Cartilha
Materna
Alberto Nogueira da Gama
Reformador
(FEB) Maio 1964
Na
constelação do Lar, fulge, como estrela de primeira grandeza, a presença da
mulher-mãe.
A
luz do seu olhar, despertamos para a Vida.
Ao
calor do seu hálito, aprendemos a balbuciar as primeiras palavras.
Dos
seus lábios, ouvimos cariciosas expressões de Amor.
De
suas mãos, recebemos a amenidade de ternos afagos.
De
sua voz, recolhemos doces modulações de uma alma em festa.
Ao
contato dos seus desvelos, ensaiamos os primeiros passos.
Seu
espírito de candura e fervor nos incute a ideia de Deus e o hábito da oração.
Influenciados
por seus ensinos e exemplos, formamos o nosso caráter e adquirimos uma
mentalidade própria.
Independente
dessas coisas, eu registo a mais a existência, comigo, de uma cartilha materna,
que é para mim joia de peregrina beleza.
Vejam
só como os seus ensinamentos, lapidados e fulgurantes, são de sublimada
inspiração!
Não troques o amor
velho pelo novo.
Não deixes o certo
pelo duvidoso.
Quem não se dá ao respeito,
não pode ser
respeitado.
Uma ovelha má põe um
rebanho a perder.
Quem não quer ser
lobo não lhe vista a pele.
Quem não deve, não
teme.
Quem diz o que quer,
ouve o que não quer.
Cada um dá o que tem.
Quem tudo quer saber,
mexerico quer fazer.
O saber não ocupa
lugar.
Não é por um burro
dar coices
que se lhe vai cortar
a perna.
. Nunca devemos dizer
que deste pão
não comerei e desta
água não beberei.
Quem quer faz, quem
não quer manda.
A educação cabe em
todo lugar.
O desengano das
vistas é furar os olhos.
Não cuspa no prato em
que comeu.
Não deixes para
amanhã
o que podes fazer
hoje.
Quem canta, seus
males espanta.
Quem chora, seus
males adora.
Quem a boca de meu
filho beija,
a minha adoça.
Quem ama a Beltrão,
ama a seu cão.
Pelos santos se
beijam as pedras.
Tomar conta e dar
conta do recado.
Fazer o bem sem olhar
a quem.
Junta-te aos bons e
serás um deles,
junta-te aos maus e
serás pior do que eles.
Antes sozinho que mal
acompanhado.
Quem quer amar,
rigores não impedem.
Quem tem vergonha não
envergonha.
Quem não pode com o
tempo,
não inventa moda.
Quem boa romaria faz,
em sua casa está em
paz.
As boas e as más
ficam com quem as faz.
Alma ocupada não é
tentada.
Quem boa cama fizer,
nela se deitará.
Quem diz a verdade não
merece castigo.
Quem dá o pão, dá a
educação.
Deus ajuda a quem
trabalha.
Livra-te dos males
que eu te livrarei
dos ares.
Ajuda-te e o Céu te
ajudará.
O bom julgador por si
julga os outros.
Gato ruivo do que usa
disso cuida.
Quem bem fizer, para
si é.
O pouco, com Deus, é
muito.
Deus ajuda a quem
cedo madruga.
Quem tudo quer, tudo
perde.
Quem muito fala,
muito erra.
Em boca fechada não
entra mosca.
Muito riso é sinal de
pouco siso.
Quando a cabeça não
tem juízo,
o corpo é quem paga.
Deixar a razão morrer
para o corpo poder viver.
Quem não aprende em
casa,
aprende na rua.
Primeiro a obrigação,
depois a devoção.
Quem espera em Deus,
sempre alcança.
Mãe,
pressinto que estás para partir. Teu corpo vai-se definhando aos poucos. Mas o
teu Espírito, amoroso e dedicado, fiel e leal, bom e justo, está sempre lúcido,
ativo e vigilante, querendo saber, de cada um de nós, se vamos bem de saúde, se
estamos bons como se os doentes fôssemos nós e não tu, a quem vemos de viagem
marca da para a Eternidade.
Para
mim, tu não morrerás, mãe amada de minha vida, mãe querida dos dias meus! Além
de crer-te imortal, creia-te imortalizada em mim mesmo, pensando, falando e
agindo na intimidade do meu ser, como oráculo iluminado ou anjo luminoso, cuja
imagem estará comigo em toda parte e por todo o sempre.
Quero ardentemente a tua santa companhia, hei de
desejar-te fervorosamente a divina presença, onde quer que eu esteja ou me
encontre, para que possa, um dia, vir a ser ainda o homem que tu, em tua grandeza
d’alma, sonhaste fazer de mim, e mereça, assim, a gloriosa láurea de continuar
teu filho fazendo jus à inefável bênção do Pai Celestial por me ter contemplado
com a melhor e mais completa das mães.
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