02) Espiritismo
e Mediunidade
por Indalício
Mendes
Reformador
(FEB) Março 1958
Nas
relações do mundo visível com o invisível, torna-se imperioso não perder de
vista o papel importantíssimo da mediunidade, elo que
liga os dois mundos, permitindo se estabeleça valioso intercâmbio para o desenvolvimento moral
e espiritual de encarnados e desencarnados.
Doutrinas
espiritualistas e pseudo espiritualistas não faltam ao homem na Terra. O
Espiritismo, porém, não fantasia nem se engrandece à custa de liturgias
misteriosas e enigmáticas, como também não se oculta por detrás de dogmas
absurdos, irracionais e intolerantes. Nossa Doutrina está natural e
perfeitamente integrada no pensamento do Cristo. Não sugestiona o homem com
afirmativas confusas e paradoxais. Não ensina que o homem foi redimido por
Jesus, porque todos sabemos que os fatos demonstram ainda se encontrar a
Humanidade a caminho da redenção, e que Jesus, tal como está no Evangelho,
deixou claros os meios de que o homem precisa para alcançar essa redenção,
reeducando-se, aprimorando suas qualidades morais, purificando seus
sentimentos, combatendo primeiro suas próprias inferioridades, antes de
pretender fazê-lo às de seus semelhantes. Limitemo-nos ao “Sermão da Montanha”
e veremos que ali está um admirável código de moral capaz de disciplinar o
homem, preparando-o para a salvação, através do trabalho, que não é castigo,
mas que é bênção. O Espiritismo ensina que se torna necessário o progresso
moral do indivíduo, para que este possa influir na coletividade a que
pertence, estimulando-a; levando-a a progredir incessantemente. As dores do
mundo irão diminuindo à medida que a Humanidade for evolvendo moralmente. Não
ensina o Espiritismo fique o homem inativo, à espera de milagres que o absolvam
dos erros cometidos. Assim como não há penas eternas, assim também todos
estamos subordinados à lei do progresso.
*
O
único milagre admissível está na reforma individual. O homem, terá que derrotar
seus instintos inferiores e dominá-los. Não precisa
temer as consequências de seus atos, se buscar por suas próprias mãos o aperfeiçoamento moral de
que necessita. Sujeito que está a vidas sucessivas, que são imposição do progresso, que a
lei de causa e efeito acoroçoa, colherá sempre o que semear. O Espiritismo
ensina-lhe o caminho da redenção pelo disciplinamento de sua conduta perante
seus companheiros de jornada terrena. Para auxiliar esse esforço gigantesco, a
mediunidade desempenha função essencial. Por isto, os médiuns precisam dar
muita atenção a essa faculdade, que permite o contato com o Além. Se um homem
prevenido vale por dois, segundo o anexim popular, um médium preparado vale
muito mais que vários médiuns sem base doutrinária e evangélica, sem recursos
morais para precatar-se de perigos previstos e perfeitamente esclarecidos, por
exemplo, em “O Livro dos Médiuns”, do nosso insigne Allan Kardec, assim como em
“Os Quatro Evangelhos”, de J. B. Roustaing, que nos deu magníficas lições
complementares da obra do Codificador, que permitem clara compreensão do
Espiritismo Cristão.
*
O
Espiritismo é objetivo em seus ensinamentos. Instrui, orienta, encaminha,
ampara, fortalece a posição do homem em face da vida,
porque lhe diz porque se nasce, para que se nasce, a razão do sofrimento, a razão da morte
física e a necessidade da reencarnação. Mostra como pode a criatura humana atenuar os encargos
espirituais, preparando-se hoje para um amanhã melhor, que lhe permita alcançar alegrias
puras, que não sejam apenas festas para os olhos, mas, sobretudo, festas para a alma. O Espiritismo tem elevada função pedagógica, é igualmente didático. Mostra-nos a razão da vida
terrena, o destino que podemos ter, consoante a lei cármica, de causa e efeito.
Não ilude: esclarece; não persegue: auxilia; não condena: educa; não abandona:
ampara; não repele: acarinha; não deturpa a personalidade: aprimora-a; não
estimula o egoísmo: substitui-o pelo altruísmo consciente.
