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‘Revelação dos Papas’
(Obra Mediúnica)
- Comunicações d’Além Túmulo -
Publicada sob os auspícios da
União Espírita Suburbana
Rua Dias da Cruz 177, Méier
Officinas Graphicas d’A
Noite
Rua
do Carmo, 29 1918
Agostinho (S.)
O Espírito mostra-se
ao médium vidente cercado de luz branca,
prateada, em torno
da cabeça uma espécie de resplendor,
que se desdobra em raios verdes, muito
brilhantes, limitando a aparição.
A irradiação
luminosa não permite ao médium distinguir os traços fisionômicos do espírito.
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Estou neste momento
na superfície da Terra amada, onde me converti e onde cumpri uma das minhas
provações, e o que me traz aqui é ainda o amor, o grande amor que sempre vos
dediquei. Hoje, porém, tenho mais alguma coisa para oferecer-vos, venho dar-vos
mais um pouco do que vos dei outrora.
Não me sinto constrangido ao
dizer-vos que muito tenho aprendido, muito hei adquirido depois que parti
dentre vós para o mundo da luz; sou agora mais completo, mais instruído, mais
certo do que digo e afirmo, porque hoje a luz divina tocou diretamente a minha
razão e pude já compreender o que, até então, apenas vagamente podia entender e
definir. Não tenho mais dúvida alguma que me atormente nem ponha em sobressalto
o meu espírito.
Venho, por isso, trazer-vos a verdade,
mas verdade sólida, vigorosa e sã, que resistirá a todos os embates,
sobreviverá a todos os cataclismos - verdade que jamais será confundida, jamais
será destruída; venho dizer-vos o que outrora não pude asseverar com a exatidão
e a certeza absoluta com que faço agora.
Se quiserdes aceitar o que vos trago,
se vos dispuserdes a receber e guardar no vosso coração, no fundo da vossa
alma, este punhado de sementes que venho lançar no vosso planeta, muito feliz
me sentirei, abençoando esta hora, que será talvez a mais bendita e a mais
santa de toda a minha vida, quer material, quer espiritual. Se vos resolverdes,
pois, a aceitar o que vos trago, terei tão grande contentamento que de novo
voltarei a ensinar-vos, de novo aqui virei oferecer-vos outras dádivas, outras
sementes que espalharei nos vossos corações.
Deus é vosso Pai e vós sois Seus
filhos bem amados, e todo o pai que ama sincera e carinhosamente os seus filhos
não os esquece nunca, e quanto mais penosa, quanto mais triste é a sua
situação, quanto maiores são os defeitos deles, mais o pai extremoso aumenta o
seu afeto, multiplica o seu carinho e mais solícitos são os cuidados que
dispensa a esses filhos diletos e estremecidos. É por isso que posso vir até
aqui distrair-me um pouco convosco, dedicar-vos alguns instantes da minha vida
espiritual; é o amor que Deus vos consagra que me impele para o vosso meio. Ele
me disse: “- Eles precisam de luz, portanto, vai lá e dá a esses pobres um
pouco de que te dei”, e eu, obedecendo à vossa vontade eterna, aqui estou para
vos dizer o seguinte:
“Não vos iludais, não vos deixeis
vencer pelas delicias da vida material; gozai essa vida, mas não vos esqueças
de que ela não é a única e verdadeira vida. É preciso ir, desde já, preparando
o dia de amanhã, é mister, desde hoje, pensar no que vos espera quando
fechardes os olhos na Terra, para abri-los no mundo espiritual.
Não vos enganeis a vós mesmos. A morte
é fatal, quando menos esperardes ela vos baterá à porta; e ficai sabendo que os
que não se preocupam senão com a matéria, com os gozos efêmeros do mundo e com
os atrativos da vida material, um dia terão de se arrepender, quando virem, no
mundo dos espíritos, aqueles que na Terra não se esqueceram dos seus deveres
espirituais receberem o prêmio das suas virtudes, da sua fé e das suas boas
obras. Vós que vos comprazeis com os vãos sentimentos egoísticos, que só vos
sentis felizes quando vos engolfais nos prazeres sensuais, nas orgias da carne,
na volúpia brutal dos desejos pecaminosos,
que procurais apenas viver hoje, sem vos preocupardes com a vida de amanhã -
muito haveis de sofrer na hora em que o vosso espírito se desprender desse
corpo a que estais apegados e cujas necessidades buscais satisfazer a todo
momento, esquecendo-vos de que não sois apenas matéria, que o verdadeiro homem
encerrado no vosso corpo é o espírito, que não morrerá jamais, que viverá
eternamente para assumir a responsabilidade de tudo quanto fizerdes de bem e de
mal.
