1.3 Licantropia
por Zêus Wantuil
in Reformador (FEB) Jan 1978
Na sétima obra de André Luiz - Libertação -, que já
atingiu a 6ª edição, cheia de luminosas mensagens de amor ao próximo e amor a
nós mesmos, deparou-se-nos interessante ponto no capitulo V. Conta-nos o Autor
que ele e o instrutor Gúbio participaram do julgamento de Espíritos perturbados e desiludidos, por sete
julgadores inflexíveis, e que um deles, "incidindo toda a força magnética
que lhe era peculiar, através das mãos, sobre uma pobre mulher que o fixava,
estarrecida", ordenara-lhe que dele se aproximasse. Envolvida num
verdadeiro estado hipnótico, a infeliz mulher relata todos os horrores por ela
cometidos na Terra.
O juiz, tomando atitude superior, diz, então: -
"Como libertar semelhante fera humana ao preço de rogativas e
lágrimas?" "Em seguida, fixando sobre ela as irradiações que lhe
emanavam do temível olhar, asseverou, peremptório: - A sentença foi lavrada por
si mesma! não passa de uma loba, de uma loba, de uma loba...
"A medida que repetia a afirmação - conta o Autor -,
qual se procurasse persuadi-la a sentir-se na condição do irracional
mencionado, notei que a mulher, profundamente influenciável, modificava a
expressão fisionômica. Entortou-se lhe a boca, a cerviz curvou-se, espontânea,
para a frente, os olhos alteraram-se, dentro das órbitas. Simiesca expressão
revestiu-lhe o rosto.
"Via-se, patente, naquela exibição de poder, o
efeito do hipnotismo sobre o corpo perispirítico" - observa André Luiz.
Mais adiante, Gúbio explica: - "Temos aqui a gênese
dos fenômenos de Iicantropia, inextricáveis, ainda, para a investigação dos
médicos encarnados. Lembra-se de Nabucodonosor, o rei
poderoso, aque se refere a Bíblia? Conta-nos o Livro Sagrado que ele viveu,
sentindo-se animal, durante sete anos. O hipnotismo é tão velho quanto o mundo
e é recurso empregado pelos bons e pelos maus, tomando-se por base, acima de
tudo, os elementos plásticos do períspirito!"
Os dicionários definem a licantropia (do grego lukos,
"lobo" e anthropos, “homem") como sendo uma doença mental, em
que o doente - Iicantropo (em português), lupo mannaro (em italiano),
loup-garou (em francês), werwolf (em inglês) - se crê transformado em lobo, e imita os
hábitos e a voz desse animal.
Esse termo, além do sentido restrito que lhe é
devidamente aplicado, pode, igualmente, num sentido mais lato, abranger os
casos em que o paciente se supõe metamorfoseado em outro qualquer animal:
cavalo, tigre, leopardo, leão, hiena, jaguar, etc., embora para todas essas
vesânias, inclusive a Iicantrópica propriamente dita, exista cunhado o vocábulo genérico
- zoantropia. Às vezes o indivíduo se acredita transformado em cão; neste caso,
estaremos diante de um fenômeno de cinantropia.
Extremamente raros são hoje os fenômenos licantrópicos e
somente consequentes a gravíssimos casos de melancolia. Mas na antiguidade,
principalmente na Idade Média, no século XVI e em fins do
século XVII, durante as chamadas epidemias de satanismo, esses doentes eram
numerosos. Impelidos por seu delírio, abandonavam suas moradas, entranhavam-se nos bosques
e florestas, deixavam crescer as unhas, os cabelos, a barba, e acabavam mortos
pela fome ou por camponeses supersticiosos. Dizia-se que às vezes a ferocidade
deles chegava a tal ponto, que mutilavam e matavam até mesmo crianças. Era uma
loucura bem conhecida dos antigos e não havia povo que a ignorasse. Plínio,
Vergílio, Propércio, Petrônio e muitos escritores deixaram em suas obras
algumas referências sobre tão estranha demência.
Conta-se que na Idade Média deplorável epidemia
Iicantrópica se alastrou pela Europa, e, sendo considerada como uma forma de
bruxaria, dela se ocuparam teólogos
como J. Bordin e o juiz da
corte eclesiástica de Saint-Claude, H. Boguet, que, segundo Voltaire, se gabava
de haver morto mais de 600 Iicantropos e endemoniados.
Os médicos posteriormente explicaram que aquelas
epidemias e endemias se originavam de uma super excitação supersticiosa que auto
sugestionava os indivíduos já predispostos a doenças
mentais. Os espíritas cremos que também obsessões terríveis se processavam por
influenciação de Espíritos.
Em 1620, certo médico escrevia que essa doença não era
mortal, e acrescentava: "Se bem dure ordinariamente alguns meses, tem-se
observado que a cura há sido obtida às vezes somente após alguns anos."
Exemplificando o fenômeno passado com a desventurada
mulher, o instrutor Gúbio cita o interessantíssimo caso de Nabucodonosor, o rei
(604-561) soberbo e impiedoso da então prodigiosa Babilônia, cujo Templo de Bel
até hoje não foi ultrapassado em grandeza por nenhum outro edifício consagrado
a um culto, inclusive mesmo o Vaticano.
