‘Um missionário da Luz’
A grandeza moral
de Allan Kardec, analisada que seja por qualquer dos aspectos de sua marcante
personalidade, revela-nos as características dum Missionário. Foi essa
inteireza moral, sob o influxo das forças espirituais do Invisível, uma das
ponderáveis razões da vitória da Terceira Revelação, malgrado os obstáculos
opostos à sua propagação pelo intransigente e feroz sectarismo religioso de seu
tempo, fortalecido por multifários e arraigados preconceitos.
Desbravador
destemeroso, Allan Kardec enfrentou o poder das trevas em sua sólida organização
terrena e quando, em Barcelona, as chamas das mesmas fogueiras que haviam calcinado
corpos inocentes, devoraram os livros doutrinários do Espiritismo, sentiu o
Codificador que estava assegurado o triunfo integral dos postulados
espiríticos.
A
biografia de Kardec é, por si mesma, um exemplo de trabalho e de fé. Tendo
recebido a missão de codificar os ensinamentos dos Espíritos,
oferecendo-os à Humanidade, para que esta se liberte das algemas do facciosismo
religioso, sem, contudo, atolar-se nos pauis do materialismo; Allan Kardec foi,
do ponto de vista espiritual, a maior figura do século XIX. Forrado de ciência,
cheio de credenciais terrenas que lhe conferiam incontestável autoridade moral
e científica entre seus contemporâneos, teve sua atenção despertada para os
fenômenos espiríticos, que, de começo, não aceitava. Não tardou, porém, a compreender a importância extraordinária dos estudos a que se entregara,
capacitando-se de que notável tarefa lhe estava assinalada, a qual era mister
cumprir integralmente, quaisquer que fossem os sacrifícios a enfrentar.
Apropriando-nos
da feliz expressão de André Luiz, diremos que ele foi um legítimo "Missionário
da Luz". As obras que trazem sua chancela - "O Livro dos
Espíritos", "O Evangelho segundo o Espiritismo", "A
Gênese" e "O Céu e o Inferno", que constituem o "pentateuco
do Espiritismo" - revelaram ao mundo uma nova era, referta de
possibilidades risonhas para todos os homens de boa vontade que desejarem alcançar
o Reino dos Céus. Pelo seu estudo cuidadoso, o homem pode libertar-se das
cadeias do materialismo corrosivo e do mórbido misticismo dos credos que
proscrevem o uso da razão e pregam a fé cega a dogmas incongruentes.
Allan
Kardec desenvolveu intensíssima atividade doutrinária. Cumpriu, e bem cumprida,
sua missão terrena , Mas, conhecendo a tendencia que os homens têm de promover
o endeusamento dos próprios homens, o Codificador, sempre esclarecido,
sublinhou que o Espiritismo não é obra humana, mas de Deus, porque dos Espíritos,
de entidades de inteligência superior que povoam o Invisível, exercendo
benfazeja influência sobre os encarnados. Alertou o sentido dos espiritistas
para as traições do dogma, que conduzem às obnubilações do fanatismo.
Tantos
anos depois da vinda do Codificador, suas palavras não perderam o viço nem suas
lições doutrinárias desmereceram. Continuam como atalaias indormidas, fanal de
esperança da humanidade que sofre, da humanidade que tem fé, da humanidade que com
ele aprendeu a interpretar a vida em seu verdadeiro sentido! O lema por ele
adotado- Trabalho, solidariedade, tolerância - é uma bandeira de ação, todo um
programa de realizações magníficas, uma plataforma ungida de sentimento
evangélico.
Pelo
trabalho devotado, o espiritista pode encaminhar-se para ciclos evolutivos
progressivamente mais elevados, desde que tenha como norma de sua conduta o
preceito do Cristo: amai-vos uns aos outros, dentro do qual cabem os postulados
de solidariedade - que é serviço edificante, e de tolerância - que é amor. Ambos
esses atributos do espírito - solidariedade e tolerância - são imprescindíveis
ao caráter do espiritista cristão. Eles promoverão um dia a união dos homens,
através do conhecimento e prática da Doutrina, fortalecida pelo estudo e exemplificação
constante do Evangelho do Cristo.
Por
essa trilha poderão os homens de hoje e os homens do futuro acompanhar a trajetória de luz de Allan Kardec, o grande Missionário, semeando
também o amor e a paz, pelo trabalho construtivo e a fé realizadora!
Indalício Mendes
in
‘Reformador’ (FEB)
– Outubro 1945
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