06) As
relações do Médium
com o
Mundo Invisível
por Indalício
Mendes
Reformador
(FEB) Julho 1958
O
médium é valioso instrumento do Espiritismo, quando orientado pela Doutrina
Espírita e esclarecido pelo Evangelho. Há médiuns espíritas e médiuns
não-espíritas. Os médiuns espíritas seguem o roteiro traçado por Allan Kardec e
procuram subordinar-se às determinações doutrinárias, a fim de seu trabalho ter
plena concordância com os ensinamentos doutrinários. A condição de espírita é
estabelecida pela obediência à Doutrina. O valor das manifestações, sejam elas
de que natureza forem, é aferido pela identidade que tiverem com fatos
verificados ou verificáveis, assim como pela essência moral que revelarem ou
pelo conteúdo que possuírem. Pode um médium ser bem intencionado e servir de
joguete a Espíritos de suposta superioridade moral e intelectual, que sejam, na
verdade, diletantes, burlões e fantasistas, empenhados em pregar ideias
extravagantes, teorias absurdas ou ideologias faltas de base. Há criaturas
muito fáceis de crer em tudo que não compreendem ou compreendem mal. Permanecem
na superfície e são incapazes de se aprofundar no exame atento do que veem, leem
ou ouvem. Ao Espiritismo não agrada a fé cega, pois recomenda a fé esclarecida
pela razão.
Se
o observador se mantém tranquilo em face das manifestações e comunicações
mediúnicas cuja possível origem desconhece, e não tem conhecimento seguro da
idoneidade do médium, estará menos arriscado a equivocar-se do que aquele que, deslumbrado,
não se dá ao trabalho do discernimento. É imprescindível, contudo, não
apresentar-se forrado de preconceitos refratários à inteligente compreensão dos
fenômenos e saiba observar, não prejulgando o trabalho medianímico nem afogando
o raciocínio em prevenções pueris. Se não alienarmos as faculdade de reflexão e
análise, assistidas pela razão, e indispensáveis à possibilidade de obter
conclusões definitivas e corretas acerca do fato mediúnico em observação,
estaremos aptos a apreciar com justeza o trabalho do médium, sem nos deixarmos
enganar por falsas aparências e sem incorrermos no erro de cometer injustiça com o médium. Na maioria dos casos, os médiuns
são sinceros e seu trabalho exprime realmente a verdade do que ocorre na
manifestação. Se o médium possui idoneidade moral e as manifestações, por sua
natureza intrínseca e extrínseca, revelam o alto equilíbrio de sua mediunidade,
nada há que recear ou duvidar. O que desejamos, com estas considerações, é
deixar claro que a ninguém mais do que a nós interessa banir os casos de
mistificação ou identificar as manifestações de puro animismo.
Os
trabalhos mediúnicos escrupulosamente controlados e superiormente orientados
estão acima de dúvidas, embora os adversários do Espiritismo, notadamente a
alta clerezia, estejam sempre empenhados em ver embustes e fraudes em tudo,
ainda que não logrem comprovar honestamente suas mal-intencionadas suspeitas...
Sabemos que a nossa condição de espíritas não nos tira o dever de
imparcialidade na apreciação do mediunismo. E por isto, porque temos a certeza
inabalável da veracidade da Doutrina e dos fenômenos espíritas, não admitimos
venha nossa crença a ser posta em xeque por falsos médiuns ou por médiuns
desatentos, pouco escrupulosos ou, embora de boa-fé, vítimas inconscientes do
animismo. O estudo da notável obra de Aksakof – “Animismo e Espiritismo” -
impõe-se também àqueles que desejarem colocar-se numa posição mais sólida
dentro da Terceira Revelação.
O
médium familiarizado com a Doutrina Espírita é o primeiro a querer evitar
dúvidas quanto à honestidade do seu trabalho mediúnico.
Graças a Deus, contam-se em maior número os médiuns com tal sólido critério,
pois não ignoram que os escolhos da mediunidade somente poderão ser contornados
com as luzes da Doutrina e do Evangelho. Eis porque não podem esquecer-se, em
nenhum instante, de que se encontram na vanguarda do contato com o mundo
invisível.
*
Todos
fazem uso do livre arbítrio: nós, Espíritos encarnados, e os Espíritos libertos
do corpo somático. A ação do livre arbítrio
permanece respeitada; quer no mundo físico, quer no mundo espiritual. Tanto podem os Espíritos
exercer influência sobre as criaturas humanas, como podem estas influenciar também, dentro de um
limite compreensível e em certas circunstâncias, os Espíritos. Se o médium
possui qualidades morais fortes, estará resguardado da ação negativa de
Espíritos inferiores. A moralidade do médium é, por conseguinte, fator
importante na sua vida e no seu trabalho mediúnico. Graças a ela é que podem
firmar-se as relações do médium com os Espíritos, pois atrairá
as entidades do Além que a ele se mostrarem mais afins.
Como
complemento da educação doutrinária que os livros de Allan Kardec proporcionam,
o médium deve também estudar o importante subsídio que “Os Quatro Evangelhos”
de J. B. Roustaing fornece à consolidação da cultura espírita, porque nessa
obra está exposta com admirável clareza “o Espiritismo Cristão”. Kardec e
Roustaing formam um elo poderoso na contextura moral e doutrinária do
Espiritismo.
