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‘Revelação dos Papas’
(Obra Mediúnica)
- Comunicações d’Além Túmulo -
Publicada sob os auspícios da
União Espírita Suburbana
Rua Dias da Cruz 177, Méier
Officinas Graphicas d’A
Noite
Rua
do Carmo, 29
1918
-continuação-
Martinho Lutero
Tudo fiz para combater o despotismo
romano e libertar as consciências da tutela dos papas, mas, por outro lado, no
campo político transigi, admitindo a tirania do governo com que mantinha
relações de amizade e aos quais me achava ligado por interesses de ordem
particular e privada, tendo, por isso, para esses chefes de estado todas as
atenções e deferências, ao ponto de sacrificar em grande parte a Reforma;
assim, prejudiquei grandemente interesses religiosos, fazendo perigar a nova
ordem de coisas que, à custa de ingentes esforços eu estabelecera no mundo.
Por amor à política, em que muita vez
me envolvi, abandonei princípios básicos sagrados; tendo essa minha conduta
contribuindo para que o movimento reformador degenerasse, perdendo muito do seu
primitivo esplendor.
Advoguei a causa política de alguns
estados religiosos, junto aos governos que aceitavam a Reforma. Representei
mais de uma vez esses estados nas reuniões e assembleias que tinham por fim
decidir da organização político-religiosa dos mesmos estados. Fui mediador, árbitro
em várias contendas havidas entre governos; fiz parte, secretamente, das juntas
governativas dos pequenos estados, que reorganizaram política e religiosamente
estas nações. Fundei igrejas, organizei associações, escolas, centros e
colégios onde eram ministradas noções sobre a Reforma.
Preguei, fiz conferências, escrevi
obras, publiquei livros de moral, religião e filosofia.
Convoquei reuniões de homens eruditos
do meu tempo para decidirem questões religiosas teológicas, sociais e
políticas. Foi grande e desenvolvida a minha ação na Terra, enorme o meu
prestígio no mundo, mas foram também grandes as minhas ambições, o meu orgulho,
vaidade e despotismo.
Para defender a liberdade,
sacrifiquei a própria liberdade; para libertar as consciências da tirania
romana, fui também tirano; para organizar o que me parecia fora de ordem,
perturbei essa mesma ordem; para fundar uma sociedade mais cristã, vivendo de
acordo com o Evangelho, prejudiquei esse Evangelho; para destruir o fanatismo,
criei outro que ainda está produzindo efeitos danosos; para que não fosse violenta
a doutrina de Jesus, violei essa doutrina, consentindo que se criasse outras
Igrejas, novas seitas, novos cismas, e daí a desordem espiritual reinante na
Terra, a crise moral, a falência do verdadeiro espírito cristão, o ofuscamento
do brilho e esplendor do Evangelho, das gloriosas verdades semeadas por Nosso
Senhor Jesus Cristo.
Foram, pois, negativos muitos dos
atos que pratiquei com intenção de regenerar, aperfeiçoar os costumes
religiosos; inúteis os esforços feitos para restituir à doutrina de Jesus a
majestade e brilho que me parecia haver ela perdido naquela época; vãs muitas
das tentativas feitas com os mais nobres intuitos reformadores, com a mais
tenaz energia reconstrutora do grande edifício da fé, que vinha se esboroando
através dos séculos; improfícuas as lutas que sustentei em prol da liberdade
moral e religiosa, do livre exame, da independência das consciências cristãs,
do espírito religioso do meu tempo.
