33a
‘Revelação dos Papas’
(Obra Mediúnica)
- Comunicações d’Além Túmulo -
Publicada sob os auspícios da
União Espírita Suburbana
Rua Dias da Cruz 177, Méier
Officinas Graphicas d’A
Noite
Rua
do Carmo, 29
1918
Leão VI, papa
Apresenta-se um
homem de estatura regular, gordo,
tendo na cabeça a tiara e trajando capa sacerdotal dourada.
tendo na cabeça a tiara e trajando capa sacerdotal dourada.
A grande irradiação
luminosa que circunda o espírito
impede o médium de distinguir-lhe as feições, podendo,
impede o médium de distinguir-lhe as feições, podendo,
entretanto, notar que tem o rosto redondo.
______________________
Está na vossa presença o espírito de um papa romano que muito tem que
declarar a vós outros. Tendes ante o vosso tribunal o espírito de mais um papa
culpado de intemperança, desregramento, falta de fé e impiedade, e pouco zeloso
no cumprimento do seu dever de cristão e sacerdote. Ides lançar a vossa
sentença sobre a cabeça de mais um criminoso que se apresenta diante de Deus e
dos homens unicamente para penitenciar-se dos erros e faltas que cometeu,
quando teve nas suas mãos o governo da cristandade.
Venho também perante o mundo dar a minha prova da humildade e obediência
à vontade de Deus, que neste momento contempla a todos nós, encarnados e
desencarnados, observando a nossa conduta, apreciando a maneira pela qual
cumprimos o nosso dever e nos desobrigamos da tarefa que Ele nos colocou sobre
os ombros.
Está na vossa presença o mais infiel dos papas, o mais desregrado dos
pontífices, o mais perjuro dos padres. Quem vos fala agora é um dos maiores
criminosos que se sentaram na cadeira de S. Pedro. O espírito que dita a
presente mensagem animou outrora o corpo de um dos mais imperfeitos sacerdotes
que o mundo tem visto.
O papa Leão VI acusa-se hoje, perante Deus e os homens, de haver
desprezado os verdadeiros ensinamentos de Jesus para abraçar falsas doutrinas,
adotar absurdos, acomodar-se a conveniências e interesses pouco dignos de ser
aqui mencionados neste “Revelação”, cujo brilho e elevação não quero ofuscar
nem destruir. Não poderei contar-vos tudo quanto fiz de mal, porque seria
preciso afastar-me da norma traçada pelos espíritos dos papas que aqui me
precederam. Narrarei de maneira sintética a história do meu tenebroso
pontificado.
Fui papa no tempo em que a humanidade começava a orientar-se no caminho
da fé, a ter confiança na doutrina ensinada por Jesus e divulgada pelos
apóstolos. Assumi o papado quando já iam adiantadas as lutas em prol da
consolidação dos princípios da moral cristã, que se vinha impondo e triunfado à
custa de ingentes esforços dos denodados campeões da fé, desses bravos
pioneiros do progresso espiritual do mundo, valentes atletas do Cristianismo,
que se estava apoiando sobre os mais sólidos alicerces, repousando sobre
grandes e vigorosos esteios implantados por uma legião de crentes e abnegados
mártires da fé cristã - incomparáveis gladiadores da sagrada Olimpíada, em que
tomaram parte lutadores de todas as raças, soldados de todas as nações,
combatentes de todas as hierarquias sociais. Fui papa quando já se ouviam os
rumores longínquos dos grandes cataclismos, dos formidáveis terremotos que
abalaram a Terra por ocasião das grandes lutas religiosas da Idade Média.
Sentei-me na cadeira pontifícia numa época em que o espírito Cristão já se
sentia desafogado, quase liberto de perseguições, quando também já haviam
cessado as cruentas lutas entre a barbaria e o verdadeiro espírito religioso,
organizado pela sublime doutrina de Jesus.