Muito tristes serão os vossos dias no
mundo dos espíritos, meus irmãos e amigos queridos, muitas lágrimas haveis de
derramar, muitas dores haveis de curtir; muitos desesperos irromperão do fundo
da vossa alma, se não vos precaverdes desde já, estudando, meditando, ouvindo
os conselhos, aproveitando os ensinamentos que vos estão sendo dados pelos que
já se acham no mundo da verdade.
Tende fé e confiança em Deus, que
existe - eu vo-lo afirmo, e não vos deixeis arrastar por falsas teorias, por
doutrinas extravagantes, nascidas do orgulho e da rebeldia, do despeito e da
ambição dos seus fundadores.
Muitos desses pregadores de doutrinas
negativas da verdade vós vireis encontrar aqui humilhados, abatidos,
arrependidos, implorados, a cada passo, o perdão, a misericórdia divina para o
mal que vos fizeram, lançando o terrível veneno da descrença no fundo da vossa
alma. Eles aqui estão e daqui contemplam
o mal que fizeram. Todas as faltas que cometeis, todos os erros que praticais,
influenciados por essas nocivas doutrinas, refletem sobre eles; imaginai o seu
sofrimento e o seu desespero!
Há uma só verdade, assim como também
há um só Deus e uma só justiça! Não vos iludais, portanto.
O mérito está em crer e não em descrer,
mas crer no que é digno de fé, no que deve merecer a atenção de todo o homem
digno e sensato, que procura apoiar a sua fé na razão e na lógica dos fatos. É
preciso ter fé, mas é necessário também que a vossa fé seja racional, nascida
da observação, do estudo e meditação sobre a natureza dos fenômenos que vos
cercam.
Não consistais que vos imponham
dogmas, que procurem limitar o vosso raciocínio ou pretendam confundir a vossa
razão; estudai, procurai observar, vós mesmos, os fenômenos que estão se
desdobrando diante de vós, ao alcance de todos, e podereis experimentar e
certificar-vos da verdade, sem que, para isso, seja preciso vos sacrificardes.
Não vos entregueis à inércia e ao
ceticismo; trabalhai pelo vosso progresso espiritual.
Não duvideis do que estais lendo,
pois muitos de vós, que escarneceis, são magníficos médiuns e, se quiserem,
poderão produzir maravilhas e também concorrer para o progresso e avanço do
mundo. Não há em tudo quanto ides lendo nenhuma mistificação, porque Deus não
consentiria que, em seu nome, fosses ditas e escritas por um mistificador estas
palavras que tendes sob os olhos.
Não vos deixeis enganar pelos falsos
doutores, que, apenas querendo viver, da verdade e da razão de ser das coisas
nada sabem. É preciso fugir, fechar os olhos, tapar os ouvidos, voltar as
costas a essas sereias, que procuram vos seduzir com o seu canto melodioso;
fugi, evitai a companhia dos orgulhosos, dos falsos, dos hipócritas e dos
soberbos; desconfiai dos que se dizem conhecedores de tudo que existe, quando,
coitados! Ignoram até como nasceram, de onde vieram e para onde vão.
Abandonai a cobiça desenfreada,
sufocai as ambições desmedidas, contentai-vos sempre com o que vos couber por
sorte, e não busqueis alcançar o que não poderdes possuir; reduzi as vossas
aspirações, certos de que tudo quanto se consegue na vida é porque se merece e
não provém unicamente do esforço próprio. Deus é quem sabe porque um tem mais e
o outro menos, e vós não podeis julgar dos atos da Infalível Sabedoria: o que
se dá tem razão de ser.
Nunca vos revolteis contra os
desígnios eternos, jamais blasfemeis contra as vicissitudes que vos atingirem;
deixai que digam ser obra do acaso tudo quanto existe, tudo quanto ocorrer no
mundo. Não acompanheis esta opinião, procurai orientar-vos, instruir-vos,
aperfeiçoando as vossas faculdades intelectuais e desenvolvendo os vossos
sentimentos morais, as virtudes e as qualidades que distinguem e diferençam o
homem do bruto e da fera.
Sede bons, piedosos, tolerantes,
prudentes e humildes. Quando vos digo humildes, não aconselho que vos avilteis,
mas recomendo-vos que vos desembaraceis do orgulho, da virtude, da vaidade e do
amor próprio, que levam o home à pratica de erros e crimes hediondos, conduzindo-o
a exercer despotismo e tirania contra os seus semelhantes.