*
As
ferramentas do médium capacitado de sua responsabilidade são a Doutrina
Espírita e o Evangelho segundo o Espiritismo. Estudá-los,
reestudá-los todos os dias, exercitando-se sempre na exemplificação de seus princípios, eis
o que melhor se poderá oferecer à dignificação da mediunidade. Veja o médium
quantas belezas derivam do trabalho mediúnico metódico, feito com dedicação e
amor! Não vá o médium inexperiente lançar-se a cometimentos prematuros e
inadequados ao seu grau de desenvolvimento. Dedique-se ao estudo e ao trabalho,
com menos pressa e mais devotamento e assiduidade. Dentro de pouco tempo
colherá os frutos da semeadura inteligente. Em “O Livro dos Médiuns” está o
roteiro completo, que permite avançar com segurança através da mediunidade. A
preocupação deve ser sempre esta: SERVIR e nunca pretender maravilhar. Nada
deve ser forçado; tudo deve obedecer a um plano metódico de trabalho, sob a
supervisão de experimentado diretor de serviços mediúnicos, em dia com a
Doutrina e familiarizado com o Evangelho.
*
Sem
dúvida, há e pode continuar havendo médiuns sem preparação doutrinária e
evangélica, para os quais surpresas desagradáveis podem estar reservadas, se
sua linha de conduta não coincidir com aquelas determinadas na Doutrina
Espírita e no Evangelho. Muitas vezes o médium sem orientação nem apoio
doutrinário e evangélico acaba por ceder a injunções das trevas e acabará por
se ver arrastado a complicações difíceis de destruir, arrastando na desventura
os que se entregarem cegamente ao seu arbítrio. O médium consciente de seus
deveres morais não anda separado da Doutrina e do Evangelho. Reaprende todos os
dias as lições que a vida nos dá, buscando condicioná-las aos imperativos
doutrinários e transmitir a outrem os frutos da experiência cotidiana.
Precisamos tanto da Doutrina Espírita e do Evangelho segundo o Espiritismo,
como do ar que respiramos. Este é imprescindível à nossa sobrevivência física;
aqueles, à nossa sobrevivência moral.
*
Para
combater os erros, temos os recursos da Doutrina e do Evangelho, que nos
permitem corrigi-los sem ódios nem prevenções. Preguemos e propaguemos, mais do
que nunca, em todos os lugares e de todas as formas, principalmente pela
exemplificação leal e diária, o Espiritismo de acordo com as determinações
doutrinárias e evangélicas, sem jamais esquecermos de que “fora da Caridade não
há salvação”. E a caridade não se resume apenas no óbolo entregue ao mendigo
que sofre a sua provação, pois se estende a todos os pensamentos e atos. Tanto
pode estar representada na palavra falada e escrita, como nas atitudes de todos
os momentos. Tolerância não quer dizer conivência, assim como bondade não
significa passividade ante o mal. A tolerância tem de ser ativa: ao exercê-la,
devemos apontar ao que dela se beneficia o caminho da reabilitação. A bondade não
nos manda fechar os olhos ao mal. Diz-nos que os abramos mais para podermos
vencer o mal e seus efeitos com a assistência moral, os conselhos oportunos, a
energia temperada de amor, mas não debilitada pela incompreensão. Jamais a
violência deve tisnar o pensamento ou o ato do verdadeiro espírita. Para
demonstrar nossa caridade pelos que nos atacam ou perseguem, também pelos que
se prevalecem da nossa tolerância para incursões sorrateiras e lamentáveis à
nossa seara, temos que proceder evangelicamente. Como temos fé, oramos; como
temos esperança de que os desviados e transviados de hoje um dia estarão
conosco, oramos; como temos caridade para quantos tentam trair-nos a confiança
ou ferir-nos desapiedadamente, oramos. E orando cumpriremos também um dever doutrinário
e, sobretudo, um dever evangélico.
*
Em
tão grande obra de expansão do Espiritismo, a tarefa dos médiuns sobreleva de
importância, e eles, como vanguardeiros do trabalho de ligação entre o mundo
visível e o mundo invisível, estão sempre convocados para as experiências mais
sérias e de maiores consequências.
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