10) Mediunidade
e Saúde
por Indalício
Mendes
Reformador
(FEB) Julho 1959
O
bom exercício da mediunidade constitui, em muitos casos, uma defesa para o
médium. Enquanto ele se devota com plena noção de responsabilidade a esse
mister, abre diante de si maiores possibilidades de assistência espiritual, em
virtude do ambiente favorável que se forma ao seu derredor. Evidentemente, a
mediunidade não concede a médium algum prerrogativas de imunidade, porque ele
também, às vezes até mais do que aqueles que não são médiuns, está sujeito às
leis de causa e efeito, e, portanto, obrigado a amortizar seus débitos.
Acontece, entretanto, que a mediunidade enseja a possibilidade de mais ampla
amortização, segundo o comportamento do médium e a sua maneira de encarar as
responsabilidades da importante tarefa.
Emmanuel,
o esclarecido mentor do Espiritismo evangélico, tem chamado a atenção dos médiuns para o perigo do personalismo. E afirma
que "o primeiro inimigo do médium
reside dentro dele mesmo. Frequentemente é o personalismo, é a ambição, a
ignorância ou a rebeldia, no voluntário desconhecimento dos seus deveres à luz
do Evangelho, fatores de inferioridade moral que, não raro, o conduzem à invigilância,
à leviandade e à confusão dos campos improdutivos. Contra esse inimigo, é
preciso movimentar as energias íntimas pelo estudo, pelo cultivo da humildade,
pela boa-vontade, com o melhor esforço de autoeducação, à claridade do
Evangelho". ("O Consolador.") Recomendamos
com muito empenho, a todos os médiuns, a meditação sobre essas palavras, que
encerram profunda lição, Médium sem
Evangelho é como lâmpada que se alimenta de mau azeite: ilumina mal e depressa
se apaga. Longe de nós, entretanto, a pretensão de pretender ensinar o que
quer que seja de Espiritismo, pois o quase nada que possamos conhecer tem
diante de si um universo que ainda desconhecemos. Nesta série de escritos
dirigidos aos médiuns, apenas realizamos um trabalho de compilação ou externamos algo do que
nos foi possível assimilar de leituras e observações pessoais. Sempre
recorremos aos luminares da Terceira Revelação, entre os quais Allan Kardec,
Emmanuel, André Luiz, Léon Denis e outros. Achamos que, de quando em quando, é
útil ir respigando trechos que, relembrados em artigos, reavivam a memória de
antigas leituras efetuadas ou servem de guia àqueles que mais facilmente leem
as páginas de uma revista do que muitos livros.
*
Hoje,
desejamos tratar da saúde do médium em face dos trabalhos mediúnicos. A boa
saúde constitui uma das bases do serviço mediúnico eficiente, pois o exercício
da mediunidade sempre determina um certo dispêndio de força nervosa, em maior
ou em menor proporção, consoante a natureza da tarefa consumada. Evidentemente,
os médiuns de efeitos físicos despendem maior proporção de força nêurica do que
os médiuns de efeitos intelectuais, Mas nem por isso se deve pensar que somente
os médiuns de efeitos físicos podem fatigar-se. Precisamos recordar que todos
nós, além das obrigações inelutáveis que nos impõe a vida material, sempre
cansativa, temos os deveres que nos estão fixados no Espiritismo. Nessas
condições, o acúmulo de preocupações e de trabalhos nos dois setores pode
contribuir para que, em uma ocasião dada, o nosso organismo se apresente
necessitado de repouso. Geralmente, os médiuns precisam de estar com boa saúde
para oferecerem aos trabalhadores invisíveis melhores e maiores facilidades de
"comunicação". Vamos ler em Léon Denis ("No Invisível")
esta frase expressiva: “É preciso também velar pelo corpo: mens sana in corpore
sano." O velho axioma de Juvenal, citado por Denis, numa adaptação
ocasional, significa que a mente fica mais clara e ativa, se o corpo está em
boas condições de saúde. Nesse caso é a mente que domina o corpo. Em caso
contrário, o corpo pode perturbar a clareza das ideias, porque a mente não
encontra o apoio que busca nas energias físicas e perde muito da sua
desenvoltura. O mesmo se poderá dizer, mutatis
mutandis, do espírito. Embora o comando seja sempre dele, sua autoridade
pode ser influenciada se o corpo está enfraquecido ou enfermo. Procuramos dar
esse exemplo para fixar bem a importância que o corpo tem e os cuidados que
deve merecer. É a nossa máquina, a máquina de que se vale o Espírito para poder
cumprir na Terra os seus compromissos humanos e, concomitantemente,
espirituais. Em suma, o médium com saúde desempenha melhor o seu papel
mediúnico do que o médium enfraquecido ou enfermo. Se ele é apenas o
instrumento físico de que se vale
o Espírito desencarnado para poder atuar no mundo
material, esse instrumento, esse "aparelho", deve estar em boas condições para não
dificultar a ação do comunicante espiritual. E é ainda Léon Denis que o afirma: "A saúde do médium parece-nos ser uma das condições de sua faculdade. Conhecemos grande número de médiuns que gozam
perfeita saúde; temos notado mesmo um fato significativo, e é que, quando a
saúde se lhes altera, os fenômenos se enfraquecem e cessam até de se produzir."
