Em duas ocasiões, localizamos textos
que se referem ao prof. Huberto Rohden. Vale a pena compará-los....
Casos e Coisas
III
Em nossa anterior
respiga (compilação) [1], vimos a sem
cerimonia com que o Rev. Rohden
procura legitimar a autoridade da sua Igreja.
Os espiritistas conscienciosos
sabemos que a história do catolicismo é a maior intrujice (logro) impingida à
humanidade no transcurso da sua laboriosa evolução planetária.
Aranhol (armadilha) de mitos e
símbolos decalcados no paganismo; qual mais fantasioso e absurdo, sempre
variável consoante às circunstâncias de tempo e meio, não é preciso ser douto,
mas simplesmente lido e sofrivelmente racionalista para lhe repugnar as
credenciais que avoca, de árbitro da consciência humana, de suserania espiritual.
Basta ler sem espirito preconcebido
os Evangelhos do Senhor, para concluir que toda a obra do catolicismo é o que
pode haver de mais contrário, teórica e praticamente, à índole do Cristianismo.
Nem por menos, melhor pudera dizê-lo Gonzalez Blanco :
“O
Cristianismo em seus primórdios não foi mais que uma instituição monástica, que
não conseguiu adaptar-se e muito menos aplicar-se a qualquer sociedade humana,
até que se mundanizou, convertendo-se em catolicismo”. (1)
(1) Nuevo Ideal de Ia Humanidad, pág. 326
Mas, ainda bem que o caroável (amável) jesuíta admite a
coexistência de outras religiões, que
levam a criatura a dar com os costados no céu ...
Na conclusão de seus escritos na
“Ordem” e pela ordem, obrigada a ilustração fotográfica - um facies de alma regalada em corpo teuto
bem nutrido, antes que esquálido cenobita (de existência
austera)
sequioso de angelitudes - pergunta-nos ele com embelecos (atrativos) de freira noviça:
qual
a religião do mundo que tem levado ao céu maior número de almas?
Em boa tese, é claro que a resposta
só poderia ser dada com estatísticas autenticas, admitindo
haja lá, no dito cujo céu de sua imaginaria concepção, uma burocracia
especializada.
Não pensem, porém, que o Rev. em
sanhas de anfigurismo (?) se detenha em
considerações que tais. Não. Ele, nisso de histórias, vai de vento fresco com
Quintiliano (orador
do século I)
que diz ser a história escrita para contar, não para, provar, - scribitur ad narrandun, non ad probandun.
Ainda assim, louvemos o escrúpulo do
Rev., porque estamos em crer que se ele aventurasse
um número concreto, não deixaria de abiscoitar admiração maior da Ordem e
dos seus pios leitores coordenados.
O interessante, porém, é que a
pergunta implicitamente comporta a hipótese de outras religiões, capacitadas de
cooperação eficiente na obra do “Sindicato dos Despachantes celestes”...
Essa abnegação, de um exclusivismo
até agora fechado, maciço, irredutível, é já um
progresso que as outras religiões
devem registar e agradecer ao Rev. .
Quanto a nós, ficamos sabendo que,
no jogo dos palpites e pelo censo matemático de
sua Reverendíssima, não temos prestígio que valha perante o instituto do
Pistolão divino ... E
sabem os confrades por que? Porque ainda não fabricamos - fabricar é bem o
termo - homens virtuosos, heróis de
perfeição cristã, “santos”, em suma! (sic).
Satisfeito com o achado da sua
grande alma, devorada a esfinge, gorgolejante de parenética e fremente de
entusiasmo, prossegue, então, com a “lista de chamada”, dos beneficiários
da sua indústria, a começar pela Virgem Santíssima de mil nomes, os Apóstolos,
alguns varões realmente conspícuos, e a terminar com a Terezinha do Menino
Jesus!
Aí transparece a filáucia (egoísmo) dos métodos jesuíticos, sempre apriorísticos,
da catequese eclesiástica.
