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‘Rimas do
Além Túmulo’
Versos Mediúnicos de
Guerra Junqueiro
Grupo Espírita Roustaing
Belém do Pará 1929
Casa Editora Guajarina
A Confissão
Há crentes
verdadeiros e que são sacrários
de Fé, humildes,
que obedecem ao Senhor
na bondade integral
dos grandes missionários
que abraçaram o
suplício e cultivam a Dor;
mas, muitas dessas
almas vivem iludidas
no enganoso brilhar
das falsas teorias,
não veem a luz do
Sol, como as flores pendidas
que volvem para o
chão as pétalas macias.
Tenho pena de vós,
ó FILHAS DE MARIA,
que julgais
alcançar a eterna salvação,
encontrando no fel
o sabor da ambrosia,
vivendo fatalmente à
sombra da Ilusão.
Ó vós, que vos
prostrais aos pés do confessor,
vítimas feitas pela
Mistificação,
os pecados contando
a outro pecador
para dele alcançar
a plena absolvição,
- vós sois como as
pacatas, brandas ovelhinhas
que respiram ar
puro e santo da Bonança
e ao peito guardais
as cândidas florinhas
da Fé que vos
conduz à Bem aventurança...
Ó Mártir, que
expirou no topo ao Calvário,
pregado numa cruz
como um feroz ladrão,
- nunca arrastou os
crentes ao Confessionário,
e, no entanto,
legou ao mundo o Seu PERDÃO!
Mas é bem triste ver-se pretensos pastores
cobrirem de ameaça
os entes desgraçados
por não ajoelhar
aos pés dos confessores
e não depositar ali
cem mil pecados.
E enquanto os
padres bradam despejadamente
que as almas nunca
fujam dessa Confissão,
aumenta, dia a dia,
o bando impenitente
das ovelhas que
escapam ao redil “cristão”...
É ridículo ver um
homem ilustrado
indagar em segredo
a ingênuas criaturas
desde o mais
elegante ao mais feio pecado.
Agindo assim,
comete a maior das loucuras,
pois falta à
Caridade, em querer devassar
o íntimo dos
crentes que, confiadamente,
autômatos,
coitados, sem raciocinar,
fazem de um pecador
seu grave confidente,
que, “consciencioso”,
assim como quem cata
do meio da verdura
um verme venenoso,
vai catando os
pecados da alma candidata
ao Paraiso, em ar
empírico, “bondoso”,
do ator que
representa um papel empolgante
por ordem do Empresário
que, de longe, espreita
se produz bom
efeito a peça retumbante,
a qual serve também
de fonte de receita...
Que poder tendes
vós, ó vigários talados,
para perdoar as
culpas dos caídos?
Que poder tendes
vós, se sois bem mais culpados
do que esses
pobres, tão torpemente iludidos?
Aos homens, às
mulheres, povos em geral,
vós quereis
governar, ó sombras do Passado;
e, brandindo um hissope
e empunhando um missal,
quereis que o mundo
fique embaixo do papado
morrendo de asfixia
e estourando afinal,
sob a pressão
medonha do velho “gigante”...
Mas o mundo comeu
já da “Árvore do Mal”
o fruto proibido pelo
clero intrigante...
o fruto - ESPIRITISMO,
“horrível, demoníaco”,
e que vem escandalizar
outras religiões
e mostra que o papado
é um velho maníaco
que odeia o
modernismo e as investigações!
E, por isso,
condena e lança maldições
eternas sobre os “ímpios
desequilibrados”.
que tem o
atrevimento de assistir sessões
espíritas, falar
com “endemoninhados".
De toda essa coorte
de loucos, dementes
que resgata o
passado em celas, em presídios;
de todas as
desgraças feitas por descrentes;
de todas as catástrofes,
crimes, suicídios,
é o Espiritismo o único
culpado!
(o padre grita
assim nos rútilos sermões);
mas para libertar os ímpios do
pecado,
um único recurso:
as SANTAS CONFISSÕES...
Não lembram os ministros que a pressão dos fatos
faz ruir os
argumentos de altos colossais
a calcinar do Erro os restos putrefatos
e brilhar da
VERDADE as luzes celestiais.
É preciso que os
homens, formando barreira,
combatam o Abuso,
em protesto geral,
libertando,
destarte, a Humanidade inteira
das cadeias do Erro
solerte e mortal.
Espiritismo!
alavanca movida por Deus
pra que a
Humanidade possa evoluir
apesar da ação
hostil dos fariseus
modernos, que,
raivosos, buscam destruir
o foco da Verdade-
que põe descoberto
o que as doutrinas
guardam intencionalmente:
ninguém pode
impedir que do Céu entreaberto
jorre uma nova Luz,
divina, refulgente...
Podem gritar fanáticos:
Espiritismo
é fábrica de
loucos, néscios e de ateus;
apedrejado assim
pelo clericalismo,
ele há de triunfar,
pois é obra de Deus!
28 de Março de 1929
NOTA - Estes versos
foram declamados pelo Espírito, incorporado na médium, Srta. América Delgado,
em sessão pública
assistida por mais de 400 pessoas. Por várias vezes, houve pausas, a propósito
dos quais o Espírito assinalou
a presença de Espíritos adversos, de clericais, tentando -- por Iodos os modos
e com o empenho de todas as forças, perturbar, interromper os trabalhos e assaltar
a médium, tendo, então, sido pedida e feita uma prece em intenção desses ditos
Espíritos, prece formulada por Guerra Junqueiro e acompanhada, em pensamento,
pelos que quiseram ou puderam faze-lo.
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