12a
‘Revelação dos Papas’
(Obra Mediúnica)
- Comunicações d’Além Túmulo -
Publicada sob os auspícios da
União Espírita Suburbana
Rua Dias da Cruz 177, Méier
Officinas Graphicas d’A
Noite
Rua
do Carmo, 29
1918
Martinho Lutero
O médium vê uma
grande massa de luz, tendo a altura de um homem
e formada por feixes
de raios luminosos –
brancos, verdes, azuis, roxos e solferinos aveludados.
brancos, verdes, azuis, roxos e solferinos aveludados.
O médium distingue
vagamente, no meio dessa luz intensa que lhe faz doer a vista,
o vulto apagado do
espírito que diz ser Martinho Lutero
_______________________
Aqui está Martinho Lutero, meus
amigos e irmãos amados; aqui está o espírito daquele que no mundo deu provas de
amor à verdade ensinada por Jesus Cristo, combatendo o erro e a mentira,
defendendo a liberdade de consciência e de exame; mas está também a alma
daquele que praticou atos de orgulho, deu provas de ambição de glória e de
renome! Tendes diante de vós este espírito que não soube salvar a humanidade,
que não teve a verdadeira compreensão da sua missão na Terra, deixando-se
arrastar pela sede de glória, ambição de domínio, governar os homens, destruir
o que existia, para implantar o que só servia para satisfação dos seus desejos
e intentos demolidores.
Venho perante vós, homens da Terra,
confessar os meus erros e as minhas fraquezas como chefe do movimento liberal
que se operou no mundo, onde até então reinara o despotismo e a tirania
espirituais, expresso na fórmula — “Crê ou morre”, arma terrível de que se
serviam os chefes espirituais, os diretores das consciências de então.
Fui inimigo implacável dos abusos e
contravenções praticados em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Combati as aberrações filosóficas do
meu tempo, os sofismas e as falsidades apregoadas em nome de Deus e de Jesus.
Lutei pela moral, pela razão, pela
verdade e pela liberdade das consciências oprimidas sob o jugo ferrenho do
romanismo dissoluto e impiedoso.
Sacrifiquei as minhas aspirações
políticas ao ideal religioso pelo qual lutei com as armas de que dispunha
naquela época: a palavra, a lógica, o raciocínio, a razão e o Evangelho, que
era constantemente violado pelos que tinham interesse em manter oculta a
verdade e o espírito das leis estabelecidas por Nosso Senhor Jesus Cristo nesse
código sublime, nesse estatuto pelo qual se regulava, ainda se regula e se
regulará para todo o sempre a humanidade terrena - o evangelho de Jesus.
Combati energicamente as explorações
e os embustes dos que preferiam mentir a manter o brilho de uma verdade
superior, grandíloqua porque, para sustentar essa verdade luminosa, era de
mister despojarem-se do orgulho e da vaidade, sacrificando ao mesmo tempo, a
essa verdade sublime, interesses, ambições, conveniências, gozos, prazeres,
pompas, riquezas, caprichos e volúpias criminosas.
Para proclamar e defender a verdade
contida no Evangelho era preciso o sacrifício e a renúncia dos bens e gozos
terrenos, das posições elevadas, das honras e distinções que o mundo confere àqueles
que subordinam a felicidade e as alegrias celestes aos prazeres e doçuras da
vida material, as delícias e gozos da Terra.
Combati, sem tréguas, em favor da fé
apoiada na razão; preguei o livre exame, a liberdade de pensar e de agir em
matéria religiosa.
Discuti e contestei a infalibilidade
do que era falível e mortal e portanto indigno de ornar-se com os atributos
pertencentes exclusivamente à Divindade.
Neguei o que era criação dos homens,
fruto da sua imaginação excitada por desejos insaciáveis, pela ambição de gozo
material e preocupação de desfrutar as delícias da carne.
Procurei apagar o que fora escrito
unicamente para ser interpretado pelos interessados em arrastar a humanidade
para o caminho da idolatria, dos cultos exteriores, ridículos e indecorosos,
até das grotescas exibições de cenas primitivas dos antigos cultos pagãos.
Condenei as fórmulas e rituais
tomados de empréstimo a outros cultos, símbolos de outras Igrejas, cerimônias
características de povos menos cultos que os do ocidente, aos quais foram
adaptadas essas pompas.
Suprimi tudo que pudesse falar ao
egoísmo humano ou despertar a cobiça e a vaidade do homem; simplifiquei,
reduzi, limitei, restringi as grandezas e pompas eclesiásticas.
Disputei para todos os cultos o
direito de serem considerados divinos, podendo a investidura sacerdotal ser
dada àquele dos fieis que, pelas suas visões e méritos, se mostrasse digno de
dirigir os trabalhos do culto de Deus.
Aboli a casta sacerdotal, abolindo
também hierarquias inúteis, categorias, cargos, títulos, ordens honoríficas,
dignidades e nobrezas pontifícias.
Consolidei, organizei os ensinos
evangélicos; estabeleci novas praxes e costumes que me pareceu conveniente
criar em substituição dos existentes, cheios de lacunas, falhos, quase sempre,
do espírito cristão.
Proclamei a inutilidade dos dogmas e
a incapacidade dos seus criadores para decidirem questões que só a Deus competia
resolver.
Neguei os falsos santos e as
ilegítimas distinções conferidas aos seus próprios instituidores, as
beatificações de amigos e parentes, as canonizações em vida e também post mortem.
Impugnei as concessões criminosas
feitas aos nobres, senhores e reis a troco de honras profanas, por estes
últimos concedidas aos chefes espirituais que disputavam tais honrarias,
sacrificando interesses religiosos, prejudicando a causa da fé e a religião de
Jesus Cristo.
Abri um novo caminho, nova estrada,
edifiquei uma nova Igreja mais de acordo com as aspirações do momento que o
mundo atravessava. Tracei uma rota pela qual a humanidade se condizia
diretamente ao seio de Deus e aos braços de Jesus; acendi uma luz mais
brilhante, mais viva, no caminho do homem; coloquei a moral acima de todas as
conveniências e de todos os interesses, o Evangelho ao alcance de todos, os
ensinamentos de Jesus em todos os lábios, a sabedoria divina em todas as bocas,
a fé em todos os corações, a verdade em todas as consciências.
Criei nova ordem moral e religiosa,
alarguei os horizontes cristãos, libertei as consciências do cesarismo
religioso, realizei o que fora sonhado por outros espíritos que não logravam
iniciar esse movimento benéfico e salutar, que trouxe, em parte, mais luz para
os espíritos abatidos, humilhados perante o absolutismo romano.
Estou fazendo sumariamente a resenha
dos meus atos e ações no campo puramente religioso, onde, de fato, a minha ação
foi até certo ponto benéfica; mas devo também mostrar-vos como foi perniciosa
essa mesma ação no ponto de vista social e político.
-continua-
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