Método difuso, confuso, abstruso,
obtuso e aleivoso (fraudulento) , sempre.
Desarticulada a peça, examinada a
frio, que se pode inferir?
l.
- que o padre admite católicos antes de haver catolicismo. O carro adiante dos
bois ...
2.
- quer, sejam da sua Igreja apenas, os que só por espírito de caridade nela se
filiaram ocasionalmente, antes que por vocação ortodoxa.
3.
- julga-se consciente e onipotente para arbitrar santidades alheias.
4.
- omite todos os santarrões da sua grei, que, analisados e somados, dariam um
tratado de tetarogenia (?) criminal e aberração religiosa.
Não. Positivamente, não. O Rev. Rohden não conhece, ou melhor, finge
não conhecer o Espiritismo, pois de outra forma não argumentaria tão
puerilmente, a indagar quais os santos
que a doutrina dos Espíritos tem incorporado às milícias celestes. Porque a
verdade é que nenhum adepto da Nova Revelação é candidato à santificações de
improviso, ou de encomenda, para uso-fruto de beatitudes indefinidas e problemáticas.
Nós, nenhum de nós, pretende ser
santo, senão num sentido relativíssimo, pela quota de iluminação e pacificação
da própria consciência.
E assim pensando, e sentindo, melhor
nos integramos na palavra de Verdade com o reino dentro de nós, qual o situou o
Cristo de Deus.
O clero, e todo clero, deve mesmo
contrabater o Espiritismo, porque o Espiritismo integral
é a vitória do Cristo sacrificado há vinte séculos e usurpado à consciência das
massas, sem embargo de lutas cruentas, ignóbeis, desencadeadas em seu nome.
O Espiritismo apoiado em fatos,
antes que em teorias, representa a emancipação da consciência
humana, para compreender a imanência dos seus destinos.
O espírita não crê apenas porque viu, sentiu, soube; mas sabe porque viu, sentiu, creu.
De resto, não se pode presumir
paralelismo religioso entre Espiritismo e Catolicismo.
Religioso católico é o individuo que
aceita Deus condicionalmente, mediante fórmulas e ritos exteriores,
consagrados. O espírita cristão não faz a religião, não vive da religião, nem
combate a religião de quem quer que seja.
O que o espirita não aplaude é a
hipocrisia das religiões.
Ele não inventa sistemas de salvação
e compressão, não fabula milagres, não violenta
consciências, não manda crer e sim raciocinar.
Afinal, o Rev. incide no erro, erro ou versucia (sagacidade) , de supor que a
doutrina espírita se adscreve (acrescentar ao que já foi escrito) ao comércio das
evocações e manifestações dos mortos, quando a verdade é que ela assenta,
inteirinha, na racionalidade da sua filosofia.
Nem é o homem a procurar os Espíritos,
mas estes a manifestarem-se espontaneamente ao homem, qual o fizeram de todos
os tempos, a dentro mesmo dos arraiais católicos, e apenas sob um prisma teológico
mais consentâneo com a mentalidade contemporânea. Há desvios e aberrações? De
acordo ... São do homem, não da Doutrina. E
quantos apontaríamos à Igreja?
O homem, em tese, ainda é aquele homem velho a que se refere o
Divino Mestre, e
nessa categoria - aqui a bola do padre é
boa - estão aqueles confrades que exornam as
fachadas dos Centros Espiritas com os nomes dos “santos” do seu tronchudo hagiológio
(estudo
dos santos),
dele padre. Também se poderia alegar que o caso é menos sério e a coisa menos
grave, porque a homenagem é antes ideal que nominal ...
Mas, para que? Essa gente é
ferrenha, é testuda (teimosa), e, ao menos nisso,
não custa fazer-lhes a vontade.
Que a questão não é mesmo de casca e
sim de miolo...