Nesse
tempo era preciso que o papa fosse o continuador da obra iniciada pelos grandes
batalhadores que se haviam empenhado nas nobres e santas cruzadas em favor da
verdade revelada por Jesus aos homens de boa vontade. O papa tinha sobre os
ombros a incumbência de impedir que fosse embaraçado todo esse formidável
trabalho de reconstrução do mundo moral que o paganismo havia, senão destruído,
pelo menos abalado até os mais profundos alicerces; que tão bela e gigantesca
obra fosse interrompida na sua marcha vencedora e gloriosa; que as admiráveis
conquistas do cristianismo ficassem entregues a mãos profanas e sacrílegas, que
se conservavam ainda tintas do sangue generoso dos ardorosos defensores dos
grandes e santos ideais cristãos pelos quais deram a vida em holocausto,
deixando-se imolar no altar da fé, onde foram sacrificados para honra e glória
de um Deus eterno e todo poderoso. Cumpria ao papa velar pelos sagrados
despojos desses indômitos guerreiros e conservar intactos todos os troféus
gloriosos que foram arrebatados das mãos perversas e criminosas dos
profanadores da sagrada e imaculada doutrina pregada pelo Mártir dos mártires.
Eram chegados os tempos anunciados pelas Escrituras em que o espírito de
Deus baixaria sobre os homens a fim de libertá-los para sempre do cativeiro de
satanás, que então seria fulminado pelo fogo que desceria do céu para destruir
o que de mal e impuro existisse sobre a Terra.
Eram chegados os tempos benditos em que a carne havia de ser abatida,
subjugada pelo espírito divino que viria habitar entre os homens, tal como rezavam
as sagradas letras. Reboava já nas alturas infinitas o trovão que anunciava aos
homens a hora da redenção e da salvação das almas, que seriam chamadas para
junto do Juiz Supremo, em cuja presença confessariam os seus crimes e
receberiam o prêmio ou o castigo pelo bem ou pelo mal que houvessem feito na
Terra.
-continua-
33b
‘Revelação dos Papas’
(Obra Mediúnica)
- Comunicações d’Além Túmulo -
Publicada sob os auspícios da
União Espírita Suburbana
Rua Dias da Cruz 177, Méier
Officinas Graphicas d’A
Noite
Rua
do Carmo, 29
1918
-continuação-
Leão VI, papa
Era,
pois, chegado o momento decisivo para o Cristianismo, que, ou ficaria para
sempre solidamente implantado na alma dos povos, ou teria a sua sorte em
perigo, ficando como ficou, e ainda se conserva, abalado, enfraquecido,
impossibilitado de promover o bem estar e a felicidade do homem na Terra,
preparando para a sua alma dias felizes, radiantes de luz, na eternidade.
Pois bem, o papa Leão VI não agiu como lhe cumpria e devia fazer, não
teve a energia suficiente, nem a elevação de vistas necessária para prosseguir
na obra bendita que chegara às suas mãos já bastante adiantada, cabendo-lhe
unicamente rematar e assentar a grandiosa cúpula do colossal edifício destinado
a ser o doce refúgio da cristandade, na hora das vicissitudes, das aflições e
dos desesperos.
Não cuidou o pontífice de reunir em torno da sua pessoa novos elementos
trabalhadores, bons obreiros que o auxiliassem na grande construção que corria
risco de ficar para todo o sempre perdida, à míngua de braços vigorosos que de
novo viessem empenhar-se no seu prosseguimento, disposto a levá-la ao termo,
embora para isso fosse mister lutar até a morte. Cuidou mais das coisas que
diziam respeito aos interesses privados do Vaticano, esquecendo-se dos
interesses gerais da cristandade, órfã, desde então, do afeto paternal do papa,
que se tornou para ela padrasto e não pai solicito e bondoso, que devia ser.
Abandonou o papa todos os seus deveres pontificiais para ocupar-se da
política mundana e interesseira, desprezando as coisas do Céu pelas das Terra,
sempre quiméricas e enganadoras. Desviou-se o padre santo da sua missão
caridosa de velar pelos fracos que de todo modo reclamava justiça, pelos
peregrinos que, a todo instante, habitam as portas de São Pedro para pedir o
conforto e o agasalho que a religião de Jesus Cristo proporciona aos que se
refugiam no seu seio, quando em meio da jornada perigosa da vida os surpreende
a tempestade.
Não interessou o papa pelo que devia constituir o
objeto dos seus cuidados durante a vida pontifical; apartou-se de tudo que era
dever, sacrifício e abnegação em prol da grandeza do verdadeiro ideal cristão.