O Livro de Daniel narra os sonhos proféticos do rei, que,
com toda a certeza, era médium. Por isso cremos, com Gúbio, que Nabucodonosor
sofrera alguma influência espiritual, traduzida em hipnotização, semelhante à
que se processou com a mulher de que
trata a obra de André Luiz, hipnotização que o reduziu à condição de animal,
num típico fenômeno de Iicantropia, a fim de que, humilhado em sua soberba, se
transformasse num homem justo e bom, humilde diante do Altíssimo.
Em belas páginas, conta o rei a Daniel um sonho
enigmático que ele tivera (Daniel, 4:10 a 18). Daniel interpreta a visão, que
se relacionava ao próprio rei, sobre quem viria o "decreto do
Altíssimo", e, inspirado, declara (Daniel, 4:25): "Tu serás expulso dentre os homens, e a tua
morada será com os animais do campo, e serás obrigado a comer erva como os
bois, e serás molhado do orvalho do céu, e sobre ti passarão sete tempos."
De fato, assim aconteceu: um ano depois, Nabucodonosor
acreditou-se transformado num daqueles touros cujas formas gigantescas
dominavam sobre os muros do seu palácio. "Foi ele expulso dentre os
homens, e comeu erva como os bois, e foi seu corpo molhado do orvalho do céu, até que
cresceu o seu pelo, como as penas das águias, e as suas unhas como as das
aves." (Daniel, 4:33)
Somente após sete anos voltou o entendimento ao rei, que
reassumiu a direção do trono, governando, desde então, com humildade diante de
Deus, e justiça diante dos
homens.
De acordo com André Luiz, as alterações fisionômicas que
se seguiram na senhora, no caso em apreço, foram devidas à forte hipnotização
por parte de Gregório.
As ações hipnotizadoras, tanto quanto as magnéticas,
incontestavelmente verifica verificadas e comprovadas por sábios homens de
ciência, entre os quais sobressaem Charcot, Dumontpallier, Brald,
Bernheim,Liébeault, Binet, Féré, Brémaud, Richet, de Rochas, etc., constituem
verdadeira maravilha aos olhos das criaturas, mas ao mesmo tempo representam
estranhas manifestações do homem-divino, ora para o bem, ora para o mal.
Os seres permutam entre si esse magnetismo inerente a
cada um, se não soubermos controlar as correntes que nos envolvem, fatalmente
cairemos presas do desequilíbrio provocado pelas investidas
destruidoras.
Tal sucedeu com a infeliz de que nos fala André Luiz.
Sintonizando--se com a poderosa vontade magnética do interlocutor, a ela se
submeteu sem hesitação.
Não sei ao certo se os Iicantropos encarnados são suscetíveis
de alterações fisionômicas; mas, mesmo que isso não aconteça, diremos com André
Luiz que "o aparelho físico permanece muito
distante da plasticidade do corpo perispiritual, profundamente sensível à
influenciação magnética". (Missionários
da Luz – cap. 13, pág. 216) Aliás, nessa
mesma obra, no interessantíssimo capitulo "Reencarnação", vemo-nos
diante daquela curiosa redução do corpo perispirítico de Segismundo em vias de
reencarnação, operação que foi levada a efeito através da magnetização, por
abnegados benfeitores espirituais.
Ainda podemos citar o testemunho do notável magnetizador
Coronel A. de Rochas que, em seu livro Les
Vies Successives (1911, pág. 39), concluiu, após várias experiências e
acuradas observações: "O corpo fluídico pode modelar-se sob a influência
da vontade, como a terra argilosa nas mãos do estatuário."
Uma
das experimentações, repetida várias vezes, é aquela em que de Rochas, após
exteriorizar o duplo fluídico do paciente, fe-lo remontar o curso das idades.
"Ao produzir-se o fenômeno - assinala de Rochas -, em seguida à formação
do corpo fluídico, espectadores videntes viam esse mesmo corpo mudar de forma e
diminuir--se à medida que se fazia o paciente tornar à sua infância."
Utilizando-se da Sra. Lambert como o sujet de várias de suas
experiências, de Rochas certa vez exteriorizou lhe o corpo fluídico,
ordenando-lhe em seguida que o conservasse sob a forma de bola. Resistiu a
senhora a essa ordem, mas por fim teve de obedecer. Ela se viu sob essa forma e de
Rochas diz disso ter-se certificado, observando pincements no espaço. Por sugestão, o experimentador fá-la voltar à
sua forma primitiva, convidando-a em seguida a vir dois dias mais tarde, para
outra sessão.
"No dia aprazado - conta de Rochas -, não a vendo,
fui ter com ela e encontrei-a em arco. Disse-me ela que não podia estender seus
membros, e que isto muito a molestava. Exteriorizei então, de novo, seu corpo
fluídico, que endireitei por sugestão, e o fiz volver ao corpo físico. Ela ficou
curada."
Vemos, claramente, nesse fato, a influência magnética
sobre o perispírito, influência que se refletiu até mesmo no corpo carnal.
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