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A Sra. J. é uma moça de 27 anos,
casada com um militar e mãe de uma menina de 4 anos. Filha de um professor de matemática,
que procurou induzi-la ao estudo dessa especialidade, revelou entretanto uma
vocação negativa em tal sentido, tendo antes inclinação para as artes e letras,
de par com aversão pelo estudo da história, circunstância que convém assinalar,
por excluir a presunção de serem o fruto
de reminiscências de leitura os dados
históricos que, no curso de seus desdobramentos, forneceu a propósito das diferentes
personalidades revestidas.
Eis agora as considerações
preliminares do Sr. Bouvier (1):
(1) Obra cit., págs. 171 a 174.
"Inteirado pelo coronel de Rochas - diz ele - de
suas experiências a cerca da regressão da memória, desejei por meu lado
verificar se com diferentes sensitivos me seria possível observar o fenômeno, o
que em pouco tempo tive a cabal satisfação de reconhecer, ora com uns, ora com
outros. Mas foi, sobretudo, experimentando com um jovem sensitivo (a Sra. J.),
que de muito bom grado se prestou a esse gênero de estudo, que pude nele comprovar
que, apesar da interversão do questionado, a cada uma de minhas perguntas ele
permanecia sempre a personalidade em evidência no momento, sem jamais se dar um
erro em suas respostas. Interroguei-o várias vezes, em diferentes dias e mesmo
a algumas semanas de intervalo, sobre as particularidades de uma vida, e jamais
houve contradição em suas respostas. Melhor ainda, em certos casos salientava pormenores
que me escapavam e revivia assim o momento exato da existência que eu lhe fazia
retrospectivamente percorrer, isto é, retraindo o curso dos séculos passados.
"Quando o fazia recuar ao estado de infância, aos
2 anos, por exemplo, a palavra se tornava mais difícil; a 1 ano, ela falava pouco
ou nada ; depois, em mais tenra idade, fazia gesto de mamar, ou choramingava. Atraía-o então para diante, e em lugar de reviver, fazia-o rever o seu passado; aí
me indicava pormenores com maior facilidade.
"Chegado à ocasião do nascimento, fazia-o novamente
entrar no seio de sua mãe, e Iogo se dobrava sobre si mesmo, com os braços em
flexão sobre o busto, os punhos sobre os olhos até a idade de 5 meses ; depois
um ligeiro destaque se produzia até o quarto mês; aos três meses até o momento da concepção o corpo se
inclinava para trás, distendidos os membros em completa inércia.
"Antes da concepção, quando o espírito ainda está no
espaço, faz esforços por se esquivar à força irresistível que parece atraí-lo; depois,
recuando sempre através do tempo, indica o que faz, qual o seu modo de existência,
até que toma novamente o corpo que precedentemente deixara, para reentrar em
uma outra vida; mas - coisa curiosa - toda vez que o faço penetrar no seio de
sua mãe, passa pela mesma fase, caracterizada por idêntica atitude.
"Devo dizer que, para facilitar o fenômeno,
magnetizo constantemente o sensitivo durante todo o tempo da experiência detendo-me
unicamente para recolhimento e recomeçando a cada pergunta.
"Quando o quero conduzir ao ponto de partida, faço-o
percorrer a mesma trajetória em sentido inverso, ou limito-me a lhe dizer que
volte ao seu estado normal, Isto é, na vida presente, ao momento em que estamos;
mas em tal caso parece-lhe sonhar e emerge de um pesadelo, de sorte que
necessito em seguida lhe descarregar a cabeça, para fazer cessar a perturbação introduzida
em seu cérebro por esse regresso demasiado brusco.
"Toda vez que o sensitivo passa por uma existência
diferente, a fisionomia adquire a expressão relativa a tal personalidade. Como
homem, a linguagem, a inflexão da voz, as maneiras diferem sensivelmente do tom
e dos gestos de quando mulher ; o mesmo se dá quando passa pelo período de infância."
Passemos agora a fazer uma
recapitulação, quanto possível sintética, das dez encarnações da Sra. J.,
anteriores à atual, indicando-as na mesma ordem invertida, isto é,
do presente para o passado, em que vêm expostas no livro do coronel de Rochas.
