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‘Rimas do
Além Túmulo’
Versos Mediúnicos de
Guerra Junqueiro
Grupo Espírita Roustaing
Belém do Pará 1929
Casa Editora Guajarina
A um
Padre
Para o irmão Faustino de Carvalho,
sacerdote católico em Belém.
Já surgiu para
todos benfazeja aurora;
compreendes, irmão,
que pela voz sonora
dos Espíritos todos
são esclarecidos,
para, mansos
obreiros, serem conduzidos
ao caminho do Bem,
da Honra e da Humildade,
seguindo uma
doutrina - toda Caridade.
Que desejas sacerdote,
não importa, irmão,
Se te raiou também
o esplêndido clarão
da alvorada da
Crença ideal, que conduz
almas aos
venturosos páramos de Luz!..
Temes, acaso, ouvir
um ente da Outra Vida?
Ignoras talvez que
a Alma desprendida
da Matéria se
eleva, calma e radiante,
para além, muito além,
num país bem distante,
para gozar, feliz,
no regaço dos seus
amigos verdadeiros
que servem a Deus?
Porque motivo a
Igreja ocultando a Verdade
aos cristãos, quer
ter inda autoridade
deturpando as
palavras que o Cristo deixara
aos obreiros que
vêm cultivar a Seara?
Será Justo que os
padres ocultem com um véu
as verdades
sublimes que emanam do Céu?
Estuda, irmão,
reflete, e verás claramente:
o Espiritismo veio
dissipar, de frente,
erros, mentiras que
escurecem a Verdade
como ao Azul sereno
um véu de tempestade.
Sei um pobre
viajor, perdido pela estrada,
necessita encontrar
a luz abençoada
de uma estrela que
o guie, mostrando o caminho
que o conduza ao
lar, a seu querido ninho,
que faz ele vagando
em plena escuridão?..
Implora, confiante,
a Deus a proteção.
Em vão a noite fica
mais e mais sombria;
o vento, qual
molosso (cão
fila) hidrófobo, assobia,
açoitando o
arvoredo; e o pobre viajor,
cansado de vagar,
tremendo de pavor,
arqueja vacilante,
olhando os negros céus
que parecem zombar
até do próprio Deus...
Vem o Dia, desponta
a rápida alvorada,
e os trigos do
caminhos, árvores da estrada
banham-se dessa luz
diamantina e santa.
E a Natureza em
festa ri, suspira e canta;
cada flor orvalhada
exala uma canção
às gotas, cristalinas
que caem pelo chão...
Então, o viajor
inclina a fronte calma,
sentindo em oração
desabrochar lhe na alma
um hino de alegria;
amor e de esperança:
cessara a
tempestade aos raios da bonança!
Assim,
querido irmão, o homem que procura,
na estrada tortuosa
da Vida, a chama pura
da doutrina que
encerra - Paz e Redenção.
Encontra-se, a
princípio, em triste indecisão;
incrédulo não vê o
foco que irradia
por todos os recantos prismas de
harmonia;
até que em fim, depois de bem analisar
fatos e provas, já
não pode duvidar,
e crê no
Espiritismo e vê a união
da doutrina à Ciência,
a Verdade à Razão!
As crenças absurdas
passam, como passa
num dia de sol
claro um rolo de fumaça,
que tentando
esconder a luz do firmamento,
se eleva e se
desfaz num rápido momento!..
Aceita, irmão, aceita
a dádiva sincera,
nas rimas que aqui
deixo. Oh, sim, eu bem quisera
mostrar-te claramente
o elo fraternal
que me vincula aos
homens num laço eternal!
Não temas declarar
que um pobre sofredor
te veio aqui falar
com Fé e com Amor.
E palmilhando,
então, a estrada da Verdade,
procura trabalhar
em prol da Humanidade;
e quando entrares
na vida espiritual
da Terra levarás
venturas sem igual!
Na residência da família do sacerdote
em 30 de dezembro de 1927.
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