Pio X quando ainda cardeal
18
‘Revelação dos Papas’
(Obra Mediúnica)
- Comunicações d’Além Túmulo -
Publicada sob os auspícios da
União Espírita Suburbana
Rua Dias da Cruz 177, Méier
Officinas Graphicas d’A
Noite
Rua
do Carmo, 29
1918
Pio X, papa
Apresenta-se um
homem idoso, gordo, de estatura mediana e fisionomia simpática.
O espírito traja
vestes sacerdotais e empunha, com a mão esquerda,
o cetro pontifical, conservando o braço
direito erguido, em atitude de quem abençoa.
Está circundado de
grande irradiação luminosa. O seu aspecto é deslumbrante!
_______________
Fui papa na Terra e hoje vivo feliz,
mas um pesar acompanha o meu espírito por toda parte; é não ter podido, na vida
terrena, compreender o que hoje compreendo.
Conservei-me sempre crente e fiel
cumpridor da lei da Igreja; entretanto não me acho tão feliz como desejara, por
ver que as verdades contidas nos dogmas, muito longe estão da realidade e o que
ensina a Igreja é muito pouco para levar o espírito da criatura à felicidade
completa. E sinto grande mágoa por não ter podido pregar o que hoje reconheço
como a única verdade.
Se não fora a minha fé ardente, se
não fora o meu zelo e a minha caridade, e, sobretudo, a minha humanidade, o meu
espírito estaria a estas horas mergulhado nas trevas e não poderia, como me
acontece neste momento, contemplar os esplendores da vida espiritual.
O que sou neste instante devo a mim
mesmo, ao meu esforço próprio, à minha firmeza e sinceridade, não provém do
fato de haver sido chefe de uma Igreja; quisera antes ter sido simples pastor,
camponês ou aldeão, a ter ocupado tão elevado cargo. É isso uma verdade que não
posso deixar de dizer, porque no mundo dos espíritos a verdade se impõem com
tal força e vigor que a eles ninguém pode fugir.
Digo e repito; quisera antes ter sido
mendigo, pobre e desconhecido, a ter-me sentado numa cadeira onde jamais se
deveria proferir outra palavra que não fosse a da verdade pura, verdade que
neste momento resplandece aqui, diante dos meus olhos.
Lamento, meus irmãos, que, cegos como
ainda estais, não possais ver, com a clareza com que vejo, todas as coisas
espirituais, não possais ainda compreender o que é tão fácil e simples; lamento
que estejais ainda tão presos aos preconceitos e interesses materiais, que
tolhem vossa razão e empanam o brilho da vossa inteligência. Dia virá, porém, e
não está longe, em que Deus vos abrirá os olhos, e então podereis ver quanto é
falsa a vossa lei, quão errôneas as vossas crenças, absurdas as vossas
conclusões e descabidos os vossos arrazoados.
Deus é sempre complacente e misericordioso,
por isso não vos castigará, apenas vos fará sentir as decepções que
experimentam todos os que penetram nestas luminosas regiões, onde só vivem os
que já não possuem dúvidas sobre a grande verdade da reencarnação do homem e
das sucessivas existências que percorre para depurar o seu espírito e assim,
poder um dia merecer a graça de ouvir as harmonias celestes e também banhar-se
na luz divina, a única que nos guia nos momentos de aflições e de desânimos.
Sou feliz, já vos disse, mas a consciência
me acusa a cada instante, dizendo - “Como é diferente a verdade que hoje
contemplas da que outrora ensinaste!” E isto me faz sofrer.
Tenho desejo de voltar ao mundo e
novamente sentar-me naquela cadeira e do alto dela proclamar a pura verdade, a
absoluta verdade: - Deus é um só e infinitamente misericordioso, infinitamente
bom, infinitamente justo, e, por isso, não existe inferno nem penas eternas,
nem pecados, nem remissão; o espírito expurga as suas faltas revendo a sua
própria consciência. Aí está o inferno!
O arrependimento sincero e a prece
também sincera, que sai dos lábios da criatura, são os únicos meios de salvação
e de resgate.
As existências são dadas ao homem
para que repare em uma o mal feito na que a precedeu.
“A cada um por suas obras”.
Eis as palavras do Mestre dos
mestres; eis a justiça de Deus!
Adeus.
Pio X, papa
Julho de 1916
Informações complementares
Nome: Giuseppe Melchior Sarto. Seu papado durou de 04 de agosto de 1903 até
20 de agosto de 1914.
Viveu numa época denominada por
Eamon Duffy como a ‘época da intransigência’ Todas as terras de propriedade do
Vaticano já tinham sido incorporadas à República italiana e seus contornos eram
muito aproximadamente ao que conhecemos hoje. Isso fez com que o papa
permanecesse com contínuo sentimento de exclusão em relação ao restante da
Europa.
Por outro lado, o papa buscava apoio
no dogma da infalibilidade papal para reafirmar-se junto aos crentes de sua
religião. O embate entre a ciência e a religião agudou-se dentro de limites
antes inimagináveis.
Sarto era um homem de hábitos
simples, filho de camponeses. Ainda segundo Duffy, Pio X era ‘de humanidade inquieta, de uma forte piedade
emocional e tinha um senso ávido da prioridade dos temas pastorais’. Seu
pontificado caracterizou-se pela cordialidade e acessibilidade apesar de sua
permanente indignação em relação à recém formada Itália e por não transigir
quanto às ‘verdades católicas’ ao afirmar: “A
sociedade está doente... a única esperança, o único remédio, é o papa”(!?!)
Fonte: ‘Santos e Pecadores’ por Eamon
Duffy (Ed. Cosac & Naify 1998)
Nenhum comentário:
Postar um comentário