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‘Revelação dos Papas’
(Obra Mediúnica)
- Comunicações d’Além Túmulo -
Publicada sob os auspícios da
União Espírita Suburbana
Rua Dias da Cruz 177, Méier
Officinas Graphicas d’A
Noite
Rua
do Carmo, 29
1918
Luís, o bom rei (S. Luís)
A vidente distingue
uma figura de homem moço e claro, de boa altura,
trajando vestes
escuras, trazendo na cabeça uma espécie
de diadema ou coroa real.
O espírito apresenta-se
circundado de luz azulada, entrecortada de raios prateados,
sendo a aparição
limitada por focos verdes, entremeados de raios solferinos.
______________
Venho comunicar-me também, eu que
não fui papa, mas que tenho o dever de colaborar na “Revelação dos Papas”.
Deus é um juiz severo e rigoroso,
julga sem atender as consignações de ordem interior que tanto preocupam os
juízes da Terra. O Juiz Supremo procura
somente indagar dos que comparecem à sua presença os motivos e causas
superiores que os levaram a delinquir. Não cogita o Eterno das coisas
insignificantes, pouco dignas da atenção de um juiz imparcial, reto, justo e
sábio.
Os culpados são para Deus o mesmo que
as crianças para os pais que, ao julgarem os delitos cometidos pelos filhos,
mostram sempre, de par com o rigor paternal, complacência e bondade excessivas
na aplicação do castigo, que tem por fim, unicamente, corrigir, aperfeiçoar,
encaminhar o filho para o bem e para a virtude. O pai extremoso, compenetrado
da missão nobre e elevada que exerce, castiga o seu filho sem magoar, afligir
ou ofender de modo bárbaro e cruel, sem humilhar aquele que é objeto dos seus
cuidados, alvo dos seus carinhos e delicados afetos. O rigor pode e deve
existir na brandura; a energia e a severidade paternas podem também residir na
bondade e na misericórdia com que o pai julga os atos do filho que se torna
culpado aos seus olhos.
Não há, pois, quebra de nenhum dos
atributos de Deus, quando o apontamos como juiz rigoroso e severo, porque a
justiça não é oposta ao amor, assim como a bondade não vive em antagonismo com
a severidade e o rigor do pai. A misericórdia, por sua vez, em nada contraria a
inflexibilidade do juiz, porquanto a sabedoria estabelece ordem entre os atributos
do Altíssimo, harmonizando-os de modo que um não anula nem interrompe a ação do
outro. Todos atuam, agem de perfeito acordo, estabelecendo entre si a mais
completa concordância e absoluto
equilíbrio. Justiça e amor - severidade e rigor - misericórdia e
inflexibilidade - tolerância e bondade - são os grandes predicados do maior e
mais sábio dos juízes.
O perdão é consequência lógica da
bondade e sabedoria no julgamento; a misericórdia é resultante da justiça e
severidade com que o Supremo aprecia os erros e as faltas dos culpados. O amor
é a maior força dessa justiça infalível e eterna, pois é ele - o amor - que
impõe o rigor e a severidade ao pai que julga e condena, não pelo prazer de
castigar, mas tendo em vista o aperfeiçoamento e a felicidade do filho delinquente.
A sabedoria infinita desse
incomparável juiz faz com que as suas decisões sejam justas e inflexíveis,
visto que ela - a sabedoria - discrimina o que é falso e o que é verdadeiro,
não deixando, portanto, pairar dúvida alguma sobre a inocência ou
responsabilidade do culpado.
Deus julga pelos atos, tendo sempre
em vista as causas que os determinaram, sem indagar se o delinquente foi grande
ou pequeno na Terra, qual a sua posição social, quais os seus haveres, a sua
raça, o seu sangue e a sua origem. Não há privilégio e nem privilegiados; não
existem para o Juiz Universal outras atenuantes que não sejam as virtudes e os
dotes morais de que se achem ornados os que comparecem à barra do Grande
Tribunal. Não há religião, crença, culto, filosofia ou seitas que mereça as
simpatias da Indefectível Justiça: o que prevalece para Deus são as obras, os
atos de bondade, a humildade, a caridade, o amor e a piedade, a justiça e o bem
- praticados pelas almas que entram em julgamento. O que Deus quer é a verdade,
a sinceridade, a fé, o amor ao próximo, o altruísmo e a abnegação, o sacrifício
e a dedicação pelos irmãos, a elevação de sentimentos e a grandeza da alma, a
pureza e a santidade em todos os atos das criaturas, pertençam elas a esta ou
aquela religião, estejam filiadas a este ou aquele culto.
Acima de todas as crenças, de todos
os credos, de todas as filosofias, está a verdade que resulta da pureza de
todos os sentimentos reunidos, ligados pela fé, que os unifica e os condensa,
dando-lhes a forma sublime da virtude imaculada.
