Afirmamos sempre que o Espiritismo
não é uma das religiões do mundo, porque as religiões humanas não passam de
agrupamentos egoísticos, dirigidos por criaturas excessivamente presunçosas,
que se julgam representantes diretas de Deus, com ordens e sagrações que as tornam
semidivinas, com pretensões ao poder temporal e, sobretudo, por se apresentarem
como infalíveis e únicas intérpretes das leis divinas, às quais associaram uma
infinidade de dogmas que se lhes tornaram necessários para o domínio absoluto
da consciência dos seus adeptos e perseguições aos que lhes rejeitam a enorme
série de contradições e de absurdos.
O Espiritismo nada tem de comum com
essas organizações políticas, falsamente rotuladas de religião. Nele, o adepto
é senhor de sua razão, crê somente no que o seu estado de adiantamento
espiritual pode aceitar; no entanto, em seu seio há lugar para todos, até mesmo
para aqueles que o combatem, visto afirmar que todas as criaturas caminham para
Deus, que todas encontrarão a salvação na misericórdia divina e que nenhuma
ficará pertencendo ao imaginário demônio, figura simbólica que os interesses materiais
das falsas religiões apresentam como poderoso concorrente do Criador e Pai.
Esses agrupamentos humanos,
puramente humanos, desvirtuaram de tal forma o sentido dos ensinamentos
contidos nos livros básicos das revelações, que, nos dias atuais, a própria palavra
- religião - perdeu a sua significação real, designando atualmente reuniões
sectaristas, verdadeiras sociedades comerciais, onde vários milhões trabalham e
contribuem para o bem- estar de alguns e dos que a estes prestam certos e
determinados serviços.
Não é pois o Espiritismo uma das
religiões do mundo. Nele não se encontram os rituais e
os cultos extravagantes que os homens criaram para impressionar as massas; nele
não existem criaturas privilegiadas com o poder de excomungar ou perdoar e nem
pessoas que pretendam viver à custa da venda de bênçãos e de preces. Nele não
há essa enorme série de desrespeitos aos princípios e recomendações recebidas
do Alto, não há comendas e títulos almotaçados, sacramentos tabelados e ofícios
religiosos de caráter profano.
Daí o dizermos que o Espiritismo não
é uma das religiões humanas, mas, a religião divina, em toda a sua
simplicidade, pureza e amor, asseverando aos adeptos de todos os credos que os
homens são iguais e que todos se salvarão, hoje ou amanhã, com o aprenderem,
através das reencarnações, que tudo depende de nós mesmos, como resultante da
obediência e da prática do grande ensinamento: "Fora da caridade não há
salvação".
As leis apresentadas na Codificação
básica do Espiritismo e nas revelações que lhes sucederam e que continuam e
continuarão a chegar aos homens, de acordo com o progresso intelectual da
Humanidade, não foram criadas por "infalíveis" criaturas da Terra,
mas transmitidas do Alto pelos Espíritos que já se encontram em planos
elevadíssimos e que de lá nos trazem a dose de instrução espiritual que o
Governador do planeta julga útil e necessária ao nosso adiantamento e
encaminhamento para Deus.
Religando todas as criaturas ao
Criador, não as catalogando por credos, raças, cores e posições
sociais, asseverando que todas se religarão ao Pai, sem que uma única ovelha se
perca nas profundezas de um mitológico inferno, é o Espiritismo, etimologicamente,
racionalmente, espiritualmente, a religião divina, a religião que forçará os
homens a se reunirem e as religiões a se readaptarem aos princípios de que se
afastaram.
Não possui o Espiritismo sacerdotes
e templos majestosos; não faz alianças com os poderosos da Terra e nem possui
organizações de princípios nazifascistas; não oferece renda aos
que lhe pregam os ensinos; nada exige dos que lhe aderem ao movimento; todavia,
tornando cada adepto num sacerdote e tendo em cada médium um elemento de toque
para os corações embrutecidos, ele conseguirá transformar a mentalidade do
mundo, em tempo relativamente curto, com o aumento sempre crescente desses milhões
de adeptos já conseguidos, em apenas um século de trabalho.
Não visa o Espiritismo o domínio
temporal e material dos povos, mas, a transformação do mundo com a educação
espiritual do homem.
assina G.
Mirim
(Antônio Wantuil de Freitas)
in ‘Reformador’ (FEB)
em Agosto 1945
Nenhum comentário:
Postar um comentário