Leão 1 e Átila
10b
‘Revelação dos Papas’
(Obra Mediúnica)
- Comunicações d’Além Túmulo -
Publicada sob os auspícios da
União Espírita Suburbana
Rua Dias da Cruz 177, Méier
Officinas Graphicas d’A
Noite
Rua
do Carmo, 29
1918
-continuação-
Leão I , papa
A morte trouxe-me muitas
perturbações, aflições e lágrimas.
Logo ao desencarnar, achei-me, em
trevas tão densas que me fizeram chorar amargamente a minha desdita, sem ouvir
ali, no meio do horror, uma voz que me consolasse, isto durante um tempo que
não posso medir nem calcular, pois, como sabeis, no espaço, onde ficam as almas
sofredoras, suportando os horrores das trevas, não existe tempo, o que faz
parecer eterno o sofrimento; por isso é que não vos posso precisar a duração do
meu tormento.
Ali fiquei nessa situação dolorosa,
nesse desespero que não vos posso descrever; ali permaneci sem ter noção do que
se passava no mundo; era como se houvesse para sempre mergulhado no fundo de um
abismo, onde todas as esperanças, todos os ideais, todas as aparições, todos os
desejos e todos os sentimentos tivessem também apagado para sempre.
Caminhava sem rumo, sem norte, pois
tanto fazia marchar para frente, recuar ou deslizar para a esquerda ou para a
direita, nada alterava, era sempre a mesma a minha situação.
Era um caminho sem saída, um problema
sem solução.
Para variar tinha apenas uma coisa,
única: a visão constante dos meus erros, dos meus crimes e das minhas torpezas.
As minhas vítimas eram as únicas
almas que me visitavam no meio desse desespero, e vinham somente para agravar a
minha situação, aumentar o meu martírio.
Chorava copiosamente, implorava que
me arrancassem daquele lugar, me furtassem a essa escuridão maldita que tanto
me fazia sofrer! Gritava e, de tanto gritar e imprecar, sentia-me fatigado e
caia em delíquio que, por instantes, me fazia esquecer o sofrimento e as dores
que me atormentavam. Assim continuei; assim vivi sem poder encontrar alívio
para o meu desespero.
Comecei depois de muito sofrer, a
recordar-me das palavras de Jesus e repeti-las constantemente.
Sentia então um grande e indefinido
prazer em recordar certos atos bons que praticara, e um desejo ardente de orar,
de penitenciar-me, começou a invadir minha alma.
Orei de fato, e com fervor.
Comecei a sentir os efeitos que a
prece sincera de arrependimento, que fazia, ia produzindo em torno de mim,
aliviando-me, tornando menos densa a treva, permitindo-me avistar, embora a
furto, os famosos semblantes do espírito guia, dos protetores e amigos, que
ansiavam por me verem liberto e arrependido das minhas culpas.
O meu fervor aumentava, progredia,
avolumava-se, e uma alegria, um gozo que não posso definir, começou a
substituir o desespero e a aflição em que me achava e que me pareciam eternos.
A prece e o arrependimento me deram
paz e sossego, e pude recuperar luz para o meu pobre espírito; aos poucos,
achei-me em plena claridade, cercando dos espíritos que me procuravam confortar
com os conselhos e explicações que vinham trazer por ordem superior e que eu
aceitava com viva satisfação, ouvindo-os com desmedido interesse.
Foi uma aurora que rompeu para mim,
um novo dia que raiou para o meu espírito; foi o começo de uma nova era, na
qual entrou minha alma alegre e satisfeita!
Vi daí por diante todas as coisas
espirituais por um prisma muito diverso daquele pelo qual as encarava em vida.
Compreendi quanto fora culpado, toda
a grandeza da responsabilidade que pesara sobre mim, senti-me enfastiado,
aborrecido, enojado desse passado negro, dessa vida inútil, na qual eu só
procurava comprometer o meu espírito, lançando-o no horror das trevas que me
envolveram logo após a morte.
