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quarta-feira, 12 de junho de 2013

10a. 'Revelação dos Papas' - Leão I


10a

‘Revelação dos Papas’
(Obra Mediúnica)

- Comunicações d’Além Túmulo -


Publicada sob os auspícios da
União Espírita Suburbana
Rua Dias da Cruz 177, Méier

Officinas Graphicas d’A Noite
Rua do Carmo, 29
1918

Leão I ,  papa

Um homem alto de rosto cheio, vestindo túnica de rendas e trazendo à cabeça um grande resplendor,
é distinguido, entre outros espíritos que o cercam, pelo médium vidente.

________________

        
          Compareço hoje perante o grande tribunal da cristandade para responder pelos erros e faltas que cometi durante o meu pontificado.

          Leão I, papa e cristão, que se dizia outrora devotado cultor da fé e dos ensinamentos do Cristo, vem trazer-vos, o seu depoimento contra os seus próprios atos.

          Tem a consciência aberta como um livro, onde podeis ler tudo quanto nela se contém escrito e que os anos e os séculos não puderam apagar; a sua alma, neste instante, curva-se perante Deus e agradece a graça e o favor que lhe foram concedidos, permitindo-lhe comunicar-se com os homens e diante deles penitenciar-se das suas fraquezas e dos seus desvios no desempenho do elevado cargo que exerceu na Terra. Sente-se feliz o papa, que ora se declara culpado e arrependido de haver falseado os santos princípios e as sábias lições recebidas do Calvário, de ter concorrido para o ofuscamento da luz que jorrou do alto da cruz sobre a cristandade, sequiosa da verdade, ansiosa, ascender para a perfeição e atingir o seu glorioso e imortal destino.

          Vem o mais obscuro dos representantes do Cristo na Terra pedir o vosso perdão, a vossa benevolência para as suas faltas e culpas, rogando-vos também a piedade e o conforto da vossa caridade para as suas fraquezas e os seus atos de impiedade e orgulho.

           Eu vos contarei a minha vida de papa sem ocultar nada do que fiz, sem omitir uma falta, um pecado, um erro, uma apostasia, uma fraude, uma miséria, enfim, narrarei diante dos homens todas as minhas leviandades, todas as minhas vilanias e todas as minhas crueldades.

          Não sou mais da Terra, não pertenço ao mundo das ilusões, dos sonhos e das fantasias; vivo a vida eterna dos espíritos; pertenço ao número dos que já não tem interesses de ordem inferior e material e, por isso, colocam a verdade acima de todas as coisas; não temo proferi-la, ainda contra mim mesmo, para condenar-me, humilhar-me perante aos cristãos.
                                         
          Fui um papa criminoso. Pratiquei atos que não se coadunavam com a nobreza e elevação moral do cargo que exerci entre vós.

          Cometi erros que nenhum homem de estado, quer leigo, quer religioso, deve praticar.

          Sou, portanto, culpado e responsável também pelo caminho que tem seguido a cristandade. 

          Errei desde o começo do meu pontificado, desde o início do meu reinado religioso, inaugurando um governo despótico e absoluto, não trepidando em dilapidar as consciências, em prostituir caracteres, aviltar sentimentos e perverter costumes, implantar abusos, fomentar crimes, acorçoar discórdias e atear guerra no seio da cristandade, contribuindo, assim, para o descrédito e desrespeito daquilo que eu tinha o direito de defender e fazer respeitar, ainda mesmo empregando a força material.

          Fui um mal papa e um péssimo cristão. Duvidei da verdade ensinada por Jesus; descri na justiça de Deus, na qual devia ter confiado, quando mais não fosse, para exemplo dos que rodeavam. Fui um grande gozador das honras e prerrogativas que a investidura papal dá aos que tomam sobre si a árdua tarefa de dirigir o mundo cristão. Sacrifiquei direitos, calquei com os pés o que antecessores meus edificaram com as mãos. Aviltei o culto cristão, permitindo que aí se introduzissem práticas e fórmulas de outros ritos condenados pela Igreja, repudiados pelos doutores desta. Falsifiquei documentos, violei as leis sagradas, consentindo a presença, no templo de S. Pedro, de pessoas cuja vida moral as incompatibilizava com a pureza e a moralidade do cargo que eu exercia.