Evitai, quando puderdes, a calunia, a
difamação, o enxovalhamento do vosso semelhante, lembrando-vos sempre que sois
também defeituosos e talvez mais do que aqueles a quem censurais; não vos
esqueçais de que sois irmãos e, por isso, deveis vos ajudar mutuamente. Não
pratiqueis nenhum ato que possa magoar a quem quer que seja; não façais a
outrem o que não desejareis que vos fizessem também. Que a vossa boca não se
abra para acusar, mas sim para perdoar, e, quando tiverdes de acusar alguém,
preferi antes acusar-vos a vós mesmos, perante Deus e a vossa consciência.
Não confundais nunca a justiça com a
vingança ou a crueldade, porque esses dois sentimentos são antagônicos, não se
harmonizam: - justiça é dar a outrem o que merece, é por as coisas dentro da
ordem natural, é colocá-las no seu lugar: - vingança é a infração da justiça, é
a desordem, a violação da lei eterna. “Não
julgueis para não serdes julgados.”
O homem que se vinga arvora-se em
juiz, sobrepõe-se à Justiça Eterna, ao Juiz Supremo, o único que pode julgar;
não violeis, portanto, a lei, procurai, ao contrário, mantê-la, respeitá-la,
acatá-la, impedindo que outros a violem.
Sede caridosos, mas lembrai-vos que a
caridade não se harmoniza com a humilhação e o rebaixamento do vosso irmão,
pois a maior caridade está em não humilhar o semelhante; por isso, deveis
praticá-la sem que a vossa esmola humilhe a quem a recebe. Procurai dar aos que
precisam e, quando vos perguntarem se fostes vós o autor da esmola, negai.
Jamais deveis fazer ostentação do vosso altruísmo, da vossa generosidade,
ocultai o mais que puderdes os benefícios que praticardes. E assim vos
aconselho, porque aos olhos de Deus muito se recomendam os que não fazem valer
os seus sentimentos piedosos.
Sede fortes, mas a vossa força deve
consistir em proclamar a vossa fraqueza e a vossa ignorância, em confessar os
vossos erros e as vossas faltas, e sempre que errardes, não vos envergonheis em
dizer bem alto - errei; quando não souberdes, não vos envergonheis em declarar,
seja diante de quem for - não sei, ignoro.
Procurai caminhar sempre de acordo
com estes ensinamentos, marchai de conformidade com estas lições, que fui
incumbido de dar-vos, segui pela vida sempre guiados por essa luz, que Deus me
autorizou a repartir convosco; ide na vossa jornada sempre a pensar no que vos
digo hoje - e haveis de ver como a vida se tornará suave e doce para vós,
vereis como os espinhos que vos fazem sangrar os pés desaparecerão, como por
encanto, dos vossos olhos.
Ide! Ide! Meus amigos e companheiros,
meus irmãos muito amados, ide! Que a vossa jornada se tornará mais fácil se
puserdes na vossa frente essa luz que o Altíssimo vos envia pela minha boca.
Ide! Meus irmãos, ide com essa luz e
procurai aumentá-la, fazei com que o seu brilho cresça a cada instante, a cada
hora e a cada dia; ide até o fim da vossa peregrinação, e, quando a terra se
abrir para receber o vosso corpo, quando a vossa alma desprender o vôo para a
vida eterna, que essa luz vos circunde a fronte, a fim de que, ao vos
aproximardes do mundo onde habitam os que na vida foram guiados por ela, possam
eles reconhecer-vos e correr pressurosos para vos receberem.
São estes os desejos do vosso irmão
que muito vos ama,
Agostinho
Agosto de 1915
Informações
complementares
Agostinho, doutor da Igreja, nasceu em Tagasta, na
África e morreu no ano 430. Seu pai, de nome Patrício, era pagão. Sua mãe foi
Santa Mônica.
Lecionou em Cartago e depois seguiu para a Itália. Em
Milão aproximou-se de Santo Ambrósio, cujos sermões o impressionaram, tendo,
então, sido batizado pelo mesmo, pois antes disso, Agostinho fora adepto dos maniqueus.
Desempenhou o mandato de bispo em Hipona, onde fundou
um mosteiro, que ficou habitando.
O pensamento de Santo Agostinho exerceu enorme
influência em sua época, e subsistiu ainda na história ulterior do
cristianismo, formado num vasto sincretismo religioso e filosófico, que
abrangia desde os dogmas cristãos até às concepções de Platão.
É um dos mais altos expoentes da teologia e filosofia
cristãs. Escreveu inúmeras obras, abordando todos os problemas complexos da
consciência religiosa. Entre as mesmas são muito citadas "Confissões"
e "Cidade de Deus".
página 157 do livro ‘Emissários da Luz e da Verdade’
1ª Edição 1959
Ed. Divino Mestre - R RJ
Santo Agostinho participou
ativamente da Codificação Espírita.
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