Procuremos
ser
Espíritas
Túlio Tupinambá (Indalício Mendes)
Reformador
(FEB) Abril 1959
Na
sociedade contemporânea, apesar das afirmativas solenes de apreço à liberdade
do homem, das declarações enfáticas dos direitos do homem e outras coisas
bonitas, mas quase sempre desmentidas pela realidade dos fatos, as
coletividades humanas são subdivididas de acordo com os recursos econômicos ou
financeiros dos elementos que as compõem e também da influência política de que
dispõem. Isto evidencia que não houve grande evolução e o homem continua sendo
presa do homem. Os mais fortes concedem um mínimo de liberdade e direitos aos
mais fracos, cujas reivindicações são naturalmente grandes e não encontram
correspondência nos objetivos dos dominadores. Numa análise que se faça da história das relações humanas,
ver-se-á quão pequeno tem sido o progresso até os nossos dias. O egoísmo é
ainda a maior chaga da Humanidade. Ele estimula a ambição perniciosa,
desenvolve a vaidade corruptora, torna os sentimentos empedernidos, cultiva a
indiferença pelos semelhantes, finalmente, retira do homem os sentimentos e as
virtudes que podem aproximá-lo de Jesus, o Excelso Paradigma de Bondade.
Vivemos num fim de século ultra materialista, em que plutocracismo domina
infrenemente. “Só vale quem tem” - é a divisa. O indivíduo pode ser desprovido
de todas as qualidades morais, mas é recebido com sorrisos e homenagens, se
tiver fortuna ou aparentar possuí-la. No entanto, multidões de pessoas pobres e
humildes, com um valor moral extraordinariamente maior, sofrem humilhações,
privações, restrições, porque, não obstante possuírem o tesouro dos bons
sentimentos, carecem de bens materiais.
*
É
bem grande a responsabilidade dos espíritas. Sim, dos espíritas que permanecem
obedientes à Doutrina e que se iluminam no Evangelho segundo o Espiritismo.
Eles têm a obrigação de superar os obstáculos que o materialismo cru vai
levantando ante aqueles que creem nas verdades da vida espiritual. Suas armas
são justamente a prática do bem, a exemplificação doutrinária e evangélica, a
humildade digna e forte, que não se intimida diante dos poderosos e
autoritários, mas, pelo contrário, que faz revestir essa humildade da coragem
serena que luta em defesa dos desamparados e enfermos.
Num
fim de século em que são belas e impressionantes as conquistas científicas do
homem, é triste reconhecer que as vitórias obtidas no âmbito moral e espiritual
são relativamente pequenas. A Humanidade avança com a velocidade do som na
multiplicação dos benefícios materiais, nos instrumentos de prazer para os sentidos
e na arte da destruição, mas continua a caminhar com a lentidão da lesma, no
tocante ao desenvolvimento moral e às realizações espirituais. Os grupos
científicos ou pseudocientíficos, em implícita aliança com religiões falidas,
que somente sobrevivem pela riqueza que têm e pela ação política sustentada por
seu clero, combatem as verdades do Espiritismo, tentando demonstrar (!) que não
há médium e que, portanto, a mediunidade é um mito. Querem reduzir tudo a meros
fenômenos telepáticos. Elevam o poder da mente, negando o poder do espírito! As
materializações, os transportes, a audiência, a precognição, a vidência, etc.,
tudo isso não passa de grosseira mistificação dos espíritas!
Devemos
desesperar porque tais coisas sucedem? Não. Num século profundamente
materialista, o espantoso seria que nada acontecesse assim. Mas quando vemos
religiões desacreditadas lançando mão de exemplos até há pouco utilizados por
materialistas, para combater o Espiritismo, que é puro espiritualismo, sentimos
reconhecer que à Humanidade ainda estarão reservados muitos anos de lutas
desfraternas, de dores lancinantes, de decepções amargas! E isso durará até
que, por força das circunstâncias, o homem se dirija corretamente na senda
cristã, orientado pelo Espiritismo e iluminado pelas lições do Cristo vivo,
porque não somos dos que procuram tocar o sentimento humano, através de
deplorável iconolatria, apresentando a imagem triste e pungente do Cristo
pregado à cruz! Não! Para nós a morte é apenas uma mudança de
situação do Espírito, que passa do mundo físico para o mundo espiritual. Cristo,
conforme provou pelo episódio da Ressurreição, continua vivo, não havendo
motivo, a não ser por impulsos de natureza mórbida, para apresenta-lo sempre
com a fisionomia dolorosa e o corpo coberto de chagas e sangue.
*
Nenhuma
religião está mais talhada a enfrentar o futuro do que o Espiritismo, porque
este não estacionou, não parou no passado. Sua marcha continua sempre com o
objetivo no futuro. Sua Doutrina é evolutiva, irmanada à Ciência liberta de
prejuízos humanos e à Filosofia que se vivifica no Evangelho de Jesus!
Os
espíritas devem, pois, meditar. Cuidado para que nenhum de nós se deixe iludir,
esquecendo os ensinamentos doutrinários. Fechemos a boca às más palavras, os
ouvidos a discursos tendenciosos e os olhos às cenas que nos amesquinham
perante o Cristo. Em contraposição, vibremos de paz e amor para com todos,
abrindo de par em par o nosso coração, testemunhando a cada instante a nossa
fidelidade à Doutrina e ao Evangelho, sem o que poderemos ser o que
imaginarmos, nunca, porém, verdadeiramente espíritas!
Nenhum comentário:
Postar um comentário