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segunda-feira, 1 de julho de 2013

13. 'Rimas do Além Túmulo - o peregrino





13
‘Rimas do Além Túmulo’
Versos Mediúnicos de
 Guerra Junqueiro

Grupo Espírita Roustaing
Belém do Pará 1929

Casa Editora Guajarina

O Peregrino

             
            O Peregrino exul (exilado) parou naquela estrada,        
depois de muito andar. A face amargurada,
banhado de suor, ajoelhou-se e orou 
uma oração de dor, que para Deus voou,
            apoiada nos galhos de arvore frondosa.
qual meigo passarinho de asas cintilantes
que adejasse no ar e que em breves instantes 
fosse ao ninho pousar, alegre num gorjeio... 
Assim, a oração do Justo foi ao seio
de Deus e aí tornou-se um lírio sacrossanto,
perfumado e singelo, orvalhado de pranto!
Quem era esse mendigo, humilde e esfarrapado,
que assim, naquela estrada, achava-se prostrado,
sem que ninguém viesse ouvir-lhe o soluçar?
 Num sorriso de paz e num bem triste olhar
humilde, ele dizia, em voz terna e velada:
Meu Pai, estende a mão por sobre a desvairada 
Humanidade impura e somente imbuída
 nas seduções do Mal que povoam a vida. 
passageira e vã, que se extingue e que se escoa,
qual vela pequenina tremulando à toa
ao relento da noite em fria tempestade,
que não resiste à rija impetuosidade
do vento, a zunir numa invencível ira,
aos montes e rochedos com furor se atira
            qual um gigante audaz, colérico, iracundo,
que tentasse quebrar a carcaça do mundo!
Ai, ergueu a fronte o pobre Peregrino
e, naquele momento, um sorriso divino,
mesclado de piedade e comiseração,
 espalhou no semblante do Justo a expressão
de imensa dor atroz e mágoa tão sentida,
que uma ave inocente parou, comovida,
de cantar, e quedou-se a fitá-lo, amorosa,
apoiada nos galhos de árvore frondosa.
Naquele mesmo instante, por Ele passavam
criaturas que nem sequer o enxergavam,
aquelas pelas quais tanto orava e pedia,
ajoelhado assim na terra húmida e fria!
E o Justo inda falou, banhado em triste pranto:
Ó vós que tanto amei, ó vós por quem eu tanto
sofri, que fazeis dos santos Mandamentos?
Circundados de trevas e mil sofrimentos,
procurais abafar a voz da Consciência,
preferis as loucuras do Vício à Inocência,
que ri no berço e em cada pétala de flor,
com extraordinário e empírico dulçor...
Tenho pena de vós, almas que tanto adoro!
Oh, quantas vezes eu inda clamo, inda choro,
ao contemplar de Lá, os vossos corações,
cheios de iniquidades e de tentações!
Ai de vos, criaturas que vos abismais
nos erros, nas maldades, cada vez mais;
sofrereis consequências dessas impurezas;
se transformais o mundo num caos de torpezas
não é porque vos falte a Palavra que encerra
Sabedoria, Amor: nos recantos da Terra,
a Palavra do Pai se expande na grandeza
desta Bíblia sem par, imensa - a Natureza!
E o pobre esfarrapado ergueu-se, e, brandamente
cercado pela luz escassa do poente,
alevantou a mão, num gesto indescritível      
- do mártir que abençoa um monstro inflexível
E o seu vulto, que tinha um todo misterioso,
de Bom, de Justo, de mágico e poderoso,
sumiu-se, abandonando aquela árida estrada,
 terra sem vida e quieta e imobilizada!
Mas, seu rastro ficou qual poeira de luz...
O pobre Peregrino, ouviu-me, era JESUS!
            18 de Agosto de 1927. 

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