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Não nos deteremos em analisar a
significação desse caso do sensitivo Josephina, particularmente interessante
pela espontaneidade do testemunho que oferece em relação a anteriores existências,
do mesmo modo que à antevisão do futuro, não porque careça de elementos para as
mais graves considerações, sobretudo messe último ponto de vista, senão porque
o nosso objetivo agora é reunir o maior número possível de documentos da reencarnação,
colhidos nesse domínio da psicologia transcendental. Deixaremos, por isso, ao
cuidado dos estudiosos deduzir as consequências que comportam as revelações do
sensitivo e
passaremos
a registrar, dentre os dezenove casos observados pelo Sr. de Rochas e que
ocupam mais de 200 páginas do seu indicado magnífico volume, aqueles que pelo seu
cunho de nitidez possam melhor contribuir para a ilustração da nossa tese.
Omitiremos assim os casos que se
seguem imediatamente (nª 3 e 4), relativos a Eugenia e á Sra. Lambert, de
medíocre interesse, para nos determos no que se refere a Luíza, a cujo respeito
começa o Sr. de Rochas por ministrar estas informações:
"Luiza é uma moça que conta
agora (1911) 36 anos. Filha de uma de minhas antigas empregadas, teve uma
mocidade enfermiça, mas goza atualmente perfeita saude. Dotada de inteligência
muito viva, começou trabalhando em manufatura de seda, em que veio a ser uma
hábil operária. Teve ocasião de se iniciar
nos estudos psíquicos,
assistindo às minhas experiências com sua amiga Josephina, em 1904 e 1905. Presentemente se dedica à cura de doentes pelo
método do Sr. Bouvier, de Lyon, com quem entrou em relação. Trata-os as mais
das vezes à distancia e, ao que parece, tem feito curas extraordinárias em
maníacos e degenerados, perseverando no tratamento durante meses consecutivos,
com um grande espírito de caridade (1).
(1) Esta circunstância é digna de
nota, parecendo relacionar-se com os propósitos firmados pelo espírito depois
de sua última encarnação, como adiante se verá.
"É com dificuldade que adormece
com os passes magnéticos, mas tem, no estado de vigília, a faculdade de ver o
corpo astral dos sensitivos, quando exteriorizado, e de ela mesma se exteriorizar
por sua própria vontade. - Durante minhas experiências com Josephina, percebia
o corpo astral desta ao se desprender, sob uma forma vaporosa que se condensava
pouco a pouco, até adquirir a forma humana, forma que mudava conforme a idade e
a personalidade a que era momentaneamente conduzido o sensitivo."
E depois de algumas
particularidades, de secundária importância para o tema que nos preocupa, e de
explicar como, em maio de 1908, tentou, pela primeira vez obter com esse novo
sensitivo o fenômeno de regressão da memória, antes por sugestão verbal
relativamente às datas (1) e pela pressão digital no ponto da memória sonambúlica,
do que pela continuidade dos passes longitudinais, assim logrando transporta-la
ao período anterior à sua atual encarnação, o Sr. de Rochas prossegue:
(1) Dizendo por
exemplo: "tem agora 30 anos, 25 anos, 20 anos, 15 anos, etc." Em cada
uma dessas idades o sensitivo acusava os fenômenos da enfermidade de que padecia.
"Luiza melhormente se recorda do que representa as cenas. Fora
um padre, falecido em adiantada velhice, um excelente padre, simplesmente
adstrito aos seus deveres sacerdotais. Morre e permanece na obscuridade (dans
le gris) bastante tempo, até que adquira noção do seu estado, que ao
começo não compreendia, porque julgava encontrar o paraíso ou o purgatório e
nada disso via. Luiza aperta então a cabeça entre as mãos e se põe a soluçar;
as lágrimas lhe deslizam pela face. (No estado de vigília ela é extremamente
calma e de um espírito prático. Interrogo-a e ela termina por me responder que
é muito infeliz, por haver ensinado coisas inexatas. Observo-lhe que não era
culpa sua e que era melhor ter falado aos seus paroquianos do céu e do inferno
que tê-los deixado crer nada existir depois da morte.
“-Sim, é certo; mas infelizmente
eles já não acreditam no inferno e, se estivessem persuadidos de que há uma série
de existências em que se expiam as faltas cometidas nas anteriores, muito
melhor procederiam." - Deseja então se reencarnar? - "Sim, para
melhor me poder instruir e espalhar a verdade pelo povo, dedicando-lhe
todos os cuidados." - Deve nesse caso reencarnar numa família rica que lhe
proporcionará instrução? - "Não; é
preciso, ao contrário, que nasça na miséria, para a conhecer.
"No dia 15 de julho de 1910
tive novamente ocasião de ver Luiza e aproveitei para saber se ela me diria a
mesma coisa que há dois anos sobre a reencarnação. Adormeci-a e fi-la retroceder para o passado. Quando
chegou ao período anterior a sua atual encarnação, pedi-lhe que se recordasse
de sua existência precedente. Procurou muito tempo e me respondeu de modo
fragmentário: "Eu me vejo ..., fui um velho que morava no campo... trago uma batina... sou um padre... " -
Quer se reencarnar? - "Sim." - Numa família rica? - "Não, no seio de gente pobre,"
para melhor conhecer a miséria e a aliviar."
"Projetei mais longe, por
sugestão, o recuo ao passado; como as lembranças se lhe apresentavam confusas,
pediu-me que, mediante passes, lhe aprofundasse o sono o que efetuei.
Recordou-se então de que em sua existência anterior nascera em Méaudres (cantão
do Villard-de-Lans), localidade em que não tem ela a mínima
ligação em sua vida atual; fizera seus
estudos eclesiásticos no grande seminário de GrenobJe, tendo sido, antes dessa
existência, uma moça falecida ainda jovem e muito orgulhosa, que lhe valera uma
permanência aflitiva na obscuridade, onde encontrara maus espíritos que a
atormentavam. Reconduzi-a então, por meio de passes transversais e sugestões, à
sua idade atual e em seguida a encaminhei para o futuro, transmitindo-me ela
previsões, cuja probabilidade reconheci ao interroga-la, completamente desperta
e tendo perdido a lembrança do que me dissera no estado de sonambulismo.
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