Direis vós: - estivestes então no
inferno a sofrer todos esses tormentos? Eu vos responderei: - não; o inferno
não existe, jamais existiu, jamais existirá; estive dentro da minha consciência,
esse abismo onde fui mergulhado e de onde dificilmente saí: era ela a minha
própria consciência envolta nas trevas criadas pelos meus erros, formadas pelos
meus crimes, acumuladas aí pelas minhas torpezas. Foi a minha própria
consciência que me castigou; foi aí que encontrei o inferno e as torturas
atrozes que suportei.
O inferno não existe, assim como
também não existe o céu.
O que há no mundo dos espíritos são
consciências - sombrias umas, luminosas, radiantes da claridades eternas
outras: aí tendes o inferno e o céu.
Abandonai essa crença retrógrada;
convencei-vos de que vós mesmos podeis criar o vosso céu ou construir o vosso
inferno, e, um dia, haveis de sofrer os horrores das trevas que fordes, desde
já, condensando desde hoje, ou gozar os encantos e doçuras do céu que ides,
desde hoje, construindo com a prática do bem e da caridade, com as virtudes que
cultivardes na vida terrena.
Eu vos recomendo cuidado, firmeza,
honestidade, fé, tolerância, caridade, justiça, amor ao próximo, abnegação e
sacrifício por tudo que é nobre e santo, respeito às leis de Deus, zelo pelas
coisas sagradas e desprendimento do bens e gozos terrenos, pois não são eles os
únicos que existem.
Aconselho que vos prepareis para a
vida de amanhã, gloriosa e eterna, para a vida espiritual, onde são felizes
unicamente os que na Terra cumprem o seu dever sacrificando-se pelo bem, pela
verdade, pela justiça e pelo amor.
Sejam as minhas palavras um aviso, o
toque de rebate nas fileiras cristãs, para que fiquem a postos, alerta, a fim
de poderem enfrentar os inimigos da alma, que hão de procurar conduzindo-vos
para o caminho do mal, da desgraça, da ruína e das trevas.
Que possais resistir às tentações e
ao apelo constante da maldade, do crime e do pecado, são os desejos de
Leão I , papa
Setembro de 1915
Informações complementares...
Leão I -
Foi papa de 29/09/440 até 10/11/461.
44º papa na contagem da igreja de Roma, contagem essa que exclui os
antipapas. Considerado o mais notável papa da igreja primitiva, segundo
avaliação da própria igreja de Roma. Enfatizou a identidade do papado com
Pedro. Escreveu longas missivas de admoestação aos bispos da África, da Gália e
da Itália, combatendo heresias. Quando Hilário de Arles excedeu seus limites,
assumindo poderes patriarcais nos bispado da Gália, ele o confinou em sua
própria diocese. Mobilizou o imperador do ocidente para que reconhecesse
formalmente a jurisdição papal sobre todas as igrejas ocidentais. Tomou
drásticas medidas contra os maniqueus. Organizou os bispos da Espanha contra a
heresia priscialianista. Censurou Anastácio, bispo de Tessalonica afirmando que
ele não tinha o plenitudo potestatis (plenos poderes), prerrogativa do papa de
Roma e de Leão I. Disse ele: ”se não observarmos a vigilância de que fomos
incumbidos, não teremos como nos desculpar perante aquele que nos quis
sentinelas.” Em 431, em Éfeso, afirmou a
divindade de Cristo, declarando que Maria não era simplesmente a mãe de Jesus
mas a ‘Mãe de Deus’. Escreveu um tratado dizendo que Jesus tinha duas
naturezas: a humana e a divina, unidas em uma só pessoa.
Roma – que já sofrera diversos
ataques dos chamados bárbaros do norte – teve em Leão I um interlocutor válido.
Entendeu-se com Átila, o Huno, em 452, conseguindo que seus exércitos
retrocedessem sem saquear Roma. Já em 455, Genserico, o Vândalo, saqueia Roma
abstendo-se, porém, de incendiá-la, ainda a pedido do papa Leão I.
Fonte: ‘Santos e
Pecadores’ por Eamon Duffy (Ed. Cosac & Naify 1998)
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