Multiplicam-se
os pães
14,13 A
esta notícia, Jesus partiu dali numa barca para se retirar a um lugar deserto,
mas o povo soube e a multidão das cidades o seguiu a pé.
14,14 Quando desembarcou, vendo Jesus essa
numerosa multidão, moveu-se de compaixão para com ela e curou seus doentes.
14,15 Caía
a tarde. Agrupados em volta dele, os discípulos disseram-lhe: -Este é um lugar
deserto e a hora é avançada. Despede essa gente para que vá comprar víveres na aldeia.
14,16
Jesus respondeu: “Dai-lhes vós mesmos de
comer!”
14,17 -Mas, disseram eles, nós não temos aqui
mais que cinco pães e dois peixes.
14,18
“Trazei-mos!”, disse-lhes Ele.
14,19
Então, mandou assentar os homens na relva, tomou os cinco pães e os dois peixes
e, elevando os olhos ao céu, abençoou-os. Partindo, em seguida, os pães, deu-os aos seus discípulos, que
os distribuíram ao povo.
14,20
Todos comeram e ficaram fartos e, dos pedaços que sobraram, recolheram doze
cestos cheios.
14,21
Ora, os convivas foram, aproximadamente, cinco mil homens, sem contar as mulheres e as crianças.
Para Mt
(14,16) -Dai-lhes vós mesmos de comer... - leiamos “Fonte Viva” de Emmanuel por Chico Xavier:
“Diante da multidão fatigada e faminta, Jesus recomenda aos apóstolos:
“Dai-lhes vós de comer”. A
observação do Mestre é importante, quando realmente poderia ele induzi-los a
recriminar a multidão pela imprudência de uma jornada exaustiva até o monte,
sem a garantia do farnel.
O Mestre desejou, porém, gravar no
espírito dos aprendizes a consagração deles ao serviço popular. Ensinou que aos cooperadores do Evangelho,
perante a turba necessitada, compete tão somente um dever - o da prestação de
auxílio desinteressado e fraternal.
Naquela hora do ensinamento
inesquecível, a fome era naturalmente do corpo, vencido de cansaço, mas, ainda
e sempre, vemos a multidão carecente de amparo, dominada pela fome de luz e de
harmonia, vergastada pelos invisíveis azorragues da discórdia e da incompreensão.
Os colaboradores de Jesus são
chamados, não a obscurecê-la com o pessimismo, não a perturbá-la com a
indisciplina ou a imobilizá-la com o desânimo, mas sim a nutri-la de
esclarecimento e sublime esperança.
Se te encontras diante do povo, com
o anseio de ajudá-lo, se te propões contribuir na regeneração do campo social,
não te percas em pregações de rebelião e desespero. Conserva a serenidade e
alimenta o próximo com o teu bom exemplo e com a tua boa palavra.
Não olvides a recomendação do
Senhor: - “Dai-lhes vós de comer.” ”
Para Mt (14,19) - Mandai Assentar os Homens, encontramos a palavra de Emmanuel, no livro
“Caminho, Verdade e Vida”, psicografia de Chico Xavier:
“Esta passagem do Evangelho de João é das mais significativas.
Verifica-se quando a multidão de quase cinco mil pessoas tem necessidade de
pão, no isolamento da natureza. Os discípulos estão preocupados. Filipe afirma
que duzentos dinheiros não bastarão para atender à dificuldade imprevista.
André conduz ao Mestre um jovem que trazia consigo cinco pães de cevada e dois
peixes.
Todos discutem.
Jesus, entretanto, recebe a migalha
sem descrer de sua preciosa significação e manda que todos se assentem, pede
que haja ordem, que se faça harmonia. E distribui o recurso com todos, maravilhosamente.
A grandeza da lição é profunda.
Os homens esfomeados de paz reclamam
a assistência do Cristo. Falam nEle, suplicam-lhe socorro, aguardam-lhe as
manifestações. Não conseguem, todavia, estabelecer a ordem em si mesmos, para a
recepção dos recursos celestes. Misturam Jesus com as suas imprecações, suas
ansiedades loucas e seus desejos criminosos. Naturalmente se desesperam, cada
vez mais desorientados, porquanto não querem ouvir à calma, não se assentam
para que se faça a ordem, persistindo em manter o próprio desequilíbrio.”
