03) A
Rebeldia dos Médiuns
por Indalício
Mendes
Reformador
(FEB) Abril 1958
Em
se tratando da mediunidade, é preciso muita cautela no exame das diferentes
questões que podem surgir no transcurso de uma exposição doutrinária. Sempre
que se notar a já clássica manifestação de rebeldia do médium, pode-se admitir,
em princípio, a necessidade de ele ser
submetido a um trabalho de observação e esclarecimento ainda mais
meticuloso. Os médiuns são criaturas naturalmente sensíveis. Tem-se de examinar
suas atitudes e suas reações, quer no estado normal, quer em transe, já a
caminho do exercício mediúnico. Pode suceder, muitas vezes, que a rebeldia não
seja propriamente do médium e, neste caso, convirá a realização de trabalhos
cuidadosos para a identificação da causa da sua irritabilidade. Sendo o médium
pouco desenvolvido, a rebeldia pode também originar-se da ação fluídica de
Espíritos sobre ele, aproveitando-se da sua capacidade mediúnica em evolução.
Se já é um médium desenvolvido, a causa pode ser a mesma, convindo, então, uma
outra série de providências que levem a descobrir as razões determinantes da infiltração
fluídica, infiltração que o médium não percebe e fica, assim, à mercê de
entidades invisíveis cujas intenções desconhece.
Se
as causas da rebeldia não são de natureza orgânica, podem ser de natureza
fluídica. Muitas vezes uma carga fluídica pode contribuir
para perturbar a harmonia psíquica do médium ainda não desenvolvido, ou, se
desenvolvido, pouco atento a seus deveres mediúnicos. Neste caso, as condições
orgânicas do alvejado podem ser afetadas se ele aumenta a sobrecarga fluídica,
por não saber ou não querer aliviá-la através de tarefas mediúnicas bem
ordenadas. Nem sempre a rebeldia do médium é causada por ação fluídica; nem
sempre suas perturbações orgânicas têm origem nas sobrecargas fluídicas que ele
recebe sem disto se aperceber: Positivada, porém, a origem fluídica de suas
perturbações, quer orgânicas, quer mediúnicas, então é tempo de agir, pondo-o
sob observação direta para que a origem dessas perturbações possa ser depressa
localizada.
Temos
dito da importância do exercício mediúnico metódico e persistente. O médium
somente deve “trabalhar” sozinho depois de ter sido positivado o seu
desenvolvimento completo, sem o que poderá estar sujeito a surpresas
desagradáveis e não terá meios de defender-se, dando, por isto, passagem a
quantas cargas fluídicas sejam dirigidas contra ele. As consequências podem ser
desagradáveis e convirá, diante disto, evitar ao máximo o “trabalho” isolado.
Através
do estudo de “O Livro dos Médiuns” e “O Livro dos Espíritos”, o médium pode
adquirir conhecimentos teóricos que lhe serão muito úteis no desempenho das
atividades mediúnicas. Desde que alcance razoável desenvolvimento, já seu
espírito se habilitará, com naturalidade, a identificar a natureza das
aproximações fluídicas e também com a maior naturalidade fará a seleção das
descargas que o atingem, dando passagem às que sente serem satisfatórias e
recusando as que pressente desfavoráveis. Por isto é que o médium deve
desenvolver-se num centro espírita idôneo, exercitando-se com paciência e
tenacidade, sem pressa, mas com o desejo forte de fazer sempre o melhor e de
servir sempre o melhor. O essencial não é “trabalhar”, mas “trabalhar” bem. O
médium experimentado, esclarecido, fortalecido pelo estudo e pela própria
conduta, sabe que todos os médiuns estão cercados de Espíritos ansiosos por se
manifestarem no mundo terreno. Os Espíritos menos purificados são os mais
aflitos. Não se conformam com o haverem sido despojados da vida física e
permanecem no ambiente terreno, causando distúrbios, perturbações,
aborrecimentos, algumas vezes até involuntariamente. O médium não
desenvolvido recebe qualquer um, porque não sabe sentir a diferença de fluidos,
o que não sucede com o médium já apto ao trabalho ativo, que faz a distinção
automática e insensivelmente, não dando passagem a Espíritos inferiores ou
perturbados, senão quando isto se faz necessário para a doutrinação e o
esclarecimento dos mesmos.
Temos
visto médiuns incipientes que se lastimam por não poderem ainda trabalhar
sozinhos. Outros, mais afoitos, se lançam a essa aventura, convencidos de que
já podem assumir a responsabilidade de seus atos. Muitos têm sido os que
recordam, arrependidos, a iniciativa tomada contra as determinações de seus
instrutores visíveis e invisíveis. O conselho que se poderia dar aos médiuns
que estão começando a se desenvolver é o de que não tenham pressa em trabalhar
a sós. Procurem estudar “O Livro dos Médiuns”, “O Livro dos Espíritos”, “O
Evangelho segundo o Espiritismo”, assim como as lições recebidas nas sessões de
estudo e de desenvolvimento mediúnico. Não pensem logo em fazer maravilhas,
porque o destino do médium não é maravilhar, mas servir ao próximo. Mas, para
servir bem, é mister que esteja bem preparado.
Estudar
e praticar, sem pressa de acabar, é o caminho mais curto. Que nenhum médium pare de estudar e praticar. Tem de estudar e
praticar a vida inteira, porque Espiritismo não é um curso de uma existência, mas um curso que
tomará diversas vidas do Espírito, tantas e tão profundas as lições constantes de sua
Doutrina. Se o essencial é servir bem, deve o médium preocupar-se em adquirir o
estado mediúnico que lhe permita ser útil. Escore-se no Evangelho, viva o Evangelho e faça dos
ensinamentos evangélicos a reserva de seu Espírito para os momentos mais delicados de sua
existência.
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