Sobre
a Natureza
do
Corpo de Jesus
Melindrosa
questão se agita no momento,
Nos Grupos Espíritas:
E tem, como
alimento,
A
fina compleição do corpo de Jesus,
Que
por amor de nós morreu pregado à cruz.
Delicada
questão, transcendental, etérea;
Se
de fluidos foi feito ou feito de matéria.
De
fluidos, querem uns, de matéria, outros querem;
E
do "Infinito" a voz a lhes dizer: "Esperem!" .
A
luz está na mão de Deus Onipotente;
E
de certo virá, mas, progressivamente.
A
quem quiser que a noite passe fugidia,
Não
chegará mais cedo a doce luz do dia.
Para
que pois correr assim, com tanta ânsia?
Mal
podeis distinguir um facho na distância,
E
quereis ver um astro a quintilhões de léguas!
Dai
pois o tempo ao tempo e trabalhai sem tréguas,
Na
vinha do Senhor ... na vinha de Jesus ...
Porque
o salário, vem; e o pagamento é luz.
Trabalhai
com ardor, a praticar o bem,
E
lede por enquanto a Obra de Roustaing.
E
para que saberdes vós a natureza
Do
Corpo de Jesus?
Dizei-o com
franqueza.
Que
bem vos pode vir da funda conjetura?
Do
ser, ou do não ser, viria, porventura,
Alguma
utilidade à vossa evolução?
Para
ter caridade e amor ao vosso irmão,
Precisais
de cuidar de assunto tão profundo?
Vaidade
de saber. .. tão própria deste mundo.
Se
fordes perguntar ao lírio acetinado,
Que
Deus mandou nascer à beira de um valado,
Ou
dentro do paul. .. em meio ao lamaçal
À
rosa branca e pura. .. à rosa oriental
Donde
lhes veio a cor imaculada e fina,
A
fragrância sublime excelsa e peregrina...
Do
seu formoso encanto a doce singeleza,
Bem
certa que ouvireis dizer: "Da natureza!
Do
azul, harmonioso... azul sereno... etéreo...
E
não busqueis saber mais nada do mistério.
Tudo
vem a seu tempo: a flor antes do fruto;
Que
assim o determina o Célico "Estatuto".
Se
fosse igual ao vosso o corpo do Messias,
Assim
como julgais em vossas fantasias,
Haveis
de então dizer, haveis de então mostrar,
Como
foi que se deu o seu ressuscitar,
Se
um´alma desprendida e livre que voou,
Jamais
pode voltar ao corpo que deixou?
E
qual a explicação também que podeis dar,
Do
fato deslumbrante, estranho e singular,
Da
transfiguração sublime do Tabor,
Onde
se ouviu a voz Divina do Senhor?
Ou
quando Pedro o viu andando sobre o lago,
Tranquilo,
e nas feições um carinhoso afago,
Que
foi quando o chamou julgando-se em perigo,
Temendo
da borrasca o rígido fustigo?
E
ainda ao conseguir no pórtico do Templo,
-
Fato de que jamais houvera humano exemplo -
Sumir-se
mesmo ali, de modo misterioso,
Por
entre o olhar severo, atento e rigoroso,
Da
turba que tentava então apedrejá-lo, .
Sem
mais o poder ver! ... sem mais poder achá-lo?!
Alguma
coisa tem também de singular,
Esse
caso estranhado em que deveis pensar,
De
tão cedo extinguir-se a vida de Jesus
Errl
três horas que esteve, apenas, sobre a cruz;
Um
caso sem igual, porque, na maioria,
Só
três dias depois a vida se extinguia;
É
fato que assombrou romanos e Judeus,
A
Escribas e a Caifás, a Pôncio e fariseus.
Disse
um dia Jesus: "Buscai, e achareis".
Pois
eu também vos digo agora, que busqueis[1].
Em
verdade vos digo, e ouça quem quiser:
De
todos quantos têm nascido de mulher,
Embora
seja imensa, ilimitada a lista,
Nenhum
ainda foi maior do que o Batista.
Disse
o meigo Jesus[2].
Ao tempo em
que João,
Andando
a batizar nas margens do Jordão,
Falando
de Jesus, por sua vez dizia :
"Depois
de mim virá quem tem maior valia;
Quem
é mais poderoso e de quem eu jamais
Serei
merecedor - e não julgueis de mais -
E
nem digno sequer, ao menos, de abaixado,
Desatar-lhe
a correia ou laço do calçado[3].
.....................................................