Para Mt (14,13-21), transcrevemos, a seguir, Kardec , no Cap. XV de “A
Gênese”:
“A multiplicação dos pães é um dos
milagres que mais têm intrigado os comentadores e alimentado, ao mesmo tempo,
as zombarias dos incrédulos. Sem se darem ao trabalho de lhe perscrutar o
sentido alegórico, para estes últimos ele não passa de um conto pueril. Entretanto,
a maioria das pessoas sérias há visto na narrativa desse fato, embora sob forma
diferente da ordinária, uma parábola, em que se compara o alimento espiritual
da alma ao alimento do corpo.
Pode-se, todavia, perceber nela mais
do que uma simples figura e admitir, de certo ponto de vista, a realidade de um
fato material, sem que, para isso, seja preciso se recorra ao prodígio. É
sabido que uma grande preocupação de espírito, bem como a atenção fortemente
presa a uma coisa fazem esquecer a fome. Ora, os que acompanhavam a Jesus eram
criaturas ávidas de ouvi-lo; nada há, pois, de espantar em que, fascinadas pela
sua palavra e também, talvez, pela poderosa ação magnética que ele exercia
sobre os que o cercavam, elas não tenham experimentado a necessidade material
de comer.
Prevendo esse resultado, Jesus
nenhuma dificuldade teve para tranquilizar os discípulos; dizendo-lhes, na
linguagem figurada que lhe era habitual e admitido que realmente houvessem
trazido alguns pães, que estes bastariam para matar a fome à multidão.
Simultaneamente, ministrava aos referidos discípulos um ensinamento, com o lhes
dizer: “Dai-vos vós mesmos de comer.”
Ensinava-lhes assim que também eles podiam alimentar por meio da palavra.
Desse
modo, a par do sentido moral alegórico, produziu-se um efeito fisiológico,
natural e muito conhecido. O prodígio, no caso, está no ascendente da palavra
de Jesus, poderosa bastante para cultivar a atenção de uma multidão imensa, ao ponto de fazê-la esquecer
de comer. Esse poder moral comprova a superioridade de Jesus, muito mais do que
o fato puramente material da
multiplicação dos pães, que tem de ser considerada como alegoria.
Esta explicação, aliás, o
próprio Jesus a confirmou, nas passagens seguintes:
O Fermento dos Fariseus -Mt(16,5-12), O
Alimento do Filho -Jo(6,22-29) e Pão da
Vida - Jo(6,30-50);
Na primeira passagem, lembrando o
fato precedentemente operado, Jesus dá claramente a entender que não tratar de
pães materiais, pois, a não ser assim, careceria de objeto a comparação por ele
estabelecida com o fermento dos fariseus: “ainda não compreendeis, diz ele, e não vos recordais de que
cinco pães bastaram para cinco mil pessoas e que dois pães foram bastantes para
quatro mil? Como não compreendestes que
não era de pão que eu vos falava, quando vos dizia que vos preservásseis do
fermento dos fariseus?” Esse confronto, nenhuma razão de ser teria, na hipótese
de uma multiplicação material. O fato fora de si mesmo muito extraordinário
para ter impressionado fortemente a imaginação dos discípulos, que, entretanto,
pareciam não mais lembrar-se dele.
É
também o que não menos claramente ressalta, do que Jesus expendeu sobre o pão do céu, empenhado
em fazer que seus ouvintes compreendessem o verdadeiro sentido do alimento
espiritual. “Trabalhai, diz ele, não para conseguir o alimento que perece, mas pelo
que se conserva para a vida eterna e que o Filho vos dará ”. Esse
alimento é a sua palavra, pão que desceu do céu e dá vida ao mundo. “Eu
sou, declara Ele, o pão da vida; aquele que vem a mim não terá fome e aquele que em mim
crê nunca terá sede.”
Tais distinções, porém, eram por
demais sutis para aquelas naturezas rudes, que somente compreendiam as coisas
tangíveis. Para eles, o maná, que
alimentara o corpo de seus antepassados, era o verdadeiro pão do céu; aí é que
estava o milagre. Se, portanto, houvesse ocorrido materialmente o fato da
multiplicação dos pães, como teria ele impressionado tão fracamente aqueles mesmos
homens, a cujo benefício essa multiplicação se operara poucos dias antes, ao ponto de perguntarem a Jesus:
“Que
milagre farás para que, vendo-o, te creiamos? Que farás de extraordinário?”
Eles entendiam por milagres os
prodígios que os fariseus pediam, isto é, sinais que aparecessem no céu por
ordem de Jesus, como pela varinha de um mágico.
Ora, o que Jesus fazia era extremamente simples e não se
afastava das leis da Natureza; as próprias curas não revelavam caráter muito
singular, nem muito extraordinário. Para eles, os milagres espirituais não
apresentavam grande vulto.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário