreição! - porque, se este aclara os horizontes da Terra levantando com seu brilho majestoso o esplendor da Natureza, aquela desenvolve em nosso ego os magnificentes dons que nele jaziam ignorados: - fecunda a inteligência, dela fazendo brotar a razão, depurando o sentimento sob as lições da experiência, educando o caráter, dignificando, elevando, num progredir constante, - todo o ser daquele em quem se faz vibrar, tal como o Sol, que vivifica e benfaz as regiões em que se mostra.

            A Dor é o Sol da Alma...

            A criatura que ainda não sofreu convenientemente, carrega em si como que a aridez que desola os polos glaciais, e, como estes, é inacessível às elevadas manifestações do Bem, isto é, às qualidades redentoras que a Dor produz.

            Nada possuirá para oferecer aos que se lhe aproximarem pelos caminhos da existência senão a indiferença que em seu ser se alastra, pois que é na desventura que se aprende a comungar com o Bem e não pode saber senti-lo quem não teve ainda as fibras da alma tangidas pela inspiração da Dor! 

            O orgulho e o egoísmo, cancerosas chagas que corrompem as belas tendências do Espírito para os surtos evolutivos que o levarão a redimir-se; as vaidades perturbadoras do senso, as ambições desmedidas, funestas, que não raro arrastam o homem a irremediáveis, precipitosas situações; as torpes paixões que tudo arrebatam e tudo ferem e tudo esmagam na sua voragem avassaladora, são parasitas que infestam a alma humana inferiorizando-a ao nível da brutalidade, e os quais a Dor, ferindo, cerceia para implantar depois os fachos imortais de virtudes tais como a humildade, a fé, o desinteresse, a tolerância, a paciência, a prudência, a discrição, o senso do dever e da justiça, os dons do amor e da fraternidade e até os impulsos da abnegação e do sacrifício pelo bem alheio, remanescentes daquelas mesmas sublimes virtudes que de um homem - Jesus Nazareno - fizeram o mensageiro do Eterno!

            Ela, a Dor, é o maior agente do Sempiterno na obra gigantesca da regeneração humana! É a retorta de onde o Sentimento sairá purificado dos vírus maléficos que o infelicitam! Quanto maior o seu jugo, mais benefícios concederá ao nosso ego, tal como o diamante, que mais cintila, alindado, quanto maiores forem os números dos golpes que lhe talharem as facetas! É a incorruptível amiga e protetora da espécie humana: - zelando pela sua elevação espiritual, inspirando nobres e fraternas virtudes! Ela é quem, no Além-túmulo, nos leva a meditar, através da experiência, produzindo em nosso ser a ciência de nós mesmos, o critério indispensável para as conquistas do futuro, de que hauriremos reabilitação para a consciência conturbada. É quem, a par do Amor, impele as criaturas à comiseração pelos demais sofredores, e a comiseração é o sentimento que arrasta à Beneficência. E é ainda ela mesma quem nos enternece o coração fazendo-nos avaliar, pelo nosso, o infortúnio alheio; predispondo-nos aos rasgos de proteção e bondade; e proteger os infelizes é amar o próximo, enquanto que amar o próximo é amar a Deus, pautando-se pela suprema lei recomendada no Decálogo e exemplificada pelo Divino Mestre!

            Por isso mesmo, o coração que sofre não é desgraçado, mas sim venturoso, porque renasce para as auroras da Perfeição, marcha para o destino glorioso, para a comunhão com o Criador Onipotente! Prisioneiro do atraso, o homem somente se desespera sob os embates da Dor, porque não a pode compreender ainda. Ela, porém, é magnânima e não maléfica. Não é desventura, é necessidade. Não é desgraça, é progresso. Não é castigo, é lição. Não é aniquilamento, é experiência. Nem é martírio, mas prelúdio de redenção! Notai que depois do sacrifício na Cruz do Calvário foi que Jesus se aureolou da glória que converterá os séculos! 

            “- Quando eu for suspenso atrairei todos a mim.” Ele próprio o confirmou, falando a seus discípulos.