Dizei-me
agora irmãos, com calma e sem trejeitos:
Qual
é a tradução que dais a tais conceitos?
Também
o Bom-Pastor assim dissera um dia,
Com
voz amena e doce, estranha melodia,
Duma
doçura igual aos favos das abelhas,
Falando
desse amor que tem pelas ovelhas:
Por
isso é que meu Pai me ama; por eu dar
A
vida pela ovelha ao vê-la desgarrar.
Ninguém
pode tirar-ma: eu mesmo a dou de mim.
Dou-a,
para depois a reassumir. Assim,
Eu
sei que tenho a força, o dom de a poder dar,
E
tenho ao mesmo tempo o dom de a retomar,
Conforme
o meu querer, direito que é só meu,
Divino
Mandamento que meu Pai me deu.[4]
Dizei-me
agora irmãos, olhando para a luz
Se
era igual ao vosso, o corpo de Jesus.
Se vós não ignorais que em mundos superiores
Ao
vosso, onde não há as mesmas vossas dores,
Por
serem humanidades já evoluídas,
E
por essa razão já são constituídas
De
matéria mais fina e pouco ponderada,
Ou
seja a vossa "A noite" e a outra "um'alvorada"
E
se também sabeis que à Terra nunca veio
Espírito
mais puro - e crede-o sem receio -
E
nem jamais no mundo houvera criatura
De
tanta perfeição... de candidez mais pura ...
De
tão divina graça... e tão divino encanto,
Dizei-me
bons irmãos; dizei-me, no entretanto,
Como
admitis, então, que espírito tão belo,
Feito
de luz e amor, de célico desvelo,
Viesse
lá do azul... das regiões divinas ...
Das
camadas do Céu... etéreas... diamantinas ...
Mais
próximas de Deus... mais puras... mais sutis,
Vestir
um trapo igual ao trapo que vestis?
Seria
porventura a dor do Nazareno
Mais
branda que num corpo ao vosso igual, terreno?
Por
certo que não foi; e com verdade o digo,
Embora
não queirais ainda estar comigo.
Não
é no corpo astral, que vibra o padecer,
E
as outras sensações de mágoa e de prazer?
Acaso
deixará de ser material
O
vosso perispírito, o vosso corpo astral,
Embora
em quintessência e quase imponderável?
E
não tendes também a prova incontestável
De
Espíritos, embora em média evolução,
Poderem-se
tanger, ferir vossa visão,
Bastando
para isso a força de vontade,
Profunda
e concentrada, unida à faculdade
De
saberem buscar no fluido universal
Dos
páramos sem fim, sutil manancial
De
energia e vigor, com permissão de Deus,
Os
fluidos, para unir aos próprios fluidos seus,
Formando
deste modo o precioso "plasma"
E
fazerem com ele o corpo do fantasma?
Se
já vos veio a luz que vos permite ver,
O
que acabais de ouvir, e eu, de vos dizer,
Fatos
de que jamais se pode duvidar,
Então
porque lutais, irmãos, em aceitar
Que
Espíritos de luz, de grande elevação,
Escolhidos
por Deus, pr'a virem na Missão
De
acompanhar Jesus, possível lhes não fora
Trabalharem
também na obra redentora,
Cientes
de elementos fluídicos astrais,
Como
também das leis de Deus Universais?
E
se acaso julgais não serem os meios únicos,
E
quiserdes também os fluidos mediúnicos,
Não
os teriam pois na Virgem e em José,
Mateus
e Barnabé? em Pedro e em João?
Se
ao corpo de Jesus não dais a fluidez,
Fazeis
do Evangelho um simples entremez.
Depois,
que ficam sendo, então, às vossas vistas
O
próprio Jesus-Cristo e os quatro Evangelistas?
E,
se tais objeções fareis ao Evangelho,
A
duvidardes dele e parecer-vos velho,
Não
devereis vós crer, nem esperar de Deus,
Que
Lucas e João, que Marcos e Mateus,
Para
firmar-se a fé e harmonizar os povos,
Venham
dar-vos agora uns Evangelhos novos.
Esperem,
bons irmãos, a luz que já vem vindo.
A
hora chegará. .. as trevas vão fugindo ...
Trabalhai
sem cessar na seara do bem,
E
não deixeis de ler a Obra de Roustaing.
Antônio
Mendes Diniz da Gama
Reformador (FEB)
1927
(pág.
338)
[1] Mat.
VII, 7
[2] Mat.
XI,11
[3]
Mat.III,11 – Marcos I,7 – Lucas III, 16 – João I,27
[4] João X,
15, 17, 18.
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