14) Mediunidade
e Compreensão.
por Indalício
Mendes
Reformador
(FEB) Abril 1959
A
mediunidade nem sempre é perfeitamente compreendida por algumas pessoas que
procuram beneficiar-se dela. Sua finalidade é nobre, elevada e edificante.
Entretanto, elementos desconhecedores da Doutrina kardequiana, isto é, da
Doutrina ditada pelos Espíritos e codificada pelo grande missionário Allan
Kardec, buscam-na persuadidos de que lhes será sempre mais fácil resolver
negócios comerciais, problemas de natureza sentimental e questiúnculas
terrenas, por meio de entidades do Além. Semelhante prática, que denota
absoluto desconhecimento dos postulados doutrinários, não é isenta de perigos,
quer para os consulentes, quer para os médiuns, e deve ser, tanto quanto
possível, evitada. O objetivo das manifestações mediúnicas é muito
outro. Usada para tais fins, a mediunidade é subestimada e se presta ao cultivo de meras
superstições, porque, em vez de contribuir para o aprimoramento moral dos consulentes e dos
médiuns, pode levá-los a consequências deploráveis, em virtude das vibrações
inferiores que a influenciam, atraindo cada vez mais Espíritos trevosos, que se
comprazem na exploração da credulidade malsã. Muitos casos de obsessão partem
daí, dessa leviandade que o Espiritismo Cristão procura destruir através do
ensino persistente da Doutrina em comunhão com as lições evangélicas.
*
Admite-se
que, excepcionalmente, um Espírito seja solicitado a opinar sobre um caso material sério, uma enfermidade, um distúrbio
familial, enfim, algo que justifique perfeitamente a intervenção superior de
uma entidade do Além. Todavia, usar a mediunidade para assuntos frívolos,
dúbios e pecaminosos até, será como que pretender-se apagar incêndio, lançando lhe
líquido inflamável. Evidentemente, não é só no Espiritismo que a superstição
faz ronda. Em outras religiões, o mesmo acontece. No entanto, o Espiritismo tem
meios de demonstrar positivamente o perigo que isso representa. Em “O Livro dos
Espíritos” e “O Livro dos Médiuns”, principalmente, há os mais completos
esclarecimentos acerca das relações entre o mundo físico em que vivemos e o
mundo invisível, onde vivem os Espíritos desencarnados. Estudar a Doutrina não
é fazer uma leitura superficial e gravar algumas passagens que possam
interessar mais em determinados casos. Estudá-la é assimilar seus ensinamentos
e cultivá-la por meio de uma exemplificação tão fiel e constante quanto
possível. Procurar um médium para saber qual o número que será premiado na
loteria ou se determinada intriga amorosa será resolvida
satisfatoriamente para uma das partes, já não se pode chamar apenas leviandade, visto que
representa também uma ofensa à pureza do Espiritismo, um desrespeito ao médium
e à mediunidade, assim como um desafio a Espíritos levianos ou malévolos, que
andam sempre à espreita de oportunidades para gracejos de mau gosto ou
irreparáveis maldades.
*
Todos
os Centros, todos os diretores de casas espíritas, dirigentes de sessões de
trabalhos mediúnicos, finalmente, quem quer que esteja ligado ao Espiritismo
por qualquer modo, deve estudar a Doutrina e propagá-la o mais possível. A
educação espírita tem a vantagem de favorecer, aos que dela se valem, com um
conhecimento diferente da vida e do mundo. Quando os inimigos da Terceira
Revelação insistem em falar de fraudes e mistificações, como se tudo no
Espiritismo fosse realmente falso e mentiroso, o fazem com o propósito de
desacreditá-lo. Acontece que o espírita compenetrado de seus deveres
doutrinários é o primeiro a exercer severa vigilância para evitar ou denunciar
os casos que, porventura, venham a ocorrer, dando margem a que deles suspeitem
como fraudulentos ou fingidos. Basta que se percorram as obras de maior
importância, no passado e no presente, subscritas por espíritas de grande autoridade
moral, intelectual e científica, para se ter a convicção absoluta de que ninguém mais do que nós
deseja ver o Espiritismo livre de especulações duvidosas e de indivíduos que
não possuem real autoridade para representá-lo. A maneira mais fácil e positiva
de defender a Terceira Revelação está em divulgar por todos os meios e modos a
Doutrina codificada por Allan Kardec, explicando-a, interpretando-a
corretamente, para que o mais humilde ouvinte ou leitor possa sentir-se capaz
de apreender tão úteis lições.
*
A
mediunidade não faz “milagres”, pois o médium não tem poderes para reproduzir
as lendas de que está abarrotada a história de certas religiões. Estas mesmas,
depois de haverem feito “milagres” espantosos há séculos, quando a Humanidade
vivia nas trevas da ignorância e proibida de penetrar determinados setores do
conhecimento humano, porque a liberdade de investigar e pensar estava
interdita, esgotaram os “stocks” de “milagres”. O Espiritismo veio mostrar, de um lado, e a Ciência, de outro, que
tudo estava mal explicado ao povo, que os pretensos milagres poderiam e podem
ser explanados pela Terceira Revelação ou pela Ciência, conforme o caso. Assim, a aparição de um
Espírito, tida como milagre, em que a imaginação popular, cega pela incultura, naquelas épocas de
obscurantismo, cria estar vendo um santo ou uma santa, nada mais era que um corriqueiro
fenômeno mediúnico. Do espanto do povo, aproveitaram-se habilmente os
usufrutuários da ingenuidade popular para tirarem partido, e bom partido. O
Espiritismo veio estabelecer normas novas, perfeitamente explicáveis, sem
necessidade de mistérios que apenas servem para prolongar a exploração das
massas não intelectualizadas. O desenvolvimento da mediunidade e seu exercício
amplo têm contribuído muito para destruir a crendice que se tornou, durante
séculos, generosa cornucópia de graças.
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