Doutrina Espírita
VIII
Ação dos Espíritos
sobre os
Fenômenos da Natureza
"Dia virá em que, tendo vós
alcançado a elevação necessária, todos os casos que hoje vos causam espanto se
vos tornarão familiares. Mas, nem por isso menos real será a ação dos Espíritos.
A ciência humana, se lhe fora possível, anularia a existência de Deus, dizendo:
"Previmos
as tempestades, logo, elas se desencadearam porque assim devia acontecer".
De tal sorte, os fenômenos da Natureza seriam apenas o resultado da ação de uma
força cega e necessária e não obra de uma inteligência suprema e providencial,
que age por intermédio de Espíritos ativos e devotados, aos quais incumbem o
uso, o emprego, o funcionamento, a aplicação e a execução das leis naturais e
imutáveis que ela estabeleceu desde toda a eternidade. Deste modo é que aquela
inteligência obra por sua vontade livre e imutável, no sentido de que age
segundo essas mesmas leis que ela dirige, aplica, faz funcionar, executar,
objetivando o progresso físico, moral e intelectual, dentro da vida e da
harmonia universais. Prevendo-lhes e observando-lhes o uso, a aplicação, os
efeitos e a execução, essas leis são reconhecidas por aqueles mesmos que negam,
porque não os veem, o legislador que as promulgou
e os agentes a quem incumbiu de as aplicar, de as fazer produzir seus efeitos,
de as executar, nas condições e segundo as regras e os meios que lhes pôs nas
mãos e se acham estabelecidos nas próprias leis. O legislador é - Deus; os
agentes são - os Espíritos puros, aqueles
que se podem aproximar do foco da onipotência e que, por sua vez, têm, como
agentes submissos e devotados, conformemente à hierarquia espírita, os
Espíritos superiores e os bons Espíritos.
"O mesmo fora reconhecer a
existência de uma máquina, prever-lhe e observar-lhe o uso, a aplicação, os
efeitos, a execução da obra desde que o operário preposto do mecânico a fez funcionar
e, ao mesmo tempo, negar, por não serem visíveis, o mecânico que a inventou e
os operários que a põem em movimento. O mecânico é Deus; os operários prepostos
são os Espíritos.
"Não, a natureza obedece a uma
marcha regular e, assim como o homem recebe sempre, pelas circunstâncias ou
pelos acontecimentos que preparam, precedem, produzem e executam essa marcha, o
aviso de que tem que morrer e, por conseguinte, de que lhe cumpre estar pronto para
esse momento supremo, do mesmo modo, nas leis da Natureza, todos os
acontecimentos deixam prever a marcha que seguirão, por meio de sinais que a
seu tempo compreendereis.
"As tempestades como as
inundações, os fatos atmosféricos e todos os fenômenos da natureza são
produzidos por Espíritos prepostos à produção desses efeitos, Espíritos que,
todavia, seguem a marcha que lhes traça o Senhor para os preparar, guiar e
realizar pelos meios de que os armou, mas sempre segundo as leis naturais e
imutáveis por ele estabelecidas desde toda a eternidade.
"Já o declaramos e repetimos:
Dia virá em que a Ciência poderá predizer o momento exato em que se produzirão
os fenômenos da Natureza. Quanto, porém, à previsão dos fenômenos atmosféricos,
não acrediteis que os possais anunciar com a precisão com que os ponteiros
marcam num mostrador as horas. Vossos cálculos serão muitas vezes perturbados,
mas chegareis a prever sempre com muita aproximação. Isso vos permitirá, desde
que o orgulho humano se resolva a consenti-lo, tomar as precauções necessárias,
para salvar as vossas colheitas, as vossas habitações e fazer redundar em
proveito da Humanidade o que, até então, ela considerara calamidade.
"Nada existe na Natureza sem
fim. Somente a vossa ignorância impede que o compreendais e o homem tem, até
certo ponto, o direito de dizer-se rei da Criação, no sentido de que nada há
secreto que não deva ser dele conhecido, e nada oculto que não deva ser descoberto,
à medida que for aumentando a sua elevação moral e intelectual e,
concorrentemente, física, segundo a lei morosa mas regular do progresso. A bondade
divina tudo submeteu ao império do homem, mas é preciso que ele aprenda a
reinar como Senhor, como pai de família e não como tirano. É preciso que
despedace as cadeias que prendem seus
irmãos para que aprenda a acorrentar o Oceano. É preciso que esteja sempre
pronto a partilhar
com seus irmãos o que possuir, para aprender a preservar suas colheitas das
geadas, dos
ventos e dos raios de um Sol demasiado ardente. É preciso, enfim; que se
aperfeiçoe moralmente
para obter o aperfeiçoamento físico do planeta.