2ª
existência. (considerada primeira a atual). MARGARIDA DUCHESNE - No estado
errante, subsequente a essa encarnação, o espirito do sensitivo se sente lúcido,
vendo seus pais e amigos, mas não vendo o noivo, que falecera antes dela.
Era uma moça, nascida em 1835 e desencarnada
em 1860 (aos 25 anos, portanto), noiva
de um Luiz Martin, jovem soldado que amava e cuja desencarnação a abalou tão
profundamente que a levou à tuberculose e, por último, ao túmulo. Percorre uma
a uma as fases dessa existência, em sentido inverso, traduzindo as suas impressões
correspondentes e prestando informações relativas à sua família, lugar de residência,
ocupações, hábitos, etc., até à primeira infância.
Conduzido ao seio materno, antes do
nascimento, guarda o sensitivo a atitude já descrita, no estado de feto.
3ª
existência. JULIO ROBERTO. - Na erraticidade, sofre, sente-se mal, posto
que mais lesto, livre que se reconhece do corpo físico.
Conduzido à existência que deixara,
declara ser um homem, nascido em 1738 e desencarnado em 1780 (aos 42 anos),
tendo vivido pobre, como operário marmorista, em
Milão, e trabalhando com um mestre Paoli, depois de ler sido, em sua juventude,
aprendiz de sapateiro, sem grande habilidade.
Recuando pelo passado a dentro, descreve
com propriedade as fases dessa existência até à infância e mesmo além, como no
caso precedente, até o nascimento, a concepção e, por fim, o período anterior.
4ª existência. JENNY LUDOVIC. -
Como espírito, está perturbada e ignora o seu estado. Desencarnou aos 30 anos,
em 1702, lendo nascido em 1672. Casada com Ludovic Augusto, declara ter dois
filhos, Augusto, de 7 anos, e João , que acabava, de nascer. O marido era
lenhador e moravam ambos em Plouermel. À medida que retrocede para a infância,
vai dando indicações e descrevendo os pormenores de sua vida: órfã, vivia com um tio, que trabalhava com um boticário
e a quem ajudava, ora aos 15 anos fazendo as suas blusas, ora aos 12 apanhando flores
para a composição de tisanas.
Entre outras particularidades características
convém assinalar a seguinte: interrogada nessa idade (12 anos), quando se estava
portanto em 1684, onde residia com seu tio, respondeu que em Plouermel. - Em
que departamento? Observou ela: "Isso que é? O senhor quer dizer província
... É na Bretanha, onde Há a melhor gente
do mundo."
Ora, é sabido que só cm 1790 o território
das antigas províncias da França foi dividido em departamentos tal como ainda
hoje permanece.
Outra circunstâncias é a indicação de nomes vulgares de plantas,
hoje desconhecidos, e das quais ela fazia colheita para o tio, como "olho
de gato", a "planta celeste", a "estrela do firmamento
", de que - no dizer do sensitivo - se extraía o suco "muito bom para
dores", verdadeiros
anacronismos que dão, por isso mesmo, inteira propriedade ao seu depoimento.
Silenciamos outros pormenores
relativos às fases anteriores dessa existência, posto que merecessem bem ser
mencionados, para não alongar demais este resumo.
5ª
existencia. MIGUEL BERRY. - Perturbado como espírito, acredita-se ainda
integrado no corpo físico e acusa grande sofrimento dessa natureza, resultante
de uma lançada que lhe interessara o lado direito. Interrogado sobre o legar
'Onde fora ferido e em que ano se está, responde: "Em Marignan; estamos em
1515. Pobre Berry, estás perdido (1)!''
(1) O sensitivo empregou o termo o foutu, que é o particípio passado do verbo foutre, popular e antiquado. Toda a sua linguagem ele resto é
recheada de anacronismos, peculiares à época a que evidentemente se via
transportado.
Curioso é o prosseguimento do
interrogatório, que dá a impressão exata
de se estar em presença de um cavaleiro, empenhado em rijo combate: - Com quem estáveis?
- "Com François.” - Que François? -
"O Pai, nosso Senhor e Mestre, bofe! o rei de França (2)." - Que
idade tendes? - "Vinte e dois anos." - Como vos chamais? - "Michel
Berry."