Descurou dos mais comezinhos interesses da religião e apagou com a sua
intemperança e os seus desregramentos, os mais brilhantes traços deixados pelos
antecessores que perlustraram o mesmo caminho com honra, fé e dignidade.
Implantou o papa Leão VI a discórdia no seio da cristandade, publicando
bulas atentatórias da liberdade que os povos vinham conquistando as porfiadas
lutas travadas entre o barbarismo e o espírito liberal, que aspirava libertar o
mundo daquele jugo ferrenho, sob o qual a humanidade se debateu durante o
período medieval; desperdiçou tempo e energia procurando a todo o transe
interromper esse espírito liberal da época, que pugnava pelos mais generosos
ideais da liberdade e emancipação moral das consciências.
Comprometeu Leão VI a sua reputação de homem e de papa pactuando com
elementos dissolventes, de que se utilizava para demolir o que julgava
pernicioso à fé e prejudicial dos secretos interesses da Cúria; muita vez teve
de transigir com esses elementos, vendo-se na contingência de fazer-lhes
concessões descabidas e imorais, que para o papa importavam na renúncia dos
mais sagrados e puros princípios do Cristianismo.
Cedeu o grande sacerdote às imposições dos perniciosos, quando reunidos
reclamaram do papa certas medidas que somente a eles podiam aproveitar,
obrigando-o a satisfazer lhes os apetites, sob pena de lhe negarem o seu apoio
e a sua criminosa dedicação. Tolerou as mais cruéis invectivas nessa ocasião
dirigidas a ele pelos descontentes que viam na sua indecisão uma falsidade, uma
apostasia, uma falta ao compromisso tomado com eles.
E sempre transviado, caminhou o papa até o fim do seu pontificado, arrastando-se
até a morte...
Os atos do papa Leão VI são, portanto, merecedores da mais severa e
enérgica censura. Foi ele um mau sacerdote, um péssimo
pastor, indigno de missão extraordinária que em tão delicado momento lhe fora
confiada; é o culpado desse desvio que sofreu o Cristianismo, cujo falso rumo o
levou ao estado de penúria em que ora se encontra aqui na Terra.
O papa que neste momento se dirige à cristandade é um dos maiores
culpados, o mais responsável, talvez, dos pontífices que aqui tem vindo
confessar os crimes e faltas por eles cometidos durante o período pontifical.
Leão VI não pode fugir às responsabilidades que pesam sobre o seu
pontificado; e tem, por isso mesmo, grande satisfação em se condenar diante dos
homens, experimenta extraordinária alegria ao expandir a sua consciência
perante Deus e os cristãos, vindo à Terra para dar esta prova de humildade,
oferecer ao mundo este exemplo de obediência à Vontade Eterna, confessando-se o
mais criminoso dos papas cujos nomes figuram nesta “Revelação”.
A minha vida, como vistes, foi um acervo de erros e inconveniências, de
faltas e de atos delituosos que pratiquei, quer na qualidade de sacerdote, quer
como homem na vida privada. Não fiz o que devia pela religião de Jesus Cristo;
não cumpri o meu dever conforme o momento exigia do papa; não continuei a obra
dos meus antecessores e dos gloriosos mártires cristãos; chafurdei-me nos
gozos; deliciei-me nos prazeres da carne e esqueci a recomendação do Mestre de que
cada um fizesse por merecer, visto que as alegrias e as doçuras do céu seriam
dadas “a cada um por suas obras”.
Não fiz por merecer a glória e a felicidade eternas e, por isso, o que
me foi dado pelas minhas obras foram as trevas e os desassossego, os remorsos
que invadiram a minha consciência, que, logo após a morte, se transformou em
inferno, onde expurguei parte das minhas culpas, onde paguei os meus pecados,
de onde a minha alma, se não saiu redimida pelo arrependimento sincero que nela
penetrou, pelo menos recuperou a calma e a lucidez necessárias para poder rever
o seu passado e implorar a Deus perdão para as suas culpas, assumindo perante Ele
o compromisso formal de voltar ao mundo numa série de existências, para
depurar-se nesse cadinho admirável, para passar por esse laminador
incomparável, de onde saiu purificada, apta, aparelhada para as missões de
caridade e de amor, como esta que hoje venho cumprir aqui, instruindo-vos sobre
a vida espiritual, mostrando-vos quanto são falsos os ensinamentos que vos tem
sido ministrados pelos interesses nos abusos e empenhados, cada vez mais, em
manter uma situação que há muito devia já ter se extinguido para o mundo
cristão.