*
Relativamente
às relações dos médiuns com o mundo invisível, recordamos as seguintes palavras
do Codificador, em “O Livro dos Médiuns”, 25ª edição, pág. 246: “Nem sempre basta que uma assembleia seja
séria, para receber comunicações de ordem elevada. Há pessoas que nunca riem e
cujo coração, nem por isso, é puro. Ora, o coração, sobretudo, é que atrai os
bons Espíritos. Nenhuma condição moral exclui as comunicações espíritas; os
que, porém, estão em más condições, esses se comunicam com os que lhes são
semelhantes, os quais não deixam de enganar e de lisonjear os preconceitos. Por aí se vê a influência
enorme que o meio exerce sobre a natureza das manifestações inteligentes. Essa influência,
entretanto, não se exerce como o pretenderam algumas pessoas, quando ainda se
não conhecia o mundo dos Espíritos, qual se conhece hoje, e antes que
experiências mais concludentes houvessem esclarecido as dúvidas. Quando as
comunicações concordam com a opinião dos assistentes, não é que essa opinião se
reflita no espírito ao médium, como num espelho; é que com os assistentes estão
Espíritos que lhes são simpáticos, para o bem, tanto quanto para o mal, e que
abundam nos seus modos de ver. Prova-o o fato de que, se tiverdes a força de
atrair outros Espíritos, que não os que vos cercam, o mesmo médium usará de linguagem absolutamente
diversa e dirá coisas muito distanciadas das vossas ideias e das vossas convicções. Em
resumo: as condições do meio serão tanto melhores, quanto mais homogeneidade houver para o
bem, mais sentimentos puros e elevados, mais desejo sincero de instrução, sem ideias
preconcebidas."
*
Está
evidenciado, pois, que o médium pode sofrer a influência do meio. Suas relações
humanas, os hábitos que cultiva, os ambientes que se apraz de frequentar, as
conversações que alimenta, a linguagem que usa no meio profano, tudo isto pode
ajudá-lo a subir ou a descer, conforme o caso. Quanto mais simples e puro for o
ambiente em que gosta de estar, maiores serão as probabilidades de convergirem
sobre a sua força mediúnica benéficas influências. Do mesmo modo, se não vive
em ambiente salutar, as influências poderão ser negativas, deprimentes, más,
perigosas. Torna-se oportuno frisar que o médium está sempre mais vigiado de
perto do que aquele que não tem o dom da mediunidade. Os Espíritos sabem quais
são as criaturas que lhes podem servir de instrumento no mundo físico e sempre
as acompanham, uns, no justo e nobre anseio de prestar serviços à causa do bem;
outros, animados de desejos impuros, tendentes para o mal. Por isto, o médium
tem de precatar-se e defender-se. E a melhor defesa está em permanecer fiel à
Doutrina Espírita e ao Evangelho. É de boa prática dedicar diariamente, depois
da leitura atenta de um trecho de “O Evangelho segundo o Espiritismo”, pelo
menos meia hora de cuidadosa e profunda meditação. Pensar no Bem, afastar
quaisquer pensamentos profanos, mentalizar a figura excelsa de Jesus, nunca
pregado na cruz, mas gloriosamente vivo, sereno e firme, os olhos voltados para
o infinito, como símbolo de todas as mais dignificantes
virtudes que a Humanidade conhece e reverencia. O médium, principalmente, tem
necessidade da meditação. Todavia, deve aprender a meditar sem se entregar à
concentração que propicia manifestações mediúnicas. A meditação nada tem com o “transe”.
Deve exercer-se com o sentido de banhar o espírito com as luzes evangélicas,
através das quais se põe em contato com os fluidos de Entidades empenhadas em
conduzir a Humanidade a destinos melhores. Durante os minutos da meditação,
deve esquecer tudo quanto se relaciona com a vida física, mantendo o pensamento
dirigido para o Alto, em busca da caridade do Mestre. Fugir ao misticismo, mas adquirir o hábito da meditação cotidiana, esta a
regra. No começo, a tarefa será dificílima, quase irrealizável, porque os pensamentos mais
confusos e contraditórios surgirão para impedir a meditação. Não importam as
dificuldades. Deve insistir, lutar pela consecução desse objetivo. Dentro em
pouco, o pensamento estará disciplinado e o espírito se sentirá feliz em
esquecer um pouco as coisas terrenas, beneficiando-se com uma paz tonificante,
que lhe dará maior ânimo para as lutas da vida material.
*
Tenhamos,
pois, a maior simpatia com os médiuns, mas não os estraguemos com excessos de
elogios, porque, afinal, eles não são santos, mas criaturas como nós, que
trouxeram, ao encarnarem, deveres que precisam de ser respeitados e
compromissos que devem ser totalmente cumpridos. Tratemos a todos como amigos e
irmãos, sem incensá-los, porque, em tal caso, estaremos concorrendo para prejudicá-los
e não daremos ao Espiritismo a solidariedade e a ajuda que ele espera de
quantos o aceitaram espontaneamente.
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