(2) Trata-se de Francisco I que, mal subindo
ao trono da França em 1515, tratou de tomar a Maximiliano Sforza o ducado de Milão,
onde com efeito entrou triunfalmente, depois de ter ganho a sanguinolenta batalha
de Marignac, em que bateu os suíços, que serviam ao Duque de Milão.
Convidado a assinar, o sensitivo
toma o lápis pelo lado contrário e, depois de alguma dificuldade, termina por
escrever com a grafia antiga: "Mistchel
Berry, corte do rei de França. "
Prosseguindo o interrogatório, a
personalidade de Michel Berry se desenha com um relevo absolutamente original:
nascera em 1493; aos 10 anos era pajem na corte e já
aprendia a manejar a espada; aos 18 se fez mosqueteiro e aos 19 foi admitido no
exército do rei, tudo isso descrito com uma série de pormenores e gestos
peculiares. Aos 22, como se viu, empenhado na batalha de Marignan, recebeu um
golpe de lança vibrado por um suíço, de que veio a sucumbir, ficando sob o
cavalo que montava.
A regressão ao período de infância
apresenta os mesmos fenômenos registrados em relação às outras personalidades,
até novamente o estado de espírito.
6ª
existência. MARlETA MARTIN, nascida
em 1282, desencarnada aos 20 anos, em 1302. Transferida do estado de espírito,
em que dava mostras de sofrimento, para o de encarnação, apresenta-se como
professora, em Vannes, na casa da mãe de seu noivo, Gastão, morto desastrosamente.
Aos 18 anos, vê-se em casa da
condessa de Guise, fazendo-lhe companhia e incumbida da educação de seus
sobrinhos; aos 16, de nada se lembra, parecendo que dos 14 anos até essa
idade estivera num período letárgico, pois que a davam como morta, e o
sensitivo quase não responde às perguntas que lhe são dirigidas. Aos 10 anos
estava no colégio; aos 4 vê a mãe aflita e pesarosa, porque o pai está bem
doente. À pergunta: "que faz seu pai?" responde: "Papai faz
desenhos que se põem nos quartos. É para o rei que ele trabalha." -Quem é
o rei? -- "Não sei, dizem que é o belo Filipe (1)."
(1) Indicação exata. Quando tinha 4 anos a
personalidade Marieta, estava-se em 1286,
sob o reinado de Filipe, o belo, cuja duração vai de 1285 a 1314.
Desse período de infância para trás
são feitas as mesmas observações que precedentemente, até nova permanência na erraticidade.
7ª
existência. SOROR MARTHA. - Incerta do seu estado como espírito e,
portanto, de haver deixado o corpo material, mostra-se, todavia, acabrunhada de
remorsos, porque tiranizava
as pobres freiras que tinha sob sua guarda, como abadessa de um convento, de
Vincennes. Do longo interrogatório resultam as mais curiosas e típicas informações,
que permitem reconstituir do seguinte modo essa existência:
Viveu do ano 923 a 1010. Aos 10 anos
aprendia a ler e a escrever com Sophia, "que era muito má." Aos 15
anos, vivia com seu tio, o visconde de Mareuil, tendo falecido seus pais.
Chamava-se Luiza de Mareuil, - 18 anos: está no convento de São Diniz e se
prepara para seguir a vida religiosa. - 20 anos: sente-se bem feliz, porque vai
"poder orar ao bom Deus." - 24 anos: 'Professou há 4 anos, como era seu desejo, e o padre que
dirige o estabelecimento é o abade Lotty, velho de 70 anos, que vai ser
substituído por Choiselles, príncipe, candidato à realeza, "tão lindo e
tão desventurado!" - 25 anos: já não sabe se ama sempre o bom Deus; ama
alguém que ainda não é padre ... - 29 anos: sofre, por amar alguém, o que lhe é
proibido, porque só deve amar unicamente a Deus. - 30 anos: está arrependida de
ter entrado para a Ordem, porque ama o
abade Choiselles, que lhe corresponde: resistiu durante anos, mas acabou por
trair com ele os seus votos. - 35 anos: está na Ordem e adotou o nome de soror
Martha. - 40 anos: faz tudo o que pode para obter o lugar de irmã superiora. -
45 anos: desempenha há 5 anos esse lugar, em que se conserva durante 20 anos,
quando obtém o de abadessa, conforme lhe prometera o abade Choiselles. - 60
anos: dirige e prepara as moças para professarem. Interrogada que interesse tem
nisso, responde: "é para que os seus irmãos fiquem com os seus bens."