M. Quintão
Reformador (FEB) 16
Fev 1937
Confissões
Não iremos transcrever trechos das
Confissões de Santo Agostinho, mas de um livro - Deus - da autoria de uma das mais cultas inteligências
da famosa Companhia de Jesus, o Rev. Padre Huberto
Rohden, atualmente, segundo estamos informados, professor de uma
Universidade mantida pelos padres jesuítas na América do Norte:
"- O teu reino não é deste
mundo. Querem os homens - humanos, por demais humanos - que o teu reino,
Senhor, que no mundo está, seja também deste mundo.
"Querem os homens provar com
eruditos silogismos que a alma do teu Evangelho é compatível com o corpo do
nosso mundo - deste mundo tão imundo...
"Querem os homens demonstrar
matematicamente que o espírito do Sermão da Montanha não é contrário ao
espírito da nossa sociedade - desta nossa sociedade burguesa e sem espírito.
"
"Querem os homens fazer do
Cristianismo uma religião moderna, elegante, grã-fina - religião de salão e de
palácio ...
"Reduzem a artísticas cruzinhas
de ouro e madrepérola, para ornamento e vaidade, o tosco e sanguinolento
madeiro que o teu Messias arrastou ao Gólgota, com sofrimento atroz...
"Querem polir e envernizar
esteticamente o símbolo da redenção, com medo de se ferirem em suas agudas
arestas...
"É assim que os cristãos
entendem o seu Cristianismo - que não é o Cristianismo do teu Cristo...
"Desde que o primeiro imperador
cristão tirou da noite tri-secular das catacumbas a tua igreja
e a levou da cruz aos salões, começou a decadência do teu reino - do teu reino,
não em si mesmo, mas entre os homens ...
"O clima da tua igreja é o clima
do Getsêmane e do Gólgota - e fora deste clima não pode
ela viver e prosperar ...
"Tua igreja é uma perene
tempestade de Pentecostes - e não um salão de festas forrado de
tapetes e guarnecido de poltronas...
"As igrejas degeneraram, muitas
delas, em sectarismo político - e o homem dos nossos dias
tem horror a todos os fetiches, a todas as jaulas do corpo e da alma ...
"A alma "naturalmente
cristã" volta-se, com irresistivel avídez para o sol, para o Cristo, para
ti, Senhor - e foge de todos os lampiões e de todas as lanternas multicores com
que os homens
pretendem substituir o sol do teu Evangelho ... "
"Sucedeu, então, à benéfica inimizade
dos Pílatos a maléfica amizade dos Constantinos, que desceram da cruz a igreja
do Nazareno, arrancaram-lhe das mãos os cravos e deram-lhe o cetro
do poder mundano; substituíram a coroa de espinhos por uma coroa de ouro e
pedras preciosas:
em vez da púrpura sagrada do seu sangue redentor cobriram-na com a púrpura profana
da Babilônia, e mandaram o Cristo dos séculos sentar-se no trono da política e
dos interesses mundanos, em vez de doutrinar os povos da cátedra divina da cruz
...
"E o teu reino, Senhor, que deste
mundo não é, mundanizou-se nas mãos de homens que são deste mundo. Ficou-lhe,
sim, pura e inalterada a alma - porque nenhuma potência do inferno
pode adulterar a alma do teu reino - mas
a tal ponto se mundanizou o corpo da tua igreja
que dificilmente se pode descobrir-lhe a alma divina através desse corpo
profano ...
"Se os cristãos continuarem na
sua infeliz tentativa de intoxicar o teu reino com a peçonha da política
profana e dos compromissos interesseiros, teu Messias, quando voltar, não
encontrará fé entre os homens ...
Os trechos que ai estão, inclusive
as reticências, são do próprio Autor. Só nos resta afirmar que estamos de
perfeito acordo com o muito ilustre escritor jesuíta.
assina I. Pequeno
(Antônio Wantuil de Freitas)
in ‘Reformador’ (FEB)
em Dezembro 1945
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