          Coloquei os maus elementos dominantes na época em contato com as coisas sagradas e comprometi a fé cristã, deixando que falsos sacerdotes assumissem a direção de institutos religiosos e ali profanassem a lei de Deus, cometendo abusos e violências, verdadeiros atentados contra a fé, a moral e a religião de Jesus Cristo.

          Pratiquei atos de puro orgulho e de requintada vaidade, dando honras e galardões a quem não os merecia, somente porque essas criaturas podiam e sabiam alimentar a minha vaidade e exaltar o meu orgulho.

          Criei em torno de mim uma atmosfera de ambições, vaidades e falsos orgulhos e da mais desenfreada corrupção.

          Não me preocupei com outra coisa que não fosse a satisfação de apetites brutais e desejos venais e da mais franca dissolução. Arrogue-me direitos e poderes que não devia possuir sem quebra da minha dignidade pessoa e da instituição da qual era o chefe supremo.

          Fui ao extremo dos abusos e violações, entreguei-me apaixonadamente aos prazeres e desregramentos maiores, à vida sensual e criminosa dos ímpios e pagãos.

          Contrariei as leis cristãs, infligindo castigos desunamos àqueles que me contrariavam os caprichos, procurando sustar a fúria das paixões que me dominavam, dos maus instintos que eu acalentava na alma, onde os afagava com o mesmo carinho com que as mães acariciavam os filhinhos que trazem no regaço.

          Fui depredador e padrasto da cristandade, por cuja felicidade nada fiz. Corrompi os costumes políticos, depravei e abastardei as consciências, barateei os caracteres, manchei as mãos com o sangue generoso de adversários, aos quais fiz eliminar pela gente assalariada do Vaticano, incumbida de executar as minhas ordens, ainda mesmo as mais absurdas e criminosas.

          Desforrei-me sempre que pude dos meus inimigos, muito dos quais foram por mim desterrados e perseguidos até no seio da família, onde a minha cólera ia buscá-los.

          Provoquei lutas entre os Estados que então formavam a Itália, influindo para que muitos soberanos fossem apeados dos seus cargos. Animei revoltas, aliciei elementos para guerrear o que me degradava e embaraçava a realização dos meus desejos.

          Comunguei com os perturbados e causadores das grandes desordens que abalaram a Europa no tempo em que pontifiquei. Assumi a chefia da igreja cercado das simpatias gerais dos que depositavam na minha gestão todas as esperanças da justiça e de reformas úteis e liberais. Levei a descrença a todos os corações e implantei a desconfiança em todas as almas.

          Substitui a cordura e a calma pela violência e o despotismo; transformei a ação papal em espada de dois gumes: um que feria o adversário e outro que magoava aquele que desferia o golpe. Impus silêncio aos que procuravam pensar livremente, raciocinar, pensando à luz da razão de acordo com a verdade natural que se patenteia no fundo de todas as coisas; sacrifiquei interesses do Cristianismo à cupidez e voracidade, à gula desenfreada que me não deixava saciar de uma só vez todos os maus apetites. Fui a um só tempo déspota e traiçoeiro, falso e prevaricador, dissimulado e sagaz, crente e apóstata, orgulhoso e humilde, conforme os interesses da ocasião ditavam a atitude que devia assumir; autoritário com os fracos, dissimulado e manhoso com os fortes; violento com os que mostravam temer as minhas investidas, brando e calculadamente atencioso com os que possuíam algum poder, os que enfeixavam nas mãos o prestígio e a força.
         

            Não mostrava as minhas garras, senão quando bem seguro da fraqueza e pusilanimidade do adversário, tendo, portanto, a certeza de poder esmagá-lo.

          Não posso narrar minuciosamente todos os pequenos fatos desse funesto pontificado, cujas linhas gerais deixo traçadas, sem, entretanto ter olvidado nenhuma circunstância denunciante da minha culpabilidade, sem omitir nenhum traço cuja ausência pudesse diminuir a minha responsabilidade.

          Apontei-me criminoso sob todos os pontos de vista; acusei-me de todos os erros e crimes que pratiquei, embora sem entrar em minúcias que tirariam a grandeza desta “Revelação”. Fui aqui juiz de mim mesmo, acusando-me, condenando-me publicamente perante Deus e os homens.

          Já vos falei do homem, agora quero falar-vos do espírito desencarnado, da alma sofredora, das suas reencarnações, da sua evolução através dos tempos, para chegar a ser o que hoje é; espírito lúcido e feliz.

-continua-


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