- 70 anos: exerce as suas funções e faz sofrerem as pobres moças. retendo-as
como prisioneiras e privando-as de ver a luz do sol, "porque. tem ordens
para isso", especialmente em relação a Branca de Paris, enclausurada por influência
do rei (Hugo Capeto) e afim de que seu irmão Roberto lhe tomasse todos os bens.
- 75 anos: ligeira variante das primeiras indicações ; interrogada quem era o
rei, responde: "Roberto II" (1).
(1) Em 998, quando a sóror Martha tinha 75 anos era
esse, com efeito, o rei de França.
Dessa idade aos 87 anos, quando se deu
a desencarnação, nenhuma particularidade há que assinalar.
8ª
existência, CARLOMEU, guerreiro franco, que viveu de 418 a 449. - Conduzido
ao estado de espírito, isto é, ao intervalo, por ordem sempre retrospectiva,
que medeia entre a encarnação de soror Martha e essa em que nos detemos, o
sensitivo passa as mãos pelos olhos, como sob uma impressão de dor.
Vale a pena reproduzir o resumo
dialogado dessa experiência, em que a nova personalidade manifestada revela
característicos próprios e inconfundíveis.
Pergunta: - Há muito tempo que
sofreis dos olhos? - R. "Sim." - Estais bem certo de que há muito
tempo? - "Estou sofrendo." - Que vos sucedeu? - "Queimaram-me os
olhos." - Porque? - "Fui aprisionado por Átila em Châlons-sur-Marne."
- Que sois? - "Guerreiro franco."
-- Porque vos queimou ele os olhos? - "Por gosto." - Que idade tendes?
- "31 anos." - Vosso nome? - "Carlomeu." - Sois simples guerreiro?
- "Não, sou chefe, e e por isso que me queimaram os olhos." - Há
outros chefes acima de vós? - "Há o chefe tribuno Masocu." - E acima?
- "É o chefe dos chefes, Meroveu (1)." - Em que ano estais? - "449."
- Conheceis Deus? - "Há alguém acima:
é Theos." - De que forma o adorais? - "Dão-se-lhe homens, que se
queimam. É belíssimo." - (aos 30 anos)
Que fazeis ? - "Sou franco guerreiro; foi Meroveu quem me escolheu."
- (aos 25 anos) Que fazeis? -
"Lavro a terra." Sozinho? - "Com minha mãe." - Como se
chama ela? - "Li Carlomeu." - Que nome tem vosso país? - "O país
Albinos." – Onde fica? - "No Tourn."
(1) Meroveu, ou Merowig, foi
realmente um rei Franco, que exerceu o poder de 448 a 458 e deu o nome à
primeira dinastia dos reis de França tendo eficazmente contribuído para a vitória
que o general romano Aetius obteve sobre Átila, em 451, nos campos catalônicos (planícies da Champagne). Dada a repugnância do
sensitivo pelos estudos históricos, como lhe poderiam ocorrer tais
particularidades, a não ser que estivessem gravadas nas camadas profundas da memória
subconsciente?
Aos 10 anos, o sensitivo tosse
muito; aos 8 e aos 5 mostra-se fatigado; aos 4 já de nada se lembra, até que, prosseguindo
a magnetização, volta ao seio materno, apresentando os fenômenos já indicados,
parei em seguida, recuando sempre para o passado, entrar em um novo período de
erraticidade e surgir uma outra personalidade.
9ª existência. ESIUS, guarda do
imperador Probus. Viveu do ano 240 ao 280.
