quarta-feira, 3 de julho de 2013

11. Do Comportamento do Médium



11) Do comportamento do Médium

por Indalício Mendes
Reformador (FEB) Fevereiro  1959

             Nestes escritos sobre a mediunidade, jamais tivemos, ainda que distante, a presunção de ensinar o que quer que seja àqueles que nos honram com a sua leitura. O que aqui temos escrito não é nosso, mas de Kardec e de outros mestres incontestáveis do Espiritismo. Somos apenas veículo de ideias que precisam de ser insistentemente repetidas para que os mais novos, embora estudiosos e atentos, sejam alertados e possam manter-se em guarda contra golpes insidiosos.

            Temos amiudadamente aludido à humildade. É claro que não defendemos o conceito antigo de humildade, porque os tempos são outros, e não desejaríamos ver um nosso semelhante exposto a situações vexatórias por pretender adotar uma atitude de absoluta passividade diante de ocorrências em que a sua própria condição de ser inteligente e pensante justifica um comportamento diferente. Todavia, este comportamento não é nem seria jamais o da violência, porque, então, aberraria dos princípios cristãos do Espiritismo. O homem humilde tem de ser, segundo a verdadeira concepção da humildade, um homem simples, mas que está senhor de si e sabe como reagir contra abusos, adotando procedimentos de construtiva reação, de maneira que o mal não encontre estímulo e possa, antes, ser absorvido pelo desejo do bem. Para nós, humildade é sinônimo de simplicidade, é ter o culto da não-violência, o devotamento à tolerância bem esclarecida e não a condescendência com o mal.

            Disseram-nos, certa vez, que o Cristianismo ensinava os homens a serem desfibrados, passivos, abúlicos, isto é, numa palavra, desumanizava-os, fazendo que se tornassem meros joguetes nas mãos dos mais fortes e poderosos. Isso não é verdade. O erro não está na concepção cristã da humildade, mas na interpretação defeituosa que foi emprestada a essa virtude. O humilde não é um ser inferior; inferior, do ponto de vista moral, é o servil. Este se amesquinha, resigna-se à sua condição humana, objetivando tirar partido da sua passividade. O humilde o é porque se conduz com serenidade, discrição, tolerância, sinceridade. Tem em si a capacidade de renunciar, o que é difícil. Não se humilha por prazer, porque, então, daria triste demonstração de morbidez. Cala-se, quando julga ser oportuno o silêncio, mas tem a coragem das atitudes tranquilas, que são privilégio das criaturas verdadeiramente fortes, profligando o erro, apontando o mal, sem, no entanto, deixar-se contaminar dele. Sente-se animado a reagir contra a injustiça, em defender a verdade e a restabelecer a ordem onde ela houver sido afetada, tudo sem perder a serenidade, porque, para se ser enérgico, não é mister gritar, deblaterar, gesticular ou praticar violência. O poder da serenidade é bem mais forte do que um berro ou um murro na mesa.

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            O médium deve praticar a humildade. Contudo, para ser humilde não precisa mostrar a face contrita por falsa compunção, como fazem certos sacerdotes profissionais, que parecem estar sempre chorando e sofrendo, mas, por detrás da máscara da face, andam maquinando golpes e traições contra aqueles que não comungam com suas ideias. O médium humilde, portanto, é um homem simples, sereno, bom, com espírito de renúncia, capaz de dizer mil vezes "sim", mas, se necessário, dizer também "não". Há ocasiões em que uma negativa oportuna produz maior bem do que inoportuna aquiescência. Um médium senhor da Doutrina Espírita jamais se exalta, nunca se revolta ou perde a calma. A serenidade é sua linha de ação. Por isto, o médium que deseja progredir em sua mediunidade, tem de ter muita cautela com o que diz e com o que faz. Disse Léon Denis: “A mediunidade é uma delicada flor que, para desabrochar, necessita de acuradas precauções e assíduos cuidados. Exige o método, a paciência, as altas aspirações, os sentimentos nobres, e, sobretudo, a terna solicitude do bom Espírito que a envolve em seu amor, em seus fluidos vivificantes. Quase sempre, porém, querem fazê-la produzir frutos prematuros e desde logo se estiola e fana, ao contato dos Espíritos atrasados." ("No Invisível", ed. 1939, pág. 67). O médium vaidoso, orgulhoso de sua mediunidade e irritadiço quando não se sente cortejado, é um médium em perigo. Pode ser afável e discreto, pois não é necessário que se mostre carrancudo, caladão e insociável. Pelo contrário, a sociabilidade, a alegria, a comunicabilidade, o otimismo, a esperança no melhor, a vontade de servir, de ser útil, de ser bom, são qualidades que ajudam o trabalho mediúnico, pela influência favorável que provocam em redor do médium. Uma das normas essenciais é que ele leve muito a sério a mediunidade e o trabalho espírita que lhe cumpre realizar. Só terá a lucrar com semelhante atitude. Além disto; não permitir jamais dúvidas quanto ao modo de exercer o mediunismo, facilitando o controle de suas atividades mediúnicas e dispondo-se de boa vontade à vigilância honesta e sincera. Se, com todos esses cuidados, o Espiritismo é vítima da má fé de adversários sem compostura moral e científica, porque não agem honestamente contra ele, imaginemos o que não sucederia se opuséssemos dificuldades a qualquer desejo de controle por parte dos que descreem da mediunidade. Temos de continuar a ser os primeiros a desejar essa vigilância, essa fiscalização, esse controle. Apenas devemos exigir que haja sinceridade e, sobretudo, honestidade real da parte daqueles que a isso se dedicam. É o que nem sempre tem acontecido.



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