Existem, de certo, religiões e
filosofia que se aproximam, umas mais do que outras, da verdade, e uma deve
existir que possua a verdade completa, absoluta; mas não basta ser adepto,
crente ou professo para merecer o perdão e a misericórdia divinos. É preciso,
antes de tudo, praticar boas obras, ser justo, cumprir no mundo a lei de Deus e
jamais violar os Seus desígnios ou contrariar os princípios da Sua sublime
justiça; é preciso ser crente, mas ser também virtuoso, possuir as qualidades
morais que recomendam o homem à estima e a consideração do seu Criador. Não
basta professar um credo, filiar-se a uma seita, ser mesmo sacerdote, pastor ou
papa, para merecer da Justiça Eterna; não é suficiente ter se revestido
exteriormente com os paramentos, adornos e símbolos com os quais as religiões e
os cultos distinguem os seus sacerdotes: é necessário se revista a alma dos
símbolos puríssimos da fé, se paramente com virtudes raras, nobres e santas,
para poder receber de Deus as provas de amor que Ele dispensa aos bons e aos
justos.
Ser, pois, pastor de uma igreja, seja
ela qual for, nada influi para a salvação dos que se acham investidos de tais
funções. Antes de ser padre, pastor, vigário, bispo, cardeal ou papa, é preciso
ser bom, justo, caridoso, honesto, humilde, prudente, tolerante, complacente e
ter fé sincera, ardente e desinteressada; pregar e ensinar a verdade pura e não
sofismar nem adulterar o que é santo, puro e verdadeiro, por amor as
convivências e interesses de ordem inferior. Ser crente - mas cumpridor dos
seus deveres; ter fé - mas uma fé apoiada na razão e na virtude, na lógica e na
coerência, harmonizando os atos da vida material com os sentimentos d’alma, de
modo que entre o proceder e os sentimentos religiosos exista o mais perfeito
acordo e que a sua vida de relação, os seus costumes, os seus hábitos e o seu
procedimento na sociedade sejam o reflexo da sua fé e apresentem o cunho moral
dos princípios religiosos que o homem professar.
Não há, portanto, nenhum disparate
nem incoerência nestas revelações, absurdo algum existe em que o espírito de um
papa venha narrar perante o mundo as suas desilusões e os seus padecimentos na
vida espiritual; que venham os que foram outrora pastores, vigários e papas,
corrigir os erros por eles mesmos
praticados e destruir falsos ensinamentos e destruir falsos ensinamentos.
Nenhuma censura se pode fazer pelo fato de quererem os papas desencarnados vir
restabelecer a verdade que eles mesmos deturparam, ou pretenderem os que se
sentaram na cadeia de S. Pedro apagar os traços dos seus abusos e das suas
fraquezas, e se humilharem perante Deus e os homens, para confessar os seus
crimes e as suas misérias.
Aí tendes a justiça, a
inflexibilidade, o rigor e a severidade aliados à infinita bondade, à infinita
sabedoria e ao infinito amor do Pai, que julga e condena, mas concede aos
culpados meios para resgatarem as suas faltas, permitindo que venham eles
mesmos, de acordo com o pedido coletivo que fizeram reparar o que construíram.
Humilham-se os espíritos dos papas
para dar a Deus essa grande prova de abnegação, praticando esse sacrifício que,
longe de aviltá-los, os nobilita e engrandece perante Deus e as suas próprias
consciências! Estão hoje entre vós, homens da Terra, os grandes pastores,
antigos diretores da cristandade, os guias dos cristãos na Terra! Ei-los aqui
unidos, animados dos mais puros sentimentos de amor e caridade para com os
homens! Ei-los junto de vós, falando-vos a verdade, contando-vos as suas
decepções e os seus desgostos. Aqui estão eles, não para destruir, mas sim para
reconstruir, edificar, iluminar, esclarecer, educar, ensinar, manter e
proclamar os ensinamentos de Jesus; repetir os seus sábios conselhos, as suas
santas palavras; lembrar os seus exemplos, as suas máximas, implantar de novo a
sua doutrina.
Jesus está com eles, acompanha-os
aqui e fala pelos lábios desses espíritos regenerados; acha-se novamente entre
os homens para dar-lhes novas luzes, oferecer-lhes novos ensinamentos; pregar a
verdade que prometeu seria revelada aos homens de boa vontade. Jesus está
nestas revelações e vos contempla com o seu doce olhar, fala-vos com a sua
palavra consoladora e santa, aponta-vos o caminho com o seu braço protetor,
derrama sobre vós toda a bondade que transborda do seu imenso coração e
convida-vos a acompanhá-lo na peregrinação que vai fazendo pelo mundo. Ide com
o Mestre, ouvindo os seus conselhos e as suas prédicas, escutando a sua voz.
Ide, meus amigos e companheiros bem
amados, ide ao encontro de Jesus, ide buscar o que vos fala, o que precisais, o
que ninguém vos poderia dar senão o Filho de Deus! Ide esperá-lo, recebê-lo,
beijar-lhe a mão, receber a sua benção, esperando que a vossa fronte seja
ungida por ele! Ide ao encontro do vosso Jesus, vosso pai, vosso guia e
protetor; ide e levai convosco os vossos filhos e esposas e os vossos irmãos,
para que ele vos abençoe a todos, dando-vos a certeza e a esperança de poderdes
um dia sentar-vos ao seu lado na casa do seu Pai.
Eu vos convido a perseverar no bem, na
caridade e no amor ao vosso próximo.
Será esta a melhor maneira de agradar
ao Mestre.
Luís
Maio de 1915
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