11) Do
comportamento do Médium
por Indalício
Mendes
Reformador
(FEB) Fevereiro 1959
Nestes
escritos sobre a mediunidade, jamais tivemos, ainda que distante, a presunção
de ensinar o que quer que seja àqueles que nos honram com a sua leitura. O que
aqui temos escrito não é nosso, mas de Kardec e de outros mestres
incontestáveis do Espiritismo. Somos apenas veículo de ideias que precisam de
ser insistentemente repetidas para que os mais novos, embora estudiosos e
atentos, sejam alertados e possam manter-se em guarda contra golpes insidiosos.
Temos
amiudadamente aludido à humildade. É claro que não defendemos o conceito antigo
de humildade, porque os tempos são outros, e não desejaríamos ver um nosso
semelhante exposto a situações vexatórias por pretender adotar uma atitude de
absoluta passividade diante de ocorrências em que a sua própria condição de ser
inteligente e pensante justifica um comportamento diferente. Todavia, este
comportamento não é nem seria jamais o da violência, porque, então, aberraria
dos princípios cristãos do Espiritismo. O homem humilde tem de ser, segundo a
verdadeira concepção da humildade, um homem simples, mas que está senhor de si
e sabe como reagir contra abusos, adotando procedimentos de construtiva reação,
de maneira que o mal não encontre estímulo e possa, antes, ser absorvido pelo
desejo do bem. Para nós, humildade é sinônimo de simplicidade, é ter o culto da
não-violência, o devotamento à tolerância bem esclarecida e não a
condescendência com o mal.
Disseram-nos,
certa vez, que o Cristianismo ensinava os homens a serem desfibrados, passivos,
abúlicos, isto é, numa palavra, desumanizava-os, fazendo que se tornassem meros
joguetes nas mãos dos mais fortes e poderosos. Isso não é verdade. O erro não
está na concepção cristã da humildade, mas na interpretação defeituosa que foi
emprestada a essa virtude. O humilde não é um ser inferior; inferior, do ponto
de vista moral, é o servil. Este se amesquinha, resigna-se à sua condição
humana, objetivando tirar partido da sua passividade. O humilde o é porque se
conduz com serenidade, discrição, tolerância, sinceridade. Tem em si a
capacidade de renunciar, o que é difícil. Não se humilha por prazer, porque,
então, daria triste demonstração de morbidez. Cala-se, quando julga ser
oportuno o silêncio, mas tem a coragem das atitudes tranquilas, que são
privilégio das criaturas verdadeiramente fortes, profligando o erro, apontando
o mal, sem, no entanto, deixar-se contaminar dele. Sente-se animado a reagir
contra a injustiça, em defender a verdade e a restabelecer a ordem onde ela houver
sido afetada, tudo sem perder a serenidade, porque, para se ser enérgico, não é
mister gritar, deblaterar, gesticular ou praticar violência. O poder da
serenidade é bem mais forte do que um berro ou um murro na mesa.
*
O
médium deve praticar a humildade. Contudo, para ser humilde não precisa mostrar
a face contrita por falsa compunção, como fazem
certos sacerdotes profissionais, que parecem estar sempre chorando e sofrendo,
mas, por detrás da máscara da face, andam maquinando golpes e traições contra aqueles
que não comungam com suas ideias. O médium humilde, portanto, é um homem
simples, sereno, bom, com espírito de renúncia, capaz de dizer mil vezes
"sim", mas, se necessário, dizer também "não". Há ocasiões
em que uma negativa oportuna produz maior bem do que inoportuna aquiescência.
Um médium senhor da Doutrina Espírita jamais se exalta, nunca se revolta ou
perde a calma. A serenidade é sua linha de ação. Por isto, o médium que deseja
progredir em sua mediunidade, tem de ter muita cautela com o que diz e com o
que faz. Disse Léon Denis: “A mediunidade
é uma delicada flor que, para desabrochar, necessita de acuradas precauções e
assíduos cuidados. Exige o método, a paciência, as altas aspirações, os
sentimentos nobres, e, sobretudo, a terna solicitude do bom Espírito que a
envolve em seu amor, em seus fluidos vivificantes. Quase sempre, porém, querem
fazê-la produzir frutos prematuros e desde logo se estiola e fana, ao contato
dos Espíritos atrasados." ("No Invisível", ed. 1939, pág.
67). O médium vaidoso, orgulhoso de sua mediunidade e irritadiço quando não se
sente cortejado, é um médium em perigo. Pode ser afável e discreto, pois não é
necessário que se mostre carrancudo, caladão e insociável. Pelo contrário, a
sociabilidade, a alegria, a comunicabilidade, o otimismo, a esperança no
melhor, a vontade de servir, de ser útil, de ser bom, são qualidades que ajudam
o trabalho mediúnico, pela influência favorável que provocam em redor do
médium. Uma das normas essenciais é que ele leve muito a sério a mediunidade e
o trabalho espírita que lhe cumpre realizar. Só terá a lucrar com semelhante
atitude. Além disto; não permitir jamais dúvidas quanto ao modo de exercer o
mediunismo, facilitando o controle de suas atividades mediúnicas e dispondo-se
de boa vontade à vigilância honesta e sincera. Se, com todos esses cuidados, o
Espiritismo é vítima da má fé de adversários sem compostura moral e científica,
porque não agem honestamente contra ele, imaginemos o que não sucederia se
opuséssemos dificuldades a qualquer desejo de controle por parte dos que descreem
da mediunidade. Temos de continuar a ser os primeiros a desejar essa
vigilância, essa fiscalização, esse controle. Apenas devemos exigir que haja
sinceridade e, sobretudo, honestidade real da parte daqueles que a isso se dedicam. É o que nem sempre tem
acontecido.
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