terça-feira, 11 de junho de 2013

09. 'Revelação dos Papas' - S. Luís


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‘Revelação dos Papas’
(Obra Mediúnica)

- Comunicações d’Além Túmulo -


Publicada sob os auspícios da
União Espírita Suburbana
Rua Dias da Cruz 177, Méier

Officinas Graphicas d’A Noite
Rua do Carmo, 29
1918

Luís, o bom rei   (S. Luís)

A vidente distingue uma figura de homem moço e claro, de boa altura,
trajando vestes escuras, trazendo na cabeça uma espécie  de diadema ou coroa real.
O espírito apresenta-se circundado de luz azulada, entrecortada de raios prateados,
sendo a aparição limitada por focos verdes, entremeados de raios solferinos.
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            Venho comunicar-me também, eu que não fui papa, mas que tenho o dever de colaborar na “Revelação dos Papas”.

         Deus é um juiz severo e rigoroso, julga sem atender as consignações de ordem interior que tanto preocupam os juízes da Terra.   O Juiz Supremo procura somente indagar dos que comparecem à sua presença os motivos e causas superiores que os levaram a delinquir. Não cogita o Eterno das coisas insignificantes, pouco dignas da atenção de um juiz imparcial, reto, justo e sábio.

          Os culpados são para Deus o mesmo que as crianças para os pais que, ao julgarem os delitos cometidos pelos filhos, mostram sempre, de par com o rigor paternal, complacência e bondade excessivas na aplicação do castigo, que tem por fim, unicamente, corrigir, aperfeiçoar, encaminhar o filho para o bem e para a virtude. O pai extremoso, compenetrado da missão nobre e elevada que exerce, castiga o seu filho sem magoar, afligir ou ofender de modo bárbaro e cruel, sem humilhar aquele que é objeto dos seus cuidados, alvo dos seus carinhos e delicados afetos. O rigor pode e deve existir na brandura; a energia e a severidade paternas podem também residir na bondade e na misericórdia com que o pai julga os atos do filho que se torna culpado aos seus olhos.

          Não há, pois, quebra de nenhum dos atributos de Deus, quando o apontamos como juiz rigoroso e severo, porque a justiça não é oposta ao amor, assim como a bondade não vive em antagonismo com a severidade e o rigor do pai. A misericórdia, por sua vez, em nada contraria a inflexibilidade do juiz, porquanto a sabedoria estabelece ordem entre os atributos do Altíssimo, harmonizando-os de modo que um não anula nem interrompe a ação do outro. Todos atuam, agem de perfeito acordo, estabelecendo entre si a mais completa concordância  e absoluto equilíbrio. Justiça e amor - severidade e rigor - misericórdia e inflexibilidade - tolerância e bondade - são os grandes predicados do maior e mais sábio dos juízes.

          O perdão é consequência lógica da bondade e sabedoria no julgamento; a misericórdia é resultante da justiça e severidade com que o Supremo aprecia os erros e as faltas dos culpados. O amor é a maior força dessa justiça infalível e eterna, pois é ele - o amor - que impõe o rigor e a severidade ao pai que julga e condena, não pelo prazer de castigar, mas tendo em vista o aperfeiçoamento e a felicidade do filho delinquente.

          A sabedoria infinita desse incomparável juiz faz com que as suas decisões sejam justas e inflexíveis, visto que ela - a sabedoria - discrimina o que é falso e o que é verdadeiro, não deixando, portanto, pairar dúvida alguma sobre a inocência ou responsabilidade do culpado.

          Deus julga pelos atos, tendo sempre em vista as causas que os determinaram, sem indagar se o delinquente foi grande ou pequeno na Terra, qual a sua posição social, quais os seus haveres, a sua raça, o seu sangue e a sua origem. Não há privilégio e nem privilegiados; não existem para o Juiz Universal outras atenuantes que não sejam as virtudes e os dotes morais de que se achem ornados os que comparecem à barra do Grande Tribunal. Não há religião, crença, culto, filosofia ou seitas que mereça as simpatias da Indefectível Justiça: o que prevalece para Deus são as obras, os atos de bondade, a humildade, a caridade, o amor e a piedade, a justiça e o bem - praticados pelas almas que entram em julgamento. O que Deus quer é a verdade, a sinceridade, a fé, o amor ao próximo, o altruísmo e a abnegação, o sacrifício e a dedicação pelos irmãos, a elevação de sentimentos e a grandeza da alma, a pureza e a santidade em todos os atos das criaturas, pertençam elas a esta ou aquela religião, estejam filiadas a este ou aquele culto.

          Acima de todas as crenças, de todos os credos, de todas as filosofias, está a verdade que resulta da pureza de todos os sentimentos reunidos, ligados pela fé, que os unifica e os condensa, dando-lhes a forma sublime da virtude imaculada.