            Sob o seu ferrete é que nos voltamos para aquele misericordioso Pai que é o nosso último e seguro refúgio, a nossa consolação suprema!

            As ilusões passageiras da Terra, os prazeres e as alegrias levianas que infestam o mundo, aviltando o sentimento de cada um, nunca fizeram de seus idólatras almas aclaradas pelas chamas do amor de Deus. É que, para levantar na aridez das nossas almas a pira redentora da Fé, só há um elemento capaz, e esse elemento é a Dor! Ela e só ela é bastante poderosa para reconciliar os homens - filhos pródigos - com o seu Criador e Pai!

            Seu socorro é, portanto, indispensável para nos aperfeiçoar o caráter e inestimável é o seu valor educativo. Serena, vigilante, nobre, heroica, ela é o infalível corretivo às ignomínias do coração humano!

            Nada há mais belo e respeitável do que uma alma que se conservou serena e comedida em face do Infortúnio. Palpita nessa alma a epopeia de todas as vitórias! Responde por um atestado de redenção! Seu triunfo, conquanto ignorado pelo mundo, repercutiu nas regiões felizes do Invisível, onde o comemoram os santos, os mártires de todos os tempos, os gênios da sabedoria e do bem, as almas redimidas e amigas, que ali habitam, as quais, como todos os homens que viveram e vivem sobre a Terra, também conheceram as correções da Dor, pois ela é lei que aciona a Humanidade nos caminhos para o Melhor e para a Perfeição!

            Ó almas que sofreis! Enxugai o vosso pranto, calai o vosso desespero! Amai antes a vossa Dor e dela fazei o trono da vossa Imortalidade, pois que, ao findar dessa trajetória de lágrimas a que as existências vos obrigam, é a glorificação eterna que recebereis por prêmio!

            Salve, ó Dor bendita, nobre e fiel educadora do coração humano!

            E glória ao Espiritismo, que nos veio demonstrar a redenção das almas através da Dor!

Léon Denis
por Yvonne A. Pereira




Serenidade

            Seja qual for o conteúdo de sofrimento em teu roteiro de provação, acalma-te e espera...

            Não agraves o peso de tua dor com o fardo da aflição sem remédio.

            Se o desespero te cerca em ondas asfixiantes de inconformação ou de cólera, exercita a serenidade e faze algo em silêncio que possa amparar as vítimas da revolta; se a ofensa te busca, apedrejando-te o coração, perdoa-lhe as investidas, guardando a serenidade de quem sabe que a ventania tempestuosa não desloca a harmonia do céu; se a calúnia despeja corrosivo destruidor em tua alma, desculpa-lhe os golpes, conservando a serenidade de quem reconhece no crime doentia manifestação da ignorância ainda em trevas, e, se as lágrimas te caem, ardentes, dos olhos feridos, à face da angústia que te persegue as esperanças e os sonhos, transforma o teu pranto numa prece de amor, cultivando a serenidade, na convicção de que o sacrifício é o caminho real da luz.

            Lembra-te do Cristo, a oferecer-te o seu jugo brando e suave.

            Ninguém o viu acrescer a cruz das próprias dores, com o peso morto da rebelião ou da crueldade, do ciúme ou da inveja, do revide ou da queixa.

            Da serenidade da Manjedoura, segue, amando e perdoando, para, a serenidade da cruz, sem jamais trair a dignidade da sua confiança no Pai Excelso, a Quem pertence, em verdade, todos os títulos e afeições que nos sustentam a marcha.

            Serenidade! Serenidade! Será ela em teu passo o selo oculto da humildade vitoriosa que te fará mais nobre à vista do Céu, porque então, junto dela, terás aprendido, a esperar por Deus em tua luta de cada dia.

Emmanuel
por Chico Xavier
Reformador (FEB) Abril 1959





As 3 Sombras
Reformador (FEB) Abril 1959

            Numa estrada deserta, em noite fria, deslizavam, tristes, três sombras embuçadas, perdidas em si mesmas.

            De quando em quando, entreolhavam-se inquietas e seguiam a jornada murmurando ininteligíveis expressões.