Venho para dar-vos a certeza da existência da alma e das sucessivas
reencarnações a que o espírito se submete, comparecendo na Terra tantas vezes
quantas são necessárias para o seu aperfeiçoamento e avanço no plano
espiritual. Compareço hoje neste mundo, onde já vivi cinco vezes e de onde a
minha alma saiu expurgada, para ascender às regiões em que habito e de onde
baixei agora sobre vós, circundado desta luz que o médium vidente vos descreveu
e é o prêmio dos esforços que empreguei para merecer de Deus, o que como papa
não fiz, e colocar-me de acordo com o conselho de Jesus - que cada um faça por
merecer, pois que a paz e a alegria do Céu serão dados “a cada um por suas obras.” E essa luz que trago comigo é, portanto,
a confirmação da sentença de Jesus - “a
cada um por sua obras”, é o primeiro dos meus sacrifícios nas existências a
que me submeti resignada e alegremente.
Sacrificai-vos também, meus irmãos e meus amigos bem amados;
sacrificai-vos, fazendo sempre por merecer, como recomendou o Divino Mestre.
Cumpri o vosso dever praticando boas obras, amando os vossos semelhantes,
abandonando o orgulho e a vaidade, preferindo a luz à treva, libertando-vos das
seduções e tentações da vida material, sempre cheia de espinhos e de lágrimas
para os que se deixam vencer pelos seus atrativos e encantos. Fugi à lisonja e
aos falsos louvores, que apenas servem para fazer britar no vosso coração os
venenosos sentimentos do orgulho e da vaidade, esses dois grandes obstáculos ao
progresso moral e ao adiantamento espiritual. Não vos deixei seduzir pelas
honras e títulos que o mundo confere aos seus prediletos, pois o maior e o mais
legítimo título que deveis almejar, é o de verdadeiro cristão e discípulo de
Jesus.
Não deixeis fascinar pelo ouro, pois não vos deveis esquecer que o que
veio da Terra à Terra voltará e o que veio do Céu ao Céu tornará; o ouro
voltará ao pó de onde saiu, assim também a vossa alma, que veio das mãos de Deus,
ao seio do seu Criador voltará. Tratai de enriquecê-la, orná-la, enchê-la dessa
riqueza que será eterna, que jamais se reduzirá a pó, como o ouro, por cuja
posse tanto vos sacrificais.
Sim, meus irmãos, cumpri o vosso dever, amando-vos uns aos outros,
praticando o bem, perdoando as ofensas que vos forem feitas, tolerando e
perdoando as faltas alheias, em suma, cumprindo por todos os meios a lei de Deus,
a cuja vontade e sabedoria deveis submeter-vos resignada e humildemente.
Praticai, pois, boas obras, para poderdes ver realizada, com relação à
vossa pessoa, a sábia e justa sentença de Jesus - “a cada um por suas obras”. Se assim acontecer, imensas e
indefinidas alegrias encherão a alma do vosso irmão, que muito vos ama.
Leão VI, papa
Agosto de 1917
Informações complementares
Papa de Maio a Dezembro de 928.
Um terço dos papas eleitos entre 872 e 1012 morreu em
circunstâncias estranhas – João VIII (872-882), espancado até a morte por seu
próprio séquito; Estevão VI (896-897),
estrangulado; Leão V (939-942), assassinado pelo sucessor, Sérgio III
(904-911); João X ((914-928), asfixiado; Estevão VIII (939-942), horrivelmente
mutilado, destino idêntico ao do antipapa grego João XVI (997-998), que, no
entanto, teve a desgraça de não morrer quando lhe arrancaram os olhos e lhe
cortaram o nariz, os lábios, a língua e as mãos.
Leão VI foi levado ao papado por Marozia
Theophylact, pertencente a uma das mais poderosas famílias de Roma e que também
indicou outros papas.
Marozia foi amante do papa Sérgio
III, de quem teve um filho ilegítimo que viria a ser o papa João XI.
Não dispomos de quaisquer registros
negativos em relação a Leão VI.
Fonte: Santos e Pecadores
por Eamon Duffy
Ed. Cosac & Naify 1998
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