Interessante, sobretudo pela remota
indicação de nomes próprios de indivíduos e lugares, pode ser assim resumida essa
existência:
Entregue, na sua mocidade, com seu
pai ao cultivo da terra, vivia Esius em Torino, onde se casou, aos 21 anos,
sendo a cerimônia celebrada pelo pretor, com a máxima simplicidade. Aos 30 anos
fica viúvo, conservando do seu matrimônio uma filha, Florina, que aos 14 anos
(279) lhe é roubada por ordem do imperador e conduzida a Romulus, para onde se
dirige também ele, a pé, conseguindo do chefe dos guardas, Pecius, ser admitido
ao serviço do palácio,
com o intuito secreto de velar pela filha e assassinar o imperador,
utilizando-se da arma que usa, isto é, uma estaca (pieu) munida de uma ponta de ferro envenenada.
Surpreendido a tempo, é amarrado e
queimado numa fogueira, suplício a que o imperador Probus, (1) para se vingar
dele, condena igualmente Florina, tendo Esius
a
consolação apenas de saber que ela morrera pura.
(I) Do imperador romano Probus (276 a 282) fala realmente
a história, como sucessor de Tácito.
Ao referir-se ao suplício da filha, o
sensitivo derrama abundantes lágrimas do mesmo modo que no estado de espírito
acusa a impressão de se estar sentindo queimar, ao mesmo tempo que, tendo os
pulsos cruzados, parecendo presos por uma ligadura, faz esforços por se
libertar.
Os sucessos dessa existência, que invertemos
para comodidade da narrativa, são descritos como sempre de diante para trás, isto
é, do limite extremo (40 anos) até a infância e, consecutivamente, ao seio
materno, em que o sensitivo apresenta as mesmas fases precedentemente
assinaladas, passando novamente à erraticidade.
10ª
existência. Iriséa, uma virgem, ao que parece, ao serviço de um sacerdote
chamado Ali, para quem colhe flores, que são pela manhã colocadas no altar, em Imondo
(?), "perto de Trieste", e queimadas à noite.
Difícil de precisar é a data em que
viveu essa personagem, porque, interrogada que idade tem, responde "26 anos;"
mas ao ser-lhe perguntado em que ano se está, responde numa linguagem de
extrema singeleza, de resto mantida do começo ao fim dessa existência:
"Ali diz que não se deve indagar; os deuses sabem."
Aos 24 anos, entretanto, à mesma
pergunta "em que ano estais?" responde: "no centésimo."
Além daquele mister de colher flores,
para oferenda no altar, Iriséa parece desempenhar o de médium ou sensitivo de
Ali, que a adormece, fazendo-a respirar uma flor branca,
o iram, desprendendo-se ela e indo em
busca dos deuses, que não vê, mas ouve, e de quem recebe instruções que
transmite a Ali. Este a tomara, desde menina, ao seu serviço.
Interrogada aos 19 anos, mostra-se
aflita, porque Jeus, "o chefe de todos, fora aprisionado, numa batalha,
por um outro chefe, Joanimo, encerrado no Imondo e condenado a morrer de fome. Ela,
porém, lhe leva o alimento e o liberta, cortando os laços que o prendiam.
Até os 12 anos, particularidades
insignificantes, Aos 6 é salva por Jeus, tendo estado, aos 5, condenada a
morrer, para ser oferecida aos deuses. Aos 4 queixa-se de que lhe batem todo o
tempo e de que "fizeram morrer mamãe."
Recuando mais para o passado, volta
ao seio materno, à erraticidade e, por fim, à última encarnação (por ordem
sempre invertida).
11ª existência, de mínima importância,
assim descrita pelo Sr. Bouvier:
"Essa criança, morta aos 8
anos, não teve mais que uma vida insignificante, no ponto de vista puramente
experimental, posto que assinalando um período na série dos sonhos provocados
até esse momento, que já se perde na vastidão de eras longínquas."
Sonhos lúcidos - diremos nós - cada
um dos quais, representando uma conta desse extenso rosário de existências que
todos vamos desfiando, a caminho da eternidade, confirma a opinião de Tolstoi,
que no começo deste capítulo ficou reproduzida, no sentido de que "nossa
vida terrestre é um dos sonhos de uma outra vida mais real," em que, um
dia, encerrado o ciclo de tais penosas alternativas, se consumará nosso
destino.
Prossigamos, entretanto, a
enumeração de mais alguns casos documentais extraídos do opulento volume do
coronel de Rochas e escolhidos entre os mais dignos de nota.
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