(o grifo é nosso.)
*
Somente
em casos excepcionais se deve permitir o exercício da mediunidade por pessoas
enfermas, como, por exemplo, nos casos de real emergência. Os próprios
Espíritos, quando compreendem a imprescindibilidade da ação mediúnica rápida ou
enérgica, podem utilizar-se de um médium cujas condições de saúde sejam
precárias, pois adotam providências acauteladoras e excepcionais, que protegem
o médium, conforme nos descreveu André Luiz. Mas são hipóteses que não devem
preocupar o médium, visto como os Espíritos elevados jamais o sacrificam e
sempre decidem pelo melhor.
Há
enorme diferença entre a mediunidade "espontânea", isto é, entre a
mediunidade exercida por iniciativa do Espírito que deseja comunicar-se ou agir
através do médium, e a mediunidade provocada pelo médium, sem necessidade
essencial. No primeiro caso, os Espíritos apressam a recuperação fluídica e
restabelecem mais rapidamente o equilíbrio nervoso para compensar a perda de
energia que, porventura, o médium haja sofrido. Não se pode saber, no entanto,
se o médium contará com essa valiosa assistência em todas as ocasiões em que
ele, fatigado ou enfermo, contraria o bom-senso e toma a iniciativa do trabalho
mediúnico, sem se encontrar no estado ideal para exercê-la. Em "O Livro
dos
Médiuns", Kardec esclarece: "O exercício muito prolongado da faculdade
mediúnica pode causar fadiga?" Resposta: "O exercício muito prolongado de qualquer atividade acarreta fadiga; a
mediunidade está no mesmo caso, principalmente a que se aplica aos efeitos físicos, ela necessariamente ocasiona um dispêndio de fluido, que traz
a fadiga, mas que se repara pelo repouso." (o
grifo é nosso.) Este outro trecho completa o esclarecimento: "Pode o exercício da mediunidade ter, de si mesmo, inconveniente, do ponto
de vista higiênico, abstração feita do abuso?"
Resposta: "Há casos em que é
prudente, necessária mesmo, a abstenção, ou, pelo menos, o exercício moderado,
tudo dependendo do estado físico ou moral do médium. Aliás, em geral, o médium
sente e, desde que experimente fadiga, deve abster-se." (são nossos os
grifos.)
Deduz-se,
do estudo da Doutrina, que o médium deve ser metódico em sua atividademediúnica, embora às vezes tenha necessidade de
aumentá-la para atender a casos imprevistos. O repouso, depois do exercício
mediúnico, é aconselhável, assim como o repouso periódico, após vários meses de
trabalho. Isso só pode ser vantajoso, quer para o médium, quer para os
Espíritos que dele se valem e até mesmo para aqueles que costumam beneficiar-se
com os efeitos da mediunidade. Conhecemos médiuns que, apesar da idade,
insistem em trabalhar mediunicamente horas a fio, embora cansados, porque
consideram que o repouso representa uma desatenção aos Espíritos. Semelhante
atitude não tem defesa. Todo excesso, nesses casos, é prejudicial. Será melhor
trabalhar menos, mas bem, do que muito,
deficientemente. Em certas ocasiões, a fadiga ou
a enfermidade provocam o desaparecimento da mediunidade, que pode ser ou não demorada.
Convirá, pois, que o médium não cometa excessos, sempre nocivos ao seu
equilíbrio orgânico.
A
falta de suficiente estudo da Doutrina é a causa de muita incompreensão. Para
se achar bem amparado, o médium não pode prescindir destes dois reforços
importantes: "O Evangelho segundo o Espiritismo" e "O Livro dos
Médiuns". Estudar a Doutrina, orientar-se por ela, ao mesmo tempo que
iluminando a alma no estudo e na exemplificação do Evangelho, é o caminho que
seguem os médiuns bem orientados e o que devem palmilhar aqueles que desejam
ter a consciência tranquila por haverem cumprido corretamente suas tarefas.
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