Martinho Lutero, homem dotado de
espírito enérgico, mas propenso às fraquezas do caráter, no tocante a
interesses de ordem material e privada; espírito forte, mas com tendências para
as debilidades morais dos orgulhosos e dos fátuos; ânimo varonil, mas tendo
decidido pendor para despóticas violações das leis sagradas, a bem dos
interesses egoísticos que sempre agasalhou no fundo da sua alma, para as
tirânicas oposições ao que parecia contrariar a sua vontade e o seu capricho ─
Martinho Lutero é, perante Deus e a sua própria consciência, criminoso, digno
de maldições que devem cair sobre os que neste mundo deixam de cumprir as suas
missões, para se entregarem às paixões e sentimentos inferiores, aos quais
sacrificam o que é digno de respeito e veneração, o que deve ser mantido ainda
mesmo à custa do sangue e da vida daquele a quem Deus confia a nobre e santa
missão de apressar o adiantamento do planeta. Martinho Lutero foi mais homem
que apóstolo, mais interesseiro que crente, teve mais egoísmo que fé, mais
vaidade e orgulho que humildade - a maior e mais santa virtude que deve possuir
todo homem que na Terra tem sobre os braços a pesadíssima tarefa de salvar a
humanidade.
Tendes na vossa presença o reformador,
o demolidor, o destruidor, o lutador do Evangelho de Jesus; mas aqui está
também, perante este grandioso tribunal que Deus mandou organizar, presidido
por Jesus Cristo, o maior de todos os pecadores, de todos os orgulhosos, o mais
autoritário dos homens que tem a Terra; o mais cruel e desumano sacerdote que,
neste planeta, se tem paramentado com os símbolos da religião do crucificado; o
mais ambicioso dos espíritos que na Terra tiveram a missão de orientar os seus
irmãos; o mais impiedoso de todos os fundadores de doutrinas que o mundo tem
conhecido.
Tendes na vossa presença o espírito
de um frade que nunca se humilhou, jamais obedeceu e jamais se subornou a Deus
e às leis da sua ordem, que sempre desrespeitou e violou; tendes aqui a alma de
Lutero, em que foi castigada a soberba, o orgulho, a vaidade, o amor próprio e
o espírito irrequieto, impetuoso, fanático, mas a quem foi dada esta luz que o
circunda pelos esforços que fez para salvar a doutrina de Jesus, encaminhando a
humanidade para a felicidade eterna; tendes junto de vós, na superfície do
vosso planeta, o espírito de Martinho Lutero, que acaba de cumprir as provações
que lhe foram impostas em existências sucessivas, nas quais limpou o seu
espírito para poder comparecer perante vós cercado da luz que o envolveu, cuja
descrição o médium acaba de fazer-vos.
Martinho Lutero, por não ter bem
cumprido a sua missão na Terra, fazendo tudo quanto podia e devia ter feito,
foi, após a morte, lançado no meio das trevas que o envolveram a sua
consciência, fazendo-o padecer duros tormentos, experimentar cruéis aflições,
ante os quadros dos seus erros a se desenrolarem na sua presença, perante a
Justiça Eterna, que a cada instante o chamava a contas, despertando-o desse
sonho tétrico em que foi mergulhado o seu espírito culpado, apelando para a sua
consciência e razão, chamando-o ao arrependimento, que custou a vir, mas que
chegou afinal, para lhe dar alívio, por termo ao seu tormento, ao seu desespero
e aflição.
Deus perdoou-me, concedeu-me a graça
de reparar os meus crimes em vidas sucessivas.
Já três existências tive no vosso
mundo, depois de haver tentado reformar a moral e os costumes religiosos.
Aqui tendes esta confissão, que vos
trago por amor da verdade e em nome de Jesus. Aqui estou colaborando na “Revelação dos Papas”, para concluir
hoje o que há 500 anos comecei, e prestando publicamente esta homenagem à
justiça de Deus, à perfeição e sabedoria infinitas da obra do Criador.
Tenho agora a luz necessária para
poder falar aos homens de boa vontade, aos que seguem o rumo que lhes tracei na
Terra.
Somente no Espiritismo podereis
encontrar a verdade, só nesta doutrina achareis conforto e luz necessários aos
vossos espíritos; unicamente na doutrina dos espíritos obtereis os
esclarecimentos indispensáveis a fim de poderdes encaminhar-vos para o bem,
para a verdade, para Jesus e para Deus.