"Cada um dos séculos que se
escoam com tanta lentidão vos traz uma parcela de progresso moral e
intelectual. Moral, sim, porque, mau grado a todas as vossas imperfeições, tendeis
para o bem, tendes disposição para aceitar, mesmo dentro da vossa cegueira, as
modificações capazes de vos melhorarem a espécie. Conservais ainda uma parte da
catarata que vos tira a vista. É exatamente do que procuramos agora curar-vos,
pela nova revelação, pela influência e pela ação espíritas e com o concurso dos
Espíritos encarnados aí em missão. Quando enxergardes nitidamente, caminhareis
com passo firme e decidido pela via do progresso e a vossa carreira tomará,
então proporções vertiginosas. Coragem, coragem, bons obreiros! O amo vem
visitar a sua vinha e volta satisfeito por encontrar na faina os seus
trabalhadores. Coragem, perseverança!
"Tudo no seio da Natureza tem
que seguir uma marcha regular. Longe está ainda a vossa ciência do que virá a
ser. Grande poder o Senhor deu ao homem, mas é necessário que este se faça
digno de exercitá-lo. Tudo é sábio, repetimos, na obra divina; tudo tem um
destino e concorre, pela ação dos Espíritos do Senhor, segundo suas vontades e
sob o império de suas leis imutáveis - para a execução da obra geral, pelos
fenômenos da Natureza para o progresso do vosso planeta, de tudo o que nele existe
e da vossa humanidade, concorrendo também para o cumprimento das vossas
provações, das vossas expiações que, no conjunto da obra, representam elementos
e meios de progresso. Os homens que sucumbem num naufrágio são levados a morrer
assim, por efeito das provações que escolheram. Portanto, seja ou não conhecida
do homem a causa, o resultado existirá.
"Aquele que, ao encarnar,
escolheu por provação a morte violenta, precedida das angústias e alternativas
que cercam os últimos momentos do náufrago, sujeito a se debater entre a submissão
ao Criador, a resignação, o remorso das faltas passadas, a confiança na bondade
divina e o pavor, a blasfêmia, a raiva insensata que se apodera de alguns nessa
hora terrífica, será levado, pelo seu próprio Espírito, a preferir um navio a
outro, a se ver urgido por um negócio a embarcar em determinada ocasião, a
contar mesmo com um acaso feliz, com
a sorte, com a sua boa estrela. E partirá porque, durante o desprendimento a
que o sono dá lugar, o seu Espírito se torna consciente das sérias obrigações
que contraiu e toma de novo a resolução de conduzir o corpo à situação em que,
unidos, devem ambos terminar suas provas, voltando este à massa comum e libertando-se
ele, o Espírito, da escravidão corporal e readquirindo a liberdade. A resolução
assim retomada e da qual não resta lembrança no estada de vigília deixa no
homem uma impressão vaga que vem a constituir o que ele chama a sua inspiração,
a determinante de seus atos.
"Assim como não pode prever a
seu naufrágio, também o homem não prevê a hora em que as chamas de um incêndio
lhe devorarão a casa, em que será sepultado pelo desabamento da escavação, da
mina, da pedreira onde trabalhe e os que têm de perecer desse modo perecem.
Porquê? Porque, semelhantemente ao
náufrago, escolheram, para terminação da vida terrena, a morte violenta, cercada
das angústias e alternativas das daquele e precedida da mesma luta entre a
submissão ao Criador, a resignação, o remorso, a confiança na bondade divina e
o pavor, a blasfêmia, o desespero". (Tomo II, p. 60/5)
"Tudo, na Natureza, é preparado
e dirigido pela ação dos Espíritos prepostos, segundo a vontade
do Senhor e sob o império das leis naturais por ele estabelecidas desde toda a
eternidade". (Tomo II, p. 67).
O mesmo assunto vem tratado
minuciosamente, também, em “O Livro dos Espíritos" ns.
536 a 540. Como as obras de Kardec se acham em mãos de todos os estudiosos da
Doutrina, o que não se dá, com a de Roustaing, limitamo-nos a citar os lugares
em que se acham tratados os mesmos assuntos, sem transcreve-los, o que se tornaria
enfadonho para o leitor.
Reformador (FEB)
Fev 1950
Nenhum comentário:
Postar um comentário