          Existem, de certo, religiões e filosofia que se aproximam, umas mais do que outras, da verdade, e uma deve existir que possua a verdade completa, absoluta; mas não basta ser adepto, crente ou professo para merecer o perdão e a misericórdia divinos. É preciso, antes de tudo, praticar boas obras, ser justo, cumprir no mundo a lei de Deus e jamais violar os Seus desígnios ou contrariar os princípios da Sua sublime justiça; é preciso ser crente, mas ser também virtuoso, possuir as qualidades morais que recomendam o homem à estima e a consideração do seu Criador. Não basta professar um credo, filiar-se a uma seita, ser mesmo sacerdote, pastor ou papa, para merecer da Justiça Eterna; não é suficiente ter se revestido exteriormente com os paramentos, adornos e símbolos com os quais as religiões e os cultos distinguem os seus sacerdotes: é necessário se revista a alma dos símbolos puríssimos da fé, se paramente com virtudes raras, nobres e santas, para poder receber de Deus as provas de amor que Ele dispensa aos bons e aos justos.

          Ser, pois, pastor de uma igreja, seja ela qual for, nada influi para a salvação dos que se acham investidos de tais funções. Antes de ser padre, pastor, vigário, bispo, cardeal ou papa, é preciso ser bom, justo, caridoso, honesto, humilde, prudente, tolerante, complacente e ter fé sincera, ardente e desinteressada; pregar e ensinar a verdade pura e não sofismar nem adulterar o que é santo, puro e verdadeiro, por amor as convivências e interesses de ordem inferior. Ser crente - mas cumpridor dos seus deveres; ter fé - mas uma fé apoiada na razão e na virtude, na lógica e na coerência, harmonizando os atos da vida material com os sentimentos d’alma, de modo que entre o proceder e os sentimentos religiosos exista o mais perfeito acordo e que a sua vida de relação, os seus costumes, os seus hábitos e o seu procedimento na sociedade sejam o reflexo da sua fé e apresentem o cunho moral dos princípios religiosos que o homem professar.

          Não há, portanto, nenhum disparate nem incoerência nestas revelações, absurdo algum existe em que o espírito de um papa venha narrar perante o mundo as suas desilusões e os seus padecimentos na vida espiritual; que venham os que foram outrora pastores, vigários e papas, corrigir os erros por  eles mesmos praticados e destruir falsos ensinamentos e destruir falsos ensinamentos. Nenhuma censura se pode fazer pelo fato de quererem os papas desencarnados vir restabelecer a verdade que eles mesmos deturparam, ou pretenderem os que se sentaram na cadeia de S. Pedro apagar os traços dos seus abusos e das suas fraquezas, e se humilharem perante Deus e os homens, para confessar os seus crimes e as suas misérias.

          Aí tendes a justiça, a inflexibilidade, o rigor e a severidade aliados à infinita bondade, à infinita sabedoria e ao infinito amor do Pai, que julga e condena, mas concede aos culpados meios para resgatarem as suas faltas, permitindo que venham eles mesmos, de acordo com o pedido coletivo que fizeram reparar o que construíram.

          Humilham-se os espíritos dos papas para dar a Deus essa grande prova de abnegação, praticando esse sacrifício que, longe de aviltá-los, os nobilita e engrandece perante Deus e as suas próprias consciências! Estão hoje entre vós, homens da Terra, os grandes pastores, antigos diretores da cristandade, os guias dos cristãos na Terra! Ei-los aqui unidos, animados dos mais puros sentimentos de amor e caridade para com os homens! Ei-los junto de vós, falando-vos a verdade, contando-vos as suas decepções e os seus desgostos. Aqui estão eles, não para destruir, mas sim para reconstruir, edificar, iluminar, esclarecer, educar, ensinar, manter e proclamar os ensinamentos de Jesus; repetir os seus sábios conselhos, as suas santas palavras; lembrar os seus exemplos, as suas máximas, implantar de novo a sua doutrina.

          Jesus está com eles, acompanha-os aqui e fala pelos lábios desses espíritos regenerados; acha-se novamente entre os homens para dar-lhes novas luzes, oferecer-lhes novos ensinamentos; pregar a verdade que prometeu seria revelada aos homens de boa vontade. Jesus está nestas revelações e vos contempla com o seu doce olhar, fala-vos com a sua palavra consoladora e santa, aponta-vos o caminho com o seu braço protetor, derrama sobre vós toda a bondade que transborda do seu imenso coração e convida-vos a acompanhá-lo na peregrinação que vai fazendo pelo mundo. Ide com o Mestre, ouvindo os seus conselhos e as suas prédicas, escutando a sua voz.

          Ide, meus amigos e companheiros bem amados, ide ao encontro de Jesus, ide buscar o que vos fala, o que precisais, o que ninguém vos poderia dar senão o Filho de Deus! Ide esperá-lo, recebê-lo, beijar-lhe a mão, receber a sua benção, esperando que a vossa fronte seja ungida por ele! Ide ao encontro do vosso Jesus, vosso pai, vosso guia e protetor; ide e levai convosco os vossos filhos e esposas e os vossos irmãos, para que ele vos abençoe a todos, dando-vos a certeza e a esperança de poderdes um dia sentar-vos ao seu lado na casa do seu Pai.

         Eu vos convido a perseverar no bem, na caridade e no amor ao vosso próximo.

         Será esta a melhor maneira de agradar ao Mestre.

Luís
Maio de 1915

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