            Numa curva inesperada, num encontro dos caminhos, pararam, perscrutaram e, antes de seguirem diferentes rumos, desvelaram-se.

            A primeira, a mais alta e negra, aproximou-se das demais e gargalhando esclareceu:

            - Sou a Ira. Faço-me de caminho mais curto para a morte. Vivem comigo o desespero e a tragédia. Trajo-me de orgulho. Seguem-me os passos o ódio, calço-me com as sandálias da revolta e arrimo-me no bastão da inquietude. Acompanho o homem desde "que o mundo é mundo" e pretendo viver com ele eternamente... 

            E depois de breve pausa:

            - Todos me acolhem a qualquer hora, sem indagação, nem exigência. A simples apelo sou recebida com prazer em toda parte. Sou feliz! Sigo o meu destino, atraindo o mundo a mim.

            Grande silêncio fez-se em derredor.

            A segunda sombra, taciturna e trêmula, após ligeira meditação, falou receosa:

            - Chamo-me Medo. Sou a porta larga que conduz à loucura. Ando despido. Tenho força.

            A Ira, prosseguiu, é vencida pela meditação arrimada na prece sob o pálio do perdão, e suas companheiras desfalecem e morrem ante a Humildade.

            Mas eu sou invencível.

            Oculto-me na luz e nas trevas, entre sábios e ignorantes, grandes e pequenos, ricos e pobres. Moro em todo lugar. Como rei, cerco-me de bajuladores fiéis: a dúvida, o receio, a desconfiança, o pavor...

            Não temo a , nem a religião. Desdenho-as até. Numa eu mostro a certeza, noutra apresento a suspeita. E sigo o meu caminho.

            Muitos me amam, convocam-me sem cessar...

            No intervalo que se fez, as duas megeras se contemplaram, quase sorriram e, fitando a terceira companhia, indagaram ansiosas:

            - Quem és, filha da tristeza?

            - Eu? - inquiriu a sombra pesarosa. Sou vossa irmã.

            - Teu nome?

            - Quase não o sei. Chamavam-me infortúnio uns, outros infelicidade e muitos desgraça.

            Sempre vivi errante, perseguida, odiada. Jamais sorri.

            Um dia - e cerrou os olhos como quem recorda inesquecível encontro -, numa estrada como esta, encontrei Alguém que sorriu para mim. Era louro e belo, tinha olhos mansos e meiga voz, embora seu rosto refletisse tristeza imensa. Logo depois, fitou-me comovido, e mudo passou...

            Notei que muitos o seguiam, chamando-Lhe Mestre.

            Posteriormente eu soube mais. Era noite e Ele orava num horto sombrio. Fitei-o. Reconheceu-me. Seu rosto suado aureolou-se de ligeiro sorriso e disse-me: "Não desfaleças, irmã! Segue tua trilha." Não o deixei mais. Acompanhei-o atado a cordas, na multidão, em palácio, na solidão, até ao fim...

            Calou-se a sombra. E sob o vento cortante chorou.

            - Que sucedeu? - inquiriram as ouvintes.

            - ... Quando se agitava na Cruz, cercado da multidão encolerizada, fitou-me já arroxeado e murmurou só para mim:

            "Avança missionária. Longa, difícil e bela é a tua tarefa. Não mais seguirás a ira e o medo. Terás diferente via. Serás minha mensageira ao mundo desatento. Caminharás só, incompreendida, ensinando em silêncio.

            De quando em quando, duas companheiras passarão por ti: a lágrima arrimada à saudade.

            Mas em teu curso deixarás esperança e paz. Preciso de ti.

            Vai em meu nome, DOR irmã, e ergue as minhas ovelhas! Chama-as a Mim. Fala-lhes da paciência e da resignação, da coragem e do bom ânimo.

            Seguir-te-ei!"

            Eis quem sou.

            Houve silêncio. O vento soprou mais forte e, despedindo-se, as três sombras seguiram os seus caminhos.

Pe. Natividade
por Divaldo Pereira Franco

  
Amanhã retornaremos.
Fiquem com Deus!

Do Blog.

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