3.3 Licantropia
por Zêus Wantuil
in Reformador (FEB) Março 1978
Finalmente, escreve: "Sob o ponto de vista do
Espiritismo, este fato oferece importante matéria de estudo; a obsessão ai se
apresenta sob um aspecto novo quanto à forma e quanto à causa determinante, mas
que nada tem de surpreendente após o que nos tem sido dado ver todos os dias.
São Benedito muita razão tem ao dizer que estamos longe de ter esgotado todas
as aplicações do Espiritismo, bem como abarcado tudo o que ele nos pode explicar; tal como
ele se nos apresenta, oferece-nos uma rica mina para explorar, com o auxílio
das leis que ele nos torna conhecidas."
Não faremos comentários sobre esta longa narração, pois o
leitor inteligente facilmente saberá analisá-la e comentá-la com o que já
dissemos no artigo anterior.
Entremos agora no estudo interpretativo das alterações Iicantrópicas
da personalidade, segundo a ciência terrena e respeito aos seres humanos.
Os psiquiatras estudam-nas entre as psicoses esquizofrênicas,
e o Dr. Vallejo Nágera, Professor de Psiquiatria da Universidade de Madrid, no
seu volumoso Tratado de Psiquiatria (1944), enquadra-as no capítulo das ideias
delirantes metamorfósicas, que são as que conduzem aos transtornos da
personalidade, com sintomatologia esquizofrênica primária, isto é,
"emergem sem motivo e resultam incompreensíveis" (Kohle).
O emérito professor diz então (pág. 154) que nessas ideias
delirantes "a sensação de transformação se reporta à mudança de posição
interna do paciente, relativamente ao meio ambiente - fenômeno denominado
transitivismo, por Wernicke".
"No transitivismo o paciente crê haver passado ao
corpo de outra pessoa ou ao de um animal, num típico fenômeno, neste último
caso, de personificação em animal" - observa ainda o Dr.
Nágera.
Nota-se, nesses doentes, o predomínio da Introversão
sobre a extroversão, o empobrecimento da atividade psíquica e alterações outras
que tornam a personalidade
esquizofrênica
clinicamente "inabordável, incompreensível, versátil, extravagante,
brutal".
O professor de Madrid considera que "o conteúdo dos
delírios esquizofrênicos se acha ligado às paixões, recordações, aos temores e remorsos:
a tudo o que se deseja e teme, a todo o vivido e pensado".
É interessante comparar esta observação com a que nos faz
Gúbio, ao referir-se em Libertação, capítulo V, à senhora licantrópica: "O
remorso é uma bênção, sem dúvida, por levar-nos à corrigenda, mas também é uma
brecha, através da qual o credor se insinua, cobrando pagamento. A dureza..."
Como se vê, apesar das insinuantes definições, a licantropia
e as esquizofrenias em geral continuam obscuras ao entendimento dos médicos
encarnados, pelo menos. Teorias e hipóteses inúmeras, constituídas em Escolas a
se digladiarem, cada qual desejosa de impor presunçosamente o seu ponto de vista,
multiplicam-se no campo da gênese dos fenômenos esquizofrênicos, sejam elas
puramente organicistas, puramente psíquicas, ou psico orgânicas.
Comentando essas controvérsias, Calderaro declara a André
Luiz que "tal conflito é, em verdade, lamentável e bizantino, de vez que
ambas as correntes (psíquica e orgânica) possuem razões
substanciosas nos argumentos com que se digladiam". (No Mundo Maior, André Luiz, capítulo 11, página 170)
Eis como o Dr. Vallejo Nágera se expressa sobre esse ponto,
à pág. 579 de sua obra já citada: "Polimorfica
en sus manifestaciones, desconcertante por sus extranos sintomas -
Incomprensibles psicológicamente -, misteriosas sus causas Intimas, constituye la esquizofrenia capitalisimo punto de interés
psiquiátrico y eje de Ia Psiquiatria. EI deslinde de Ia esquizofrenia ha sido
trabajosísimo, y hoy todavia discuten Ias distintas Escuelas su verdadera
etlopatogenia y unidad de sus sintomas."
Tristemente, esse mesmo médico chama à esquizofrenia -
"peste branca da humanidade civilizada", enquanto o nosso Dr. Heitor
Pires afirma ser "0 Moloque a desafiar e desapontar os estudiosos da Psiquiatria".