Não tenhais dúvida; tudo quanto
preguei nada vale diante do que sei, do que tenho visto e aprendido; nada do
que sabeis possui o cunho da verdade absoluta, que só o Espiritismo poderá
fornecer-vos. Todas as vossas crenças estão em completo desacordo com a
verdade, em antagonismo com o que tenho visto no mundo espiritual.
Não vos deixeis iludir, nem vos
desvieis do caminho traçado pelo Espiritismo abundando a verdade pura pelo erro
e pela mentira.
Deus é quem me envia para dizer-vos
tudo isso, Ele vos quer muito, está disposto a ajudar o vosso progresso e, por
isso, manda os espíritos esclarecedores ao vosso encontro, para vos explicarem
a verdade. Deveis, portanto, ouvir as palavras e os conselhos dos vossos irmãos
desencarnados que vem à Terra por amor de vós outros, compadecidos das vossas
fraquezas, miséria e atraso, da cegueira que não vos deixa ver o que existe por
toda a parte e vos cerca por todos os lados, sem que vos apercebais. Tende fé e
piedade, procurai o melhor possível os vossos deveres cristãos, praticando a
caridade, o bem, e o amor. Não vos fanatizeis, procurai sempre apoiar a vossa
fé na razão e na ciência, nos fatos positivos, reais, nas provas materiais,
palpáveis, que o Espiritismo vos fornece todos os dias. Nada mais existe além
dessa grande e incomparável verdade espírita - podeis ficar certos.
Nada mais poderá consolar-vos, dar-vos a
paz e a tranquilidade das vossas consciências, a não ser essa doutrina sábia e
santa.
Não acrediteis no que vos contam
unicamente com o fito de dominar as vossas consciências; não acrediteis no diabo
e no inferno, que são meras ficções, não tem existência real.
Deus é pai, a personalidade da
bondade, da justiça, do amor e a misericórdia infinita.
Ficai tranquilos, porque todos vós
sereis salvo no dia em que vos arrependerdes dos vossos crimes e vos
dispuserdes a resgatar as vossas culpas em existências sucessivas.
Deus está convosco, Jesus é o vosso
guia neste momento; é, pois, em nome de ambos que vos fala aquele que na Terra
se chamou Martinho Lutero
Até sempre!
Setembro de 1915
Informações complementares
Nasceu em 1483 e morreu em 1546.
Frade agostinho, foi o chefe da reforma religiosa da Alemanha, que se projetou
até à época atual.
Ordenou-se sacerdote em 1507.
Doutorou-se em teologia, tendo-se dedicado, especialmente, à exegese bíblica.
Depois de acuradas meditações sobre as epístolas de São Paulo, fixou as bases
da sua doutrina racionalista.
As suas teses suscitaram forte
entusiasmo entre todos os descontentes com a Igreja Católica e também entre os
romanistas. Manteve acirrada campanha contra a infalibilidade dos papas. E numa
fogueira, em praça pública, teve a coragem de queimar a bula pontifícia que o
excomungava.
Condenou o celibato eclesiástico; e,
em 1525 casou-se com Catalina von Bora, que teve três filhos e duas filhas.
A sua tradução da Bíblia, feita
diretamente do grego, é considerada uma obra clássica.
Lutero disponha de extraordinária eloquência. Sua vida
de uma atividade dinâmica, foi uma batalha constante, destemida e intransigente
contra os dogmas do Romanismo. O papa nessa época, Paulo III, tentou aquietá-lo
mediante à oferta de honras e vantagens excepcionais no seio da igreja as quais
ele recusou altivamente, incapaz de se alugar ou vender para servir aos fariseus
de seu tempo.
página 209 do livro ‘Emissários da Luz e da Verdade’
1ª Edição 1959 Ed. Divino Mestre
- R RJ
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