O Culto
à Alegria
"A mente é a nossa casa"
-- eis um aforisma conclusivo da filosofia espírita, merecedor de
estudo sério e ponderado por parte do crente. Ninguém morará fora de sua
residência, isto para
o plano material como para o plano psíquico.
A mente é a atmosfera do sentimento
e cada qual vive como pensa - assim confirma a lição da experiência diária, no
capítulo das lutas terrenas. Portanto, todo cristão deve porfiar pelo estabelecimento
de seu equilíbrio interno, harmonizando a própria conduta no campo subjetivo e
objetivo do pensamento e do ato, com a Lei Divina exemplificada pelo apostolado
terreno de N. S. Jesus Cristo. Dessa harmonia, dessa identidade de princípios,
gera um estado mental de paz. Da paz, nasce a alegria do coração. E a alegria é
uma das grandes forças construtivas do espírito.
Não que ela haja de expandir-se em
gargalhadas sonoras ou em sorrisos derramados -quase
sempre falsos e de natureza aparente - mas que traduza aquela satisfação
interior pela
festa de existir, pela fé indomável no poder de Deus e pela certeza absoluta de
que as contingências
da vida na Terra são transitórias, pois que nossa vida definitiva será
realizada em espírito, nos planos felizes onde iremos pelo mérito do esforço,
na conquista da evolução.
O culto à alegria deve portanto
processar-se desde já, mesmo durante a aprendizagem terrena, sendo erro
lamentável o hábito da murmuração e da tristeza mórbida, verdadeiros tóxicos para
a saúde espiritual. A alma do cristão deve pois render culto perene à alegria.
Alegria com graça da existência, com o lar onde nasceu, com a sua profissão,
com o seu trabalho, com o meio em que vive e mesmo com as provas que Deus lhe
envia, à luz da misericórdia, para sua correção interior.
"Deus nos ama, Deus é o
dispenseiro de todas as nossas necessidades". E para que a alegria
perdure, é indispensável o esquecimento do passado, no que ele conserve de mau.
A lembrança de um sofrimento anterior perturba a paz do presente. Todos nós
temos o dever de realizar o milagre do instante da vida fecundado pela
felicidade presente. Reconhecendo a necessidade do esquecimento, a própria
Justiça Divina lança um véu sobre o pretérito, quando a alma inicia um novo
ciclo de aprendizagem.
Que o homem não- se aflija também
pelo futuro, pois "a cada dia o seu labor", ensinou-nos
a filosofia do Mestre. Seja pois a vida o eterno presente para todos nós.
As almas que se socorrem da
assistência divina, submetendo-se docilmente à sua Vontade Justa e Equânime,
aquelas que amam a correção de conduta e se fortalecem na prática do Bem, da
Oração e da Vigilância, criam em si mesmas essa fonte de água viva que brota da
essência da vida, tornando-a deliciosa e digna de ser provada.
Luiz de Almeida
in ‘Reformador’ (FEB) Outubro 1945
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