André Luiz lamenta, do Além, o avassalador pandesequilíbrio
mental, dizendo melancolicamente: "É tão grande a quantidade de doentes,
neste particular, que não nos
sobra outro recurso além
da resignação. Continuamos, desse modo, a atender superficialmente, esperando,
acima de tudo, da Providência Divina." (Obreiros
da Vida
Eterna, capítulo 11,
págs.30 e 31)
Acreditamos que se os psiquiatristas conhecessem melhor a
alma e suas ligações com um passado ainda vivo no presente, através das noções
reencarnacionistas, e aplicassem uma "terapêutica à base dos sentimentos
cristãos, antes de qualquer recurso à hormoterapia e à eletricidade" (Obreiros da Vida Eterna, pág. 31), certamente sustariam muitos casos cuja evolução tende
para o desequilíbrio completo.
Em alguns hospitais norte-americanos, 10 a 25 por cento
dos doentes esquizofrênicos se restabelecem espontaneamente, sem qualquer tratamento
farmacológico - declara George W. Gray em sua obra The advancing front of Medicine. Essa cura - perguntamos - não será
devida talvez à terapêutica cristã de que fala André Luiz, direta ou
indiretamente aplicada a esses doentes?
Para nós, espíritas, muitas dessas doenças mentais têm
origem extraterrena, o que vem sendo confirmado por cientistas de renome. Citaremos
os testemunhos de dois deles: os Drs. Webster e WiIliam James, ambos da
Associação Médica Norte-Americana.
O primeiro declara: "Muitos insanos há, tidos por
loucos incuráveis, que, no entanto, apenas se acham subjugados pela ação opressora
de Espíritos ou falanges de Espíritos." O segundo, professor de
Psicologia da Universidade de Harvard, dirigindo-se à classe médica, anunciou:
"Torna-se cada vez mais evidente que a obsessão é a causa determinante de
muitos casos de loucura e que estes podem curar--se. A atenção médica terá de
voltar-se para tais problemas, ou a matéria médica perderá o domínio do
assunto."
"Com exceção de raríssimos casos, todas as anomalias
de ordem mental se derivam dos desequilíbrios da alma” - firmou mais preciso e
sabiamente, do Além, o Espírito do médico André Luiz (Obreiros da Vida Eterna, pág. 30).
Embora muitos casos se catalogam, aos nossos olhos, entre
os de origem orgânica, mesmo estes podem ser contados nos desequilíbrios
profundos da alma, em vidas passadas, desequilíbrios que se refletiram no corpo
perispirítico preexistente e modelador do corpo físico, que, por sua vez,
fatalmente apresentará as falhas consequentes àquelas imprevidências do pretérito.
Por seu lado educativo, citaremos a interessante hipótese
de F. Gross (1918), que agrupa as esquizofrenias no quadro das teorias psíquicas.
Darei a palavra ao Doutor Nágera que, em seu Tratado de Psiquiatria, às págs. 604-5, assim expõe aquela
hipótese: "Supõe o autor que as enfermidades mentais radicam em duas
condições prévias: uma, negativa, representada pela falta de adequado impulso
ao bem; outra, positiva, representada pelas inibições cerebrais ao mal. Nos casos em que o
impulso congênito ao bem se desenvolve em completa liberdade em todos os aspectos,
o fator positivo somático não pode engendrar enfermidade cerebral alguma: a
pureza jamais enlouquece, só enlouquece a culpa." (Destaque nosso.)
"Entende-se
por fator negativo a vida afetiva muito afastada do ideal, na que radicam os
extravios, que conduzem à paixão e, com ela, à disposição para a enfermidade mental.
As paixões são a mãe de todas as enfermidades mentais." (Grifo nosso.)
"0 homem obra
por uma série de motivos corporais e espirituais, rompendo o corpo alterado a
cadeia de motivos, consequentemente, na esquizofrenia tratar-se-ia de causas
corporais e motivos psíquicos, com difícil separação analítica de uns e outros."
A Psiquiatria marcha para mais altas e mais efetivas
realizações dentro da terapêutica das doenças mentais.
O Espiritismo alegra-se com Isso, conquanto, de outro
lado, sinta alguma tristeza por ver a falsa compreensão que ela tem da Doutrina
dos Espíritos.
Não nos revoltemos, porém, nós os espíritas, e nem
lastimemos tal estado de coisas. A ciência psicossomática já é um passo dado
para que, no futuro, a Psiquiatria se abrace ao Espiritismo e entre, então,
numa nova fase de mais amplas possibilidades, senão para o extermínio, pelo menos
para a significativa diminuição dos doentes nervosos que preocupam a Humanidade.
Até lá, prossigamos distribuindo o que nos for possível
entre os necessitados da mente e da alma, orando sempre, confiantes no Médico
Divino